Nesta quarta-feira (10), um vídeo da modelo Yasmin Brunet, participante do BBB24, viralizou ao mostrar os efeitos da abstinência do uso do cigarro eletrônico, popularmente conhecido como vape.
Na ocasião, ela diz: "Eu estou sem dormir. Estou sem meu vape [cigarro eletrônico]. Estou quase indo ali fumar um cigarro e f*da-se?... [indo] comer um pão".
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A situação de Brunet voltou a levantar questões sobre o cigarro eletrônico, tão debatido nos últimos anos devido ao aumento do seu uso, principalmente entre os jovens, que acreditam estar reduzindo os danos do cigarro tradicional. A principal questão que rondou as redes sociais é se o vape também é capaz de causar abstinência.
A resposta segue o mesmo caminho das perguntas sobre se o cigarro eletrônico faz menos mal que o tradicional. Por conter nicotina, principal ativo do tabaco, o vape também é capaz de causar vício e abstinência - assim como fazer tão mal à saúde como o cigarro tradicional.
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O pneumologista Aldo Agra, membro da Comissão de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, acredita que existe uma falsa percepção que o cigarro eletrônico, por ter menos substâncias do que o cigarro tradicional, não é nocivo. No entanto, o vape, além da nicotina, também apresenta outras substâncias prejudiciais à saúde.
Está cada dia mais evidente que o cigarro eletrônico está relacionada a doenças como a dependência química à nicotina, tem substâncias relacionada ao aumento da doença cardiovascular e pulmonar e, além disso, há riscos adicionais ao cigarro eletrônico que não estão presentes no cigarro tradicional, como o risco de explosão e mesmo de intoxicação pela ingestão de seu líquido", diz o médico
Vera Lucia Gomes Borges, tecnologista da Divisão de Controle do Tabagismo e Outros Fatores de Risco (CONPREV) do Instituto Nacional de Câncer (INCA) afirma que a grande armadilha dos cigarros eletrônicos está no fato de apresentarem cheiro e sabor agradáveis, "levando à percepção equivocada de que são produtos menos prejudiciais à saúde".
Vape e a nicotina
Principal substância presente nas folhas de tabaco, a nicotina é uma droga psicoativa, capaz de interferir no Sistema Nervoso Central (SNC), modificando o estado emocional do fumante ao provocar o aumento e a liberação de neurotransmissores relacionados a sensação de prazer, satisfação e aumento da motivação. Por esses aspectos, ela está relacionado à dependência do fumo.
Diferente dos cigarros tradicionais, no lugar do tabaco macerado, a nicotina é usada em estado líquido no vape, através das substâncias popularmente conhecidas como essências. Um estudo do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade de São Paulo (USP) mostrou que, enquanto o cigarro tradicional, no Brasil, tem um limite de 1 mg de nicotina por cada cigarro, os eletrônicos chegam a ter até 57 mg da substância por ml do líquido.
“O cigarro eletrônico tem uma altíssima quantidade de nicotina e um alto potencial de causar dependência química, principalmente entre indivíduos mais jovens. Isso se deve muito a modificação da nicotina que é usada neste produto”, diz Agra. O pneumologista também alerta que o uso do vape já está associado ao acidente vascular cerebral, doença cardíaca, doença pulmonar e câncer.
Ainda de acordo com o estudo da USP, os usuários de vape têm 42% mais chance de sofrer um infarto, devido não só à quantidade de nicotina, mas também à mistura dessa substância com diversas outras. Além disso, os jovens também aumentam em 50% a chance de ter asma.
O perigo além da nicotina no vape
No entanto, alguns cigarros eletrônicos podem ser feitos sem o uso da substância. Ainda assim, apresentam perigo, pois a nicotina não é a única vilã. Os dispositivos são constituídos por mais de 2 mil substâncias, sendo 80 nocivas e tóxicas, como o propilenoglicol, glicerol e o formaldeído, relacionados ao câncer; a acroleína, relacionada ao aumento do risco cardiovascular, e metais pesados.
Nos Estados Unidos, em 2019, órgãos da saúde comprovaram o surgimento de uma nova doença relacionada aos cigarros eletrônicos, a EVALI, uma sigla em inglês que significa lesão pulmonar associada ao uso de produtos de cigarro eletrônico.
Em dezembro daquele ano, mais de 2 mil estadunidenses foram internados e 48 morreram devido ao vape. No Brasil, uma mulher morreu no ano passado também em decorrência dos danos do cigarro eletrônico à saúde. Crisleide Andrade, de 34 anos, teve uma grave lesão pulmonar que a levou à morte.
Uso do cigarro eletrônico no Brasil
No Brasil, o número de usuários de vape saltou de 500 mil em 2018 para 2,2 milhões de usuários em 2022, segundo o IPEC. Vale ressaltar que a comercialização desses dispositivos é proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2009.
Uma pesquisa da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, apontou que de 10 mil brasileiros , quase 20% dos jovens entre 18 e 24 anos já experimentaram cigarros eletrônicos.
Já segundo o IBGE, quase 17% dos estudantes de 13 a 17 anos já experimentaram o vape.
O vape é uma opção para quem quer parar de fumar?
Agra explica que apesar do vape parecer uma alternativa para quem quer parar de fumar, o cigarro eletrônico pode acabar tendo o efeito contrário. “As pessoas que fazem uso [do vape] acabam fazendo o consumo até maior de nicotina do que quem faz uso de cigarro convencional e não conseguem se livrar da dependência em si”, ressalta o pneumologista.
"Além disso, o tabagismo também está relacionado à dependência comportamental, e o que o cigarro eletrônico reforça são os comportamentos do fumante, pois ele mantém o mesmo hábito de colocar o cigarro na boca e usar nas mesmas situações", acrescenta.
Vera Lucia também alerta que em alguns casos são constatados um uso dual, ou seja, pessoas fazendo uso do vape e do cigarro tradicional. "Quem quer parar de usar DEF deve procurar ajuda profissional para cessação, e não substituir um produto por outro de nicotina", diz.
Como parar de usar o cigarro eletrônico
Agra afirma que hoje ainda há poucos estudos sobre tratamentos específicos dos dependentes do cigarro eletrônico. Por isso, o procedimento é igual ao usuário do cigarro tradicional, através de medicações para controle da abstinência quando indicado e orientações sobre a necessidade de mudanças comportamentais. "A melhor alternativa para tratar é procurar um profissional capacitado e traçar uma estratégia para promover a cessação", diz o médico.
O Programa Nacional de Controle do Tabagismo implementado no Brasil oferece tratamento nas unidades de Saúde do SUS, e é composto de elementos cognitivos e comportamentais, além de ajuda medicamentosa quando necessário.