Uma pesquisa publicada no periódico PLOS Medicine, conduzida por cientistas do Centro de Pesquisa em Epidemiologia e Estatística da Universidade Sorbonne e da Universidade Paris Cité, revelou uma associação preocupante entre o consumo de emulsificantes alimentares comuns e o aumento do risco de diferentes tipos de câncer.
O estudo fez parte do projeto NutriNet-Santé, de financiamento público, e analisou os dados de 92 mil adultos ao longo de seis anos.
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A metodologia envolvia o preenchimento diário, pelos participantes, de questionários detalhados sobre sua alimentação. Com base nessas informações, os pesquisadores calcularam a ingestão de aditivos alimentares conforme as categorias definidas pela autoridade europeia de segurança alimentar, que estabelece os limites seguros dessas substâncias de acordo com o Codex General Standard for Food Additives.
Os casos de câncer considerados na análise foram aqueles diagnosticados a partir de dois anos após o início do acompanhamento, estendido até outubro de 2021.
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Durante o estudo, foram identificadas pelo menos 60 substâncias emulsificantes consumidas regularmente pelos participantes. Entre elas, destacam-se os fosfatos, lactilatos, ésteres de poliglicerol, mono e diglicerídeos de ácidos graxos, celuloses, alginatos, amidos modificados e carrageninas.
Os dados mostraram que os indivíduos com maior consumo desses aditivos tendiam a ser mais jovens, com maior nível educacional e prática de atividade física.
No entanto, também consumiam uma quantidade maior alimentos ultraprocessados, como bolos, biscoitos, refrigerantes e produtos lácteos industrializados.
Ao todo, foram registrados 2.604 casos de câncer, sendo os mais frequentes os de mama (750 casos), próstata (322), colorretal (162), pulmão (124), pele (110) e linfomas (90).
Os resultados apontaram uma associação significativa entre a ingestão de mono e diglicerídeos de ácidos graxos (E471) e o aumento do risco de câncer de forma geral, especialmente os de mama e próstata.
Esses emulsificantes, derivados de óleos vegetais ou gordura animal, são utilizados para melhorar a textura e a estabilidade de alimentos processados, como pães, bolos, biscoitos, sobremesas congeladas (como sorvetes), margarinas e cremes vegetais.
Já a ingestão de carrageninas (E407 e E407a), comuns em produtos como leite UHT, leites vegetais, iogurtes e queijos, foi associada a um maior risco de câncer de mama.
No caso do câncer colorretal, os dados não apontaram uma correlação estatisticamente significativa.
Apesar de o câncer resultar da interação de múltiplos fatores, inclusive genéticos, o estudo oferece evidências importantes sobre os riscos da exposição frequente a aditivos não essenciais usados na produção de alimentos industrializados. Como destaca o portal Medscape, essas substâncias também estão ligadas à inflamação intestinal e à alteração da microbiota, o que pode contribuir para o desenvolvimento de outras doenças do sistema digestivo.