“A aprovação regulatória de tirzepatida no Brasil representa um importante marco no tratamento do diabetes tipo 2 e impactará a forma como a doença é tratada hoje”, disse em uma entrevista, Bruno Halpern, um dos pesquisadores do estudo da tirzepatida. Ele também é endocrinologista e especialista em Clínica Médica, Endocrinologia e Metabologia pelo Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP.
Nesta segunda-feira (25), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deu um passo significativo na luta contra a obesidade ao aprovar a tirzepatida, um medicamento da farmacêutica Eli Lilly, comercializado sob o nome de Mounjaro, que serve para tratamento de pessoas com diabetes tipo 2.
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Ele representa uma nova esperança para adultos que lutam contra o tipo de diabetes e é indicado como um complemento à dieta e aos exercícios, oferecendo uma abordagem integrada para o tratamento da condição crônica.
O Mounjaro, diferentemente de outros medicamentos para diabetes que também promovem a perda de peso, como Ozempic e Wegovy (ambos à base de semaglutida), que atuam apenas no receptor de GLP-1, a tirzepatida tem um mecanismo de ação duplo.
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Ela atua tanto nos receptores do hormônio GIP (polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose) quanto do GLP-1 (peptídeo 1 similar ao glucagon). Essa abordagem dupla permite uma ação mais ampla e potencialmente mais eficaz no controle do diabetes tipo 2.
Regulação do metabolismo do corpo
Os dois hormônios são responsáveis pelo efeito incretina, que é a secreção de insulina pelo pâncreas em resposta à ingestão de nutrientes. Em estudos pré-clínicos, o hormônio GIP (polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose) demonstrou ser responsável por dois terços do efeito incretina. Além de contribuir para a secreção de insulina, o GIP também desempenha um papel na redução da ingestão de alimentos e no aumento do gasto energético. Isso resulta em reduções de peso.
Assim que o GIP é combinado com o GLP-1 (peptídeo 1 semelhante ao glucagon), pode resultar em efeitos ainda maiores no controle da glicose no sangue e na redução do peso corporal.
"Além de ser a medicação com maior potência glicêmica já aprovada até hoje, ele conseguiu alcançar, na média, que indivíduos tivessem um controle glicêmico semelhantes ao de pessoas sem diabetes", afirmou Halpern.
Resultados e métodos da pesquisa
A aprovação do Mounjaro pela Anvisa foi fundamentada nos resultados do programa Surpass, uma série abrangente de 10 estudos clínicos de fase 3. Este programa envolveu mais de 19 mil pacientes com diabetes tipo 2 de todo o mundo, incluindo cerca de 1,5 mil pacientes no Brasil.
O Surpass-2, o maior estudo do programa Surpass, teve duração de 40 semanas e recrutou cerca de 1,9 mil pacientes adultos com diabetes tipo 2. Neste estudo, a eficácia e segurança do Mounjaro foram comparadas com a da semaglutida 1mg, um medicamento também injetável vendido sob o nome comercial de Ozempic pela Novo Nordisk.
Os resultados do estudo Surpass-2, apresentados na American Diabetes Association (ADA) 2022, destacaram a eficácia do Mounjaro no controle do diabetes tipo 2. No estudo, 51% dos pacientes que utilizaram Mounjaro 15 mg conseguiram alcançar níveis de açúcar no sangue (HbA1c) inferiores a 5,7%, um índice típico de pessoas sem diabetes. Em comparação, apenas 20% dos pacientes que utilizaram semaglutida atingiram esse mesmo resultado.
A pesquisa revelou que 92% dos pacientes que utilizaram Mounjaro 15mg conseguiram alcançar níveis de açúcar no sangue (HbA1c) inferiores a 7%. Este é o valor de índice glicêmico recomendado pelas diretrizes médicas para o controle adequado da doença em pacientes com diabetes tipo 2.
Sob as dosagens de 10mg e 15mg, os pacientes que fizeram uso do Mounjaro demonstraram uma eficácia impressionante na perda de peso. Eles conseguiram atingir a meta de uma redução de peso de pelo menos 5% em um período de tempo relativamente curto, isto é, doze semanas.
Além disso, os pacientes que o utilizaram conseguiram uma perda de peso significativa, chegando a perder 12,4 quilos. Isso é o dobro da perda de peso observada em pacientes que utilizaram semaglutida.