SEM SUSTENTAÇÃO

Os generais vão abandonar Bolsonaro?

Segundo pesquisador da área de Defesa, parte dos militares de alta patente se uniu ao ex-presidente por conveniência; agora, o cenário mudou: "o oficialato quer que o Bolsonaro se dane"

Militares de alta patente sempre tiveram prevenção em relação a BolsonaroCréditos: Alan Santos/PR
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Já não é novidade que a estratégia da defesa de Jair Bolsonaro, que optou por "rifar" os militares próximos a ele, alegando que o ex-presidente não seria o principal beneficiário caso o golpe fosse efetivado (ainda que as investigações da Polícia Federal apontem o contrário), deixou muitos de seus aliados e ex-aliados insatisfeitos. Mas estes não seriam os únicos.

Na verdade, a união de militares de alta patente com o projeto político de Bolsonaro foi uma espécie de "casamento de conveniência". Segundo o pesquisador do Instituto Tricontinental e do Grupo de Estudos de Defesa e Segurança Internacional (Gedes), Ananias Oliveira, a união se consolidou a partir da necessidade identificada nas Forças Armadas de se opor politicamente à Comissão Nacional da Verdade (CNV), instituída em maior de 2012 pelo governo Dilma Rousseff. 

"Ele [Bolsonaro] foi a solução que era possível naquele momento, era alguém já estava com uma certa mídia. Longe, naquela época, de ser aquele que teria popularidade para ser presidente, mas eles precisavam de um megafone para a estratégia contra a Comissão Nacional da Verdade", conta Oliveira, em entrevista ao Outras Palavras TV, observando que a estratégia de construção de uma narrativa contra a CNV durou aproximadamente um ano.

Segundo o pesquisador, Bolsonaro em si, mesmo não sendo querido pela maioria do oficialato, não era uma questão que preocupava. "O problema deles é que algumas pessoas realmente se tornaram bolsonaristas. E aí, pessoas ligadas à figura de Bolsonaro o colocam como líder.

"O oficialato quer que o Bolsonaro se dane"

Ainda que ideologicamente haja semelhanças entre o que defendem boa parte dos oficiais alinhados e os não alinhados ao ex-presidente, ali muitos militares identificaram um risco. "O bolsonarismo é aquele reacionário que galvaniza no Bolsonaro os seus desejos e motivações políticas. E isso, para eles, é ruim, porque tira o seu poder", aponta. 

No entanto, no cabo de guerra entre Bolsonaro e os interesses dos militares mais graduados, Oliveira acredita que um lado é vencedor. O ex-ajudante de ordens do ex-presidente, Mauro Cid, ainda que demonstre lealdade ao seu ex-chefe, não ficaria contra quem "tem poder de barganha e 'bala na agulha'", segundo o pesquisador, "por mais que ele goste do Bolsonaro".

Em função disso, não só boa parte dos militares de alta patente não se importaria que Bolsonaro fosse preso como uma parcela significativa vê nisso uma forma de isolar alguém que só foi incorporado à "família" por uma questão de conveniência para chegar ao poder.

"O oficialato quer que o Bolsonaro se dane. Porque para ele não é interessante, e estou falando do Bolsonaro, mas serve para qualquer um que surja do estilo dele" pontua Oliveira.

Confira a entrevista abaixo.

 

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