Popular na alimentação da população brasileira, principalmente entre crianças, os biscoitos recheados estão associados à perda média de 39 minutos de vida por porção. Isso é o que mostra um estudo inédito sobre impacto combinado para a saúde humana e sustentabilidade dos principais alimentos consumidos no país, publicados nesta sexta-feira (9) na revista científica International Journal of Environmental Research and Public Health. A pesquisa foi realizada por pesquisadores das universidades de São Paulo (USP), do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Técnica da Dinamarca (DTU), e divulgado pela Agência Bori.
O estudo analisou os 33 alimentos que mais contribuem para a ingestão energética (quantidade de energia que um indivíduo obtém através do consumo de alimentos) dos brasileiros usando o Índice Nutricional de Saúde (HENI), que mede minutos de vida ganhos ou perdidos conforme as características nutricionais dos itens.
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Os resultados mostraram que o Índice Nutricional de Saúde médio no Brasil foi de -5,89 minutos, variando de -39,69 minutos para biscoitos recheados. Além dos biscoitos, também constaram com os piores colocados a carne suína (-36,09 minutos), margarina com ou sem sal (-24,76 minutos), carne bovina (-21,86 min) e biscoitos salgados (-19,48 min).
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Os biscoitos recheados fazem parte do grupo de alimentos ultraprocessados, que tiveram seu consumo disparado nos últimos anos. Uma pesquisa realizada em 2021 buscou investigar especificamente o consumo de biscoitos recheados pela população brasileira em 2019. Os pesquisadores constataram que o Brasil ocupava o 4º lugar como o maior vendedor de biscoitos em toneladas comercializados. Naquele ano, a população brasileira consumiu 7 kg de biscoitos por habitante, sendo 24,6% do tipo recheados doce.
Outros estudos mostram que não só os biscoitos recheados como outros alimentos ultraprocessados começam cada vez mais cedo a fazer parte da alimentação infantil. Uma pesquisa feita em 2016 mostrou que 96,2% das crianças entre 6 e 24 meses consomem biscoitos recheados.
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Diante disso, diversos estudos buscam investigar os perigos desse tipo de alimento para a saúde. Uma revisão com mais 45 estudos, publicada na revista científica The BMJ em fevereiro, revelou uma associação preocupante entre o consumo desses produtos e o desenvolvimento de 32 doenças. Já no mês passado, o epidemiologista e professor da Universidade de São Paulo (USP) Carlos Augusto Monteiro, responsável por criar o conceito "ultraprocessado" em 2009, alertou que esse tipo de alimento afeta todos os órgãos do corpo humano.
Uma das autoras do artigo, Marhya Júlia Silva Leite, afirma que os resultados do estudo chama atenção para a urgência de políticas públicas que não só informem sobre escolhas conscientes de alimentação, mas que também ampliam o acesso a alimentos saudáveis. “Esses achados reforçam que a melhoria dos sistemas alimentares exige ações que vão além da promoção de informações sobre escolhas saudáveis e sustentáveis – é necessário garantir acesso real, contínuo e economicamente viável a esses alimentos, especialmente para populações em situação de vulnerabilidade”, afirma.
Para a pesquisadora, o estudo pode contribuir para iniciativas que promovam a agricultura familiar, especialmente em relação à produção de alimentos in natura e minimamente processados, como frutas, feijões e legumes. “Políticas que incentivem a produção local e diversificada e o acesso a alimentos saudáveis podem ser orientadas por esses achados, promovendo sistemas alimentares mais resilientes, justos e sustentáveis. Também é uma oportunidade para valorizar a sociobiodiversidade brasileira, com estímulo ao cultivo e consumo de alimentos nativos que hoje são pouco explorados e consumidos em algumas regiões”, finaliza Leite.
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