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Lima, o “Curinga da Vila”: um ídolo eterno – Por Arthur Serra

Após pendurar as chuteiras, Lima seguiu dedicado ao Santos, provando que sua ligação com o clube ia além das quatro linhas

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Lima, o “Curinga da Vila”: um ídolo eterno – Por Arthur Serra
O futebol se despede de Lima. Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC

O futebol brasileiro viu partir, nesta segunda-feira (3), um de seus heróis mais versáteis. O Santos Futebol Clube perdeu um dos maiores ídolos de sua história, que se transformou em uma lenda eterna na memória de todos: Antônio Lima dos Santos ou simplesmente Lima, o “Curinga da Vila”.

Para os torcedores do Santos e para todos que amam o esporte, Lima nunca partirá de fato. Sua história está cravada na memória do futebol, na alma da Vila Belmiro e nos corações daqueles que tiveram o privilégio de conhecê-lo ou vê-lo jogar.

Lima foi mais do que um jogador, foi um símbolo de inteligência tática, de entrega incondicional e de paixão alvinegra. Versátil como poucos, ele atuou em quase todas as posições do campo, com exceção do gol. Era zagueiro? Volante? Lateral? Sim, era tudo isso e mais um pouco. Sua capacidade de se adaptar e brilhar em diferentes funções lhe rendeu o apelido que o acompanharia para sempre: o “Curinga da Vila”.

Nascido em São Sebastião do Paraíso, Minas Gerais, Lima começou sua trajetória no futebol profissional pelo Juventus-SP, tradicional clube da Mooca – bairro da cidade de São Paulo –, onde seu talento chamou atenção pela capacidade de jogar em diversas posições com a mesma eficiência. Sua técnica refinada, aliada a uma leitura de jogo excepcional, logo despertou o interesse de clubes maiores. Não demorou para que o Santos enxergasse naquele jovem polivalente o potencial para brilhar entre os gigantes do futebol brasileiro.

Chegou ao Santos em 1961, onde entrou em campo até 1971 e foi o quarto jogador com mais partidas pelo clube alvinegro. Fez parte da era de ouro do clube, integrando um time que parecia ter sido desenhado pelos deuses do futebol: Pelé, Coutinho, Pepe, Zito, Gilmar… e Lima, o homem que unia as peças, o operário de luxo. E sua importância não se media apenas em atuações brilhantes, mas nos troféus que ajudou a levantar, símbolos de uma era dourada que ele ajudou a construir.

Com o manto alvinegro, Lima conquistou duas Copas Libertadores da América (1962 e 1963), dois Mundiais Interclubes (1962 e 1963), cinco Taças Brasil (1961, 1962, 1963, 1964 e 1965) e seis Campeonatos Paulistas (1962, 1964, 1965, 1967, 1968 e 1969), títulos que eternizam seu nome na história do futebol.

Se com o Santos Lima conquistou o mundo, com a Seleção Brasileira ele eternizou seu nome na história do futebol. Foi campeão da Copa do Mundo de 1970, integrando o elenco da equipe que encantou o planeta e definiu o Brasil como o país do futebol.

Após pendurar as chuteiras, Lima seguiu dedicado ao Santos, provando que sua ligação com o clube ia além das quatro linhas. Atuou em funções administrativas e trabalhou com as categorias de base, transmitindo sua experiência, disciplina e amor pelo futebol às novas gerações. O mesmo espírito de liderança que demonstrava em campo agora guiava jovens talentos, ajudando a formar atletas e cidadãos com o mesmo orgulho de vestir o manto sagrado. Representou o Santos em eventos, atividades com torcedores tendo o mesmo entusiasmo de quando entrava em campo. Lima nunca deixou de ser um pilar do Santos, mesmo longe dos gramados, mostrando que sua influência no clube era tão duradoura quanto suas conquistas.

Porém, mais do que os troféus, Lima conquistou respeito. Era o tipo de jogador que não se escondia, que assumia responsabilidades, que jogava pelo time e para o time. Sua técnica refinada e sua disciplina tática foram fundamentais para o sucesso santista, dentro e fora do Brasil.

Hoje, o futebol chora, mas também celebra. Celebra a vida de um homem que honrou cada minuto em campo, que vestiu o branco e o preto com orgulho e que nos ensinou que o verdadeiro craque não é apenas aquele que faz gols ou dá passes geniais, mas aquele que entende o jogo em sua essência, que se doa por completo, que joga com o coração.

O Seu Pepe – José Macia –, outro grande ídolo do Santos, fez uma fala em suas redes sociais que refletiu a lembrança, a perda de seu amigo e ídolo dos torcedores santistas: “Descanse em paz, Lima. Todos nós, santistas de campo e de coração sofremos com esse rude golpe. Você foi o símbolo da garra e da técnica juntas. Perdemos um amigo e um guerreiro. O Santos Futebol Clube está inteirinho de luto e Pepe, seu companheiro de sempre, chora lágrimas doloridas. Adeus, amigo”.

O “Curinga da Vila” se foi, mas sua memória é eterna. O gramado da Vila Belmiro, as arquibancadas que o aplaudiram e cada santista que gritou seu nome sabem disso. Porque Lima não é passado, Lima é presente em cada história contada, em cada criança que sonha vestir o manto sagrado.

Ídolos não morrem, eles apenas mudam de lugar. Agora, Lima joga na memória de quem ama o Santos.

*Arthur Serra é historiador, mestre em História pela PUC-SP, pesquisador que trata das áreas de História Contemporânea, América Latina e Brasil. É também membro do Centro de Estudos de História da América Latina (CEHAL).

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.

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