O jornalista Paulo Vinícius Coelho - o PVC - defendeu a necessidade de se escrever um livro sobre Fernando Diniz. Os motivos são ótimos e valem para outros treinadores também. Seria uma forma de preencher uma lacuna na historiografia do futebol brasileiro, principalmente na parte tática. Não temos nada escrito sobre os métodos de trabalho de Zagallo - o maior vencedor do Mundo - e de outros grandes treinadores brasileiros como Felipão - campeão do Mundo e presente em três semifinais de Copa - Luxemburgo - que dirigiu até o Real Madrid - Oto Gloria - terceiro do Mundo em 1966 com Portugal etc.
Sem uma brasileira, ficamos presos, lembra PVC, ao linguajar português, com extremos e tomada de decisão em lugar de pontas e escolha. E há outros termos, tão amplificados por Adenor Bachi, como a zona 14. Cria-se um vocabulário baseado na transcrição direta, sem uma adaptação à língua portuguesa. É algo parecido com a liguagem dos computadores com incializando e restartando. Ou verbos como performar, que veio substituir o desempenhar. Outro dia um jogador/comentarista disse que o Botafogo, que vencia o Palmeiras por 3 x 0, estava "mentalizado". Talvez por praga de Luís de Camões, o Palmeiras virou para 4 x 3, no último lance do jogo, algo que um time "mentalizado" não permitiria.
Um livro sobre Fernando Diniz seria bacana também por ele ser um treinador que vai - pelo menos em um aspecto - na contramão da banda dos contentes. Ele prefere ter muitos jogadores agrupados perto da bola, ao contrário de outros, que buscam o jogo posicional, com jogadores do outro lado da jogada, esperando uma inversão. Daria um bom capítulo.
Outro ponto do livro - talvez o principal - é contar o ano de 2023, quando Diniz ganhou os dois títulos mais importantes de sua carreira, o Carioca e depois a Libertadores. Na verdade, sejamos honestos, os únicos títulos importantes de sua carreira. Tem muita coisa legal a dizer, só os 5 x 1 sobre o River seria um belo capítulo. Ou os 4 x 0 sobre o Flamengo, depois de perder o primeiro jogo por 2 x 0.
O que o livro não pode é esconder os fracassos de Diniz. Seria muito bom buscar uma explicação para o Brasileiro de 2020, quando o São Paulo, na 27ª rodada do Brasileiro, estava na liderança, com sete pontos de vantagem e engatou seis partidas se vitória, com quatro derrotas. perdeu para Bragantino, Santos, empatou com Furacão, foi goleado pelo Inter, empatou com Coritiba e perdeu para o Goianiense. E Diniz não conseguiu fazer nada tática, técnica ou mentalmente para deter a derrocada, que terminou, é claro, com sua demissão.
Foi parecido com o Vasco, que, após uma queda incrível não conseguiu o acesso. E há também fracassos a serem contados em passagens pelo Furacão, Santos e o próprio Fluminense. Uma série de fracassos que podem ter servido como aprendizado para o grande ano de 2023.
É preciso falar da capacidade de Diniz em melhorar jogadores, como fez com Caio Paulista, na recuperação de John Kennedy, na utilização de Ganso, um jogador que os "jênios" diziam não poder jogar por não saber recompor. Há muitos méritos em Diniz, mas não se pode esquecer, por exemplo, o assédio moral que cometeu com Tchê Tchê, ainda no São Paulo. Aliás, o episódio teve a ver com a queda vertiginosa do São Paulo.
Enfim, longe dos haters e igualmente longe de uma hagiografia, poderia ser um grande livro. Necessário e atual.