CÂNCER

Estudo mostra relação entre consumo de industrializados e riscos para ao menos três tipos de câncer

Uma pesquisa do projeto NutriNet-Santé associa o consumo de substâncias presentes em industrializados ao aumento dos riscos para diferentes tipos de câncer; entenda

Pães.Créditos: Unsplash
Escrito en SAÚDE el

Uma pesquisa publicada no periódico PLOS Medicine, conduzida por cientistas do Centro de Pesquisa em Epidemiologia e Estatística da Universidade Sorbonne e da Universidade Paris Cité, revelou uma associação preocupante entre o consumo de emulsificantes alimentares comuns e o aumento do risco de diferentes tipos de câncer.

O estudo fez parte do projeto NutriNet-Santé, de financiamento público, e analisou os dados de 92 mil adultos ao longo de seis anos. 

A metodologia envolvia o preenchimento diário, pelos participantes, de questionários detalhados sobre sua alimentação. Com base nessas informações, os pesquisadores calcularam a ingestão de aditivos alimentares conforme as categorias definidas pela autoridade europeia de segurança alimentar, que estabelece os limites seguros dessas substâncias de acordo com o Codex General Standard for Food Additives.

Os casos de câncer considerados na análise foram aqueles diagnosticados a partir de dois anos após o início do acompanhamento, estendido até outubro de 2021.

Durante o estudo, foram identificadas pelo menos 60 substâncias emulsificantes consumidas regularmente pelos participantes. Entre elas, destacam-se os fosfatos, lactilatos, ésteres de poliglicerol, mono e diglicerídeos de ácidos graxos, celuloses, alginatos, amidos modificados e carrageninas.

Os dados mostraram que os indivíduos com maior consumo desses aditivos tendiam a ser mais jovens, com maior nível educacional e prática de atividade física.

No entanto, também consumiam uma quantidade maior alimentos ultraprocessados, como bolos, biscoitos, refrigerantes e produtos lácteos industrializados.

Ao todo, foram registrados 2.604 casos de câncer, sendo os mais frequentes os de mama (750 casos), próstata (322), colorretal (162), pulmão (124), pele (110) e linfomas (90).

Os resultados apontaram uma associação significativa entre a ingestão de mono e diglicerídeos de ácidos graxos (E471) e o aumento do risco de câncer de forma geral, especialmente os de mama e próstata.

Esses emulsificantes, derivados de óleos vegetais ou gordura animal, são utilizados para melhorar a textura e a estabilidade de alimentos processados, como pães, bolos, biscoitos, sobremesas congeladas (como sorvetes), margarinas e cremes vegetais.

Já a ingestão de carrageninas (E407 e E407a), comuns em produtos como leite UHT, leites vegetais, iogurtes e queijos, foi associada a um maior risco de câncer de mama.

No caso do câncer colorretal, os dados não apontaram uma correlação estatisticamente significativa.

Apesar de o câncer resultar da interação de múltiplos fatores, inclusive genéticos, o estudo oferece evidências importantes sobre os riscos da exposição frequente a aditivos não essenciais usados na produção de alimentos industrializados. Como destaca o portal Medscape, essas substâncias também estão ligadas à inflamação intestinal e à alteração da microbiota, o que pode contribuir para o desenvolvimento de outras doenças do sistema digestivo.

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