Um grupo de cientistas de todo o mundo têm trabalhado em um método para “substituir memórias ruins” durante o sono.
Em estudo publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), os pesquisadores narram uma abordagem promissora para "enfraquecer memórias negativas" e ajudar na superação de traumas. O método é "simples": baseia-se em usar as mesmas palavras como "ativadoras" tanto de memórias negativas como de memórias positivas, para provocar uma espécie de "substituição inconsciente" entre as duas.
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Em um experimento que durou vários dias, realizado com um grupo de 37 pessoas, pesquisadores de diversos países pediram para que palavras aleatórias fossem associadas pelos participantes a "imagens negativas".
Para isso, a equipe selecionou bancos de dados que continham imagens positivas e negativas, como ferimentos, animais perigosos, paisagens calmas, crianças sorrindo etc.
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Num primeiro momento, pediu-se aos participantes que eles selecionassem imagens negativas para vincular a palavras "sem sentido", que haviam sido inventadas especialmente para o estudo.
No dia seguinte, após uma noite completa de sono (que consolida informações no cérebro), foram trazidas, novamente, as imagens positivas, que os pesquisadores tentaram associar a pelo menos metade das palavras usadas anteriormente no experimento.
Essa primeira fase serviria como uma tentativa de "reprogramar as lembranças" dos participantes por associação espontânea.
Na segunda noite do experimento, os cientistas reproduziram gravações das palavras aleatórias enquanto os participantes estavam na fase do "sono profundo" (REM, que ocorre cerca de 90 minutos após o início do sono e serve à transformação de memórias de curto prazo em memórias de longo prazo). Enquanto o experimento ocorria, a atividade cerebral dos participantes era monitorada por eletroencefalografia.
De acordo com o estudo, a atividade ligada ao processamento de memórias emocionais (a banda theta, oscilação neural ligada a função cognitivas como a da memória) aumentava em resposta às gravações reproduzidas, e obteve um volume "significativamente maior" quando os pacientes foram submetidos às associações positivas das palavras.
Na última fase do estudo, quando os cientistas distribuíram questionários a fim de avaliar o quanto os participantes mantiveram das memórias "ruins", concluiu-se que "as memórias positivas eram mais suscetíveis a aparecer", em associação às mesmas palavras, em relação às lembranças ruins.
O cérebro estava, de certa forma, "priorizando" as memórias boas, ainda que ambas estivessem ligadas à mesma palavra.
"Uma intervenção de sono não invasiva pode, portanto, modificar uma lembrança aversiva e as respostas afetivas. No geral, nossas descobertas podem oferecer insights relevantes para o tratamento de lembranças patológicas ou relacionadas ao trauma", informa o estudo.
Vale lembrar, no entanto, que o experimento foi realizado em um ambiente altamente controlado, com estímulos contínuos e específicos, e que não reflete de maneira integral o processo individual de formação de memórias.