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Papa alfineta Milei (e Bolsonaro): “Messias só existe um, o resto são palhaços messiânicos”

Em um recado aos jovens argentinos, que se inclinam ao candidato de extrema direita, Francisco advertiu para os "flautistas de Hamelin"

Francisco e a jornalista Bernarda Llorente. Foto: Vatican Media
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Em uma entrevista à jornalista Bernarda Llorente, da agência pública de notícias argentina Télam, o papa Francisco soltou uma frase que serve como uma alfinetada aos líderes bufões da extrema direita –tanto Javier Milei em seu país natal quanto Jair Messias Bolsonaro no nosso. "Todos fomos jovens sem experiência e às vezes os meninos e meninas se aferram a milagres, a messias, a que as coisas se resolvam de forma messiânica", advertiu. "Messias só existe um que nos salvou a todos, os outros são todos palhaços messiânicos".

O aventureiro de extrema direita Milei, que se apresenta como um salvador da pátria para a crise que vive o país vizinho, é o favorito entre os jovens argentinos, segundo as últimas pesquisas. Algumas delas o apontam como o favorito de 39,5% das intenções de voto dos argentinos entre 16 e 34 anos. O recado do papa foi diretamente para eles.

"Ninguém pode prometer a resolução de conflitos se não é sair da crise enfrentando-a, e não sozinho", ensinou. "Imaginemos qualquer tipo de crise política em um país que não sabe o que fazer, na Europa há vários... O que se faz? Buscamos um messias que venha nos salvar de fora? Não. Buscamos onde está o conflito, o agarramos e o resolvemos. Lidar com os conflitos é um aprendizado. Mas sem conflitos não se vai para adiante."

Francisco também advertiu para os "flautistas de Hamelin", os encantadores que conduzem ao fundo do poço, em outra provocação aos líderes histriônicos de extrema direita que se apresentam como "apolíticos", como fazem Milei e Bolsonaro. "As crises são como vozes que nos mostram onde é preciso agir. Por outro lado, os problemas que algumas vezes estão um pouco escondidos ou guardados, são como o flautista de Hamelin, tocam a flauta, você acredita que é uma flauta, vai atrás e todos se afogam", disse, comparando à célebre fábula dos irmãos Grimm onde o flautista atrai os ratos para um rio.

"Tenho muito medo dos flautistas de Hamelin, porque eles são encantadores. Se fossem de serpentes eu os deixaria de lado, mas são encantadores de gente... E terminam afogando-as", disse Francisco. "Gente que acredita que se sai da crise dançando ao som da flauta, com redentores aparecidos de um dia para o outro. Não"


"Eu tenho muito medo dos flautistas de Hamelin, porque eles são encantadores. Se fossem de serpentes eu os deixaria de lado, mas são encantadores de gente... E terminam afogando-as", continuou. "Gente que acredita que se sai da crise dançando ao som da flauta, com redentores aparecidos de um dia para o outro. Não. A crise deve ser assumida e superada, mas sempre enfrentando-a. As grandes ditaduras nascem de uma flauta, de uma ilusão, de um encanto do momento. E depois dizemos: 'que pena, nos afogamos todos'."

O papa Francisco fez questão de dizer que não é comunista. "Às vezes quando me escutam dizer as coisas que escrevi nas encíclicas sociais, dizem que o papa é comunista. Não. O papa pega o Evangelho e diz o que diz o Evangelho. Já no Antigo Testamento o Direito hebreu pedia que se cuidasse das viúvas, dos órfãos e do estrangeiro. Se uma sociedade cumpre estas três coisas já é fenomenal, porque cuida de situações-limite da sociedade, e se cuida das situações-limite, vai se encarregar das outras também", disse.

"Quando se começa a contratar sem pagar os direitos e a condenar o futuro das pessoas à escravidão, aí o trabalho começa a ficar doente. E, em vez de dignidade, o trabalho lega escravidão. Temos que estar muito atentos a isso. E deixo claro que não sou comunista, como dizem alguns. O papa segue o Evangelho."

Leia a íntegra da entrevista com o papa Francisco aqui. O vídeo completo está abaixo.