POLUIÇÃO

O plástico escondido no que você come

Presentes no ar, na água e na comida que consumimos, os microplásticos representam um problema para o meio ambiente e seus impactos sobre a saúde humana começam a ser estudados mais profundamente

Escrito en SAÚDE el

O plástico é um material que aparece em quase tudo, desde embalagens, instrumentos hospitalares, elétricos até cosméticos, itens de higiene e remédios. A sua abundância, contudo, criou um problema para o meio ambiente e hoje a poluição causada por ele afeta a fauna marinha, contamina o solo e as águas subterrâneas, além de chegar até o nosso sistema digestivo. Sim, consumimos plástico muitas vezes sem saber.

Um estudo elaborado por pesquisadores da Ocean Conservancy e da Universidade de Toronto, publicado no início de 2024 na revista Environmental Pollution, encontrou partículas microplásticas em 88% das amostras de proteínas para consumo. Foram testados 16 tipos diferentes, incluindo frutos do mar, carne suína, carne bovina, frango, tofu e três diferentes alternativas de carne vegetal.

Segundo os autores, a exposição anual de um adulto nos Estados Unidos pode chegar a 3,8 milhões de microplásticos anuais, baseando-se nos níveis mais elevados encontrados em cada tipo de proteína individual e considerando as taxas médias de consumo de proteína comunicadas.

Também foi observado no estudo que alguns produtos altamente processados, como palitos de peixe empanados e nuggets de frango, continham “significativamente mais” partículas microplásticas por grama do que amostras minimamente processadas como peito de frango cru. O resultado sugere que o processamento de alimentos pode ser uma fonte adicional de contaminação.

Uma pesquisa italiana publicada em 2020 mostrou a presença de microplásticos dentro de frutas e vegetais. A absorção deste material se daria pelas raízes, segundo o estudo. Entre as frutas, a maior contaminação foi registrada nas maçãs e, nos vegetais, a cenoura era a mais afetada.

A água também não escapa. Uma análise feita por pesquisadores das universidades Columbia e Rutgers, nos EUA, publicada em 2023, avaliou cinco amostras de três marcas comuns de água engarrafada e encontraram entre 110 mil e 400 mil fragmentos de nanoplásticos por litro, com uma média de cerca de 240 mil.

Afinal, microplásticos fazem mal à saúde?

Microplásticos são pequenos fragmentos de plástico que medem até 5mm de comprimento. Estão presentes no ar que respiramos, na água que bebemos e na comida que consumimos. Para se ter uma ideia de sua onipresença, todas as vezes em que roupas são lavadas, microfibras, um tipo de microplástico, são liberadas e só essa atividade é responsável por 500 mil toneladas de microfibras plásticas que chegam ao oceano anualmente.

Os potenciais impactos dos microplásticos na saúde humana ainda estão sendo compreendidos e a Organização Mundial da Saúde (OMS) pontua que ainda não há pesquisas suficientes relacionando estas partículas a efeitos adversos à saúde. Contudo, um relatório recente da entidade detalhou possíveis riscos para a saúde decorrentes da poluição por microplásticos, incluindo a exposição a nanoplásticos, partículas ainda menores, que medem menos de um micrômetro.

"Os microplásticos estão no ar e é inevitável que sejam inalados. Vimos que chegam aos pulmões, mas ainda precisamos determinar o impacto na saúde", afirma a patologista Thais Mauad à Revista Fapesp, na edição de outubro de 2023. Ela liderou um estudo do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) que detectou a presença de microplásticos em pulmões humanos. Ela aponta que estudos com culturas simulando tecidos humanos indicam que fragmentos de plástico podem causar danos celulares e inflamação, mas ainda não é possível quantificar o número de partículas necessárias para causar efeitos graves.

Outro estudo, publicado em março no New England Journal of Medicine, também relacionou os microplásticos a riscos para a saúde humana. Pesquisadores analisaram pacientes na Itália que tinham placa na artéria carótida, obstrução que pode bloquear o fluxo sanguíneo. Aqueles com placa que tinham microplásticos e nanoplásticos apresentavam um risco maior de ataque cardíaco, acidente vascular cerebral ou morte, em comparação com pacientes cuja placa não tinha nenhum micro ou nanoplástico. No entanto, os pesquisadores não descobriram que os micro e nanoplásticos causaram o maior risco, apenas que estavam correlacionados com ele.

Como reduzir a exposição aos microplásticos

Modificar alguns hábitos no dia a dia pode reduzir a ingestão de micro e nanoplásticos. Uma das formas mais simples é buscar evitar comer alimentos que tenham sido guardados em recipientes de plástico e não colocá-los no microondas, priorizando  vasilhames de vidro.

Dê preferência a alimentos frescos e evite alimentos processados e ultraprocessados, que podem ter seu teor de microplásticos elevado no processo de fabricação. Outra dica é usar roupas feitas de tecidos naturais, o que também evita a poluição por meio da lavagem posterior.