ABSURDO

"Humilhada", diz mãe que recebeu voz de prisão ao se rebelar contra acusado de assassinar seu filho

Mulher teve sua prisão decretada por juiz durante audiência que julgava o caso após falar que o acusado “não era ninguém” para ela; relembre

"Humilhada", diz mãe que recebeu voz de prisão ao se rebelar contra acusado de assassinar seu filho.A vítima Sylvia Mirian Tolentino de OliveiraCréditos: Reprodução/TV Centro América
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A cabelereira Sylvia Mirian Tolentino de Oliveira falou pela primeira vez, nesta quarta-feira (25), sobre a situação que chocou a web na última semana. Em um vídeo gravado em setembro, mas que veio à tona nas redes somente no último dia 17, a mulher recebe voz de prisão durante um audiência que julgava o assassinato de seu filho, por se expressar contra o acusado.

Sylvia disse, em entrevista ao jornal “MTTV 1”, da TV Centro América, ter se sentido “humilhada e caluniada”, pois estava ali pela Justiça de seu filho.

“Você chega na frente de um juiz, de uma autoridade que é estudada para isso, para poder te defender, mas você é julgada por uma coisa que não fez. Você recebe voz de prisão”, afirmou. “Ele ficou lá dentro e eu saí presa.”

A cabeleireira explicou que acreditava que aquele era um lugar seguro para se expressar e, por isso, desejava falar sem ser interrompida, mas não imaginou que a situação se voltaria contra ela. Ela disse que “ficou com muita vergonha, triste e magoada” e que espera que o juiz “reconheça que errou”.

A promotora do caso, Marcelle Rodrigues da Costa e Faria, explicou ao programa que, após a morte do filho, a cabeleireira não quis participar de nenhum ato processual, pelo trauma que o crime deixou em sua vida. Ela afirma que o fato de Sylvia ter aceitado ir a audiência era “uma oportunidade do sistema acolher essa vítima”, desperdiçada pelo magistrado.

“Há uma política institucional de atender e dar dignidade aos familiares de vítimas e em nenhum momento isso foi seguido pelo magistrado, além do que decretar uma prisão de conduta atípica é abuso de poder”, disse Marcelle.

Relembre o caso

O filho de Sylvia foi morto a tiros no dia 10 de setembro de 2016 e, desde então, o réu responde em liberdade. O momento gravado em vídeo era da primeira audiência do caso, ocorrida em setembro deste ano, sete anos depois do assassinato.

Quando perguntada pela promotora do caso se sentiria confortável em depor na frente do acusado, a mãe da vítima disse que, para ela, o réu “não era ninguém”.

Em seguida, o juiz Wladimir Perri, da 12ª vara Criminal de Cuiabá/MT, repreendeu a mulher, solicitando que mantivesse “serenidade e inteligência”. Ele encerrou a audiência, o que fez com que a mãe se levantasse bruscamente da cadeira onde estava, jogasse um copo de plástico no chão e dissesse ao réu que “da justiça dos homens você escapou, mas da justiça Deus não escapa". Foi então que recebeu voz de prisão.

A mulher permaneceu no fórum por mais quatro horas, quando foi encaminhada para a delegacia para prestar depoimento. O delegado não lavrou flagrante, pois concluiu que não havia provas.

“O juiz exigiu um comportamento daquela senhora, sem compreender a situação que ela estava. Então, eu intervi de novo, dizendo que eu queria ouvi-la, mas novamente o juiz exigiu da vítima inteligência emocional. Novamente, pedi que a vítima pudesse contar a história dela, mas o juiz não quis e encerrou a audiência”, narrou a promotora do caso.

No 18 de outubro, um dia após o vídeo vir à tona, a Corregedoria-Geral da Justiça de Mato Grosso abriu uma investigação para apurar a atitude do juiz. O pedido de apuração, segundo a corregedoria do caso, foi feito pelo próprio magistrado, Wladymir Perri, ao Departamento Judiciário Administrativo (DJA), setor responsável pelo recebimento, autuação e processamento de feitos administrativos.