PERIGO PARA A SAÚDE

Microplásticos podem chegar ao cérebro e causar distúrbios cognitivos, aponta estudo

Experimento com animais revelou impacto alarmante do material, que também se espalhou pelo fígado, rins e pulmões dos roedores

Microplástico.Imagem ilustrativaCréditos: Oregon State University/Flickr
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Um estudo realizado pela Universidade de Rhode Island, nos Estados Unidos, utilizou camundongos para revelar que a ação dos microplásticos dentro do organismo pode chegar ao cérebro e causar alterações de comportamento similares à demência. A pesquisa foi publicada no International Journal of Molecular Science em agosto.

Os microplásticos são pequenas partículas de polímeros e apresentam sérios riscos à nossa saúde e ao meio ambiente. Estudos anteriores já revelaram a presença da substância no nosso sangue, em fezes de crianças e no leite materno. Eles também estão presentes no ar, na água e nos alimentos.

No recente estudo, os pesquisadores buscaram compreender como os microplásticos afetam o organismo a longo prazo, se o material pode tornar os animais mais suscetíveis a inflamações, se o corpo pode se livrar dos microplásticos ou se as células respondem de maneira diferente às toxinas. 

"Ninguém realmente entende o ciclo de vida desses microplásticos no corpo, então parte do que queremos abordar é a questão do que acontece à medida que envelhecemos”, explica Jamie Ross, professora de neurociência da Universidade de Rhode Island que esteve envolvida no estudo.

Microplásticos no cérebro

Para responder às questões levantadas, os pesquisadores expuseram camundongos a água potável contaminada com o material para observar os impactos a longo prazo.

A equipe constatou que os microplásticos conseguem facilmente se espalhar pelo corpo e se acumular nos tecidos de vários órgãos dos ratos, inclusive aqueles fora do sistema digestivo. Isso foi uma surpresa para o grupo, segundo Ross.

“Esperávamos ver microplásticos nas fezes do animal, o que não foi totalmente surpreendente”, disse Ross, em relato ao site Gizmodo. “Mas também os encontramos nas profundezas das células do fígado, baço e rins. Não apenas no centro do trato digestivo, mas no tecido do trato digestivo.”

Mudança de comportamento

A conclusão mais preocupante foi a de que os microplásticos foram responsáveis por causar uma mudança de comportamento nos animais, que foram divididos em três grupos: os que ingeriram microplásticos de forma constante, os que foram expostos a níveis mais baixos e os que não tiveram contato com a substância. Os ratos foram observados por três semanas. 

Após esse período, os pesquisadores realizaram testes com os animais que avaliaram mudanças no comportamento, e testes de claro-escuro, para avaliar eventual aversão dos roedores a áreas iluminadas. 

O resultado obtido foi que os ratos que tiveram maior exposição ao microplásticos erravam mais os movimentos e percorriam distâncias maiores no campo artificial, onde passaram a apresentar comportamentos estranhos em comparação aos ratos que foram poucos ou nada expostos. 

“Eles geralmente não ficam esperando serem apanhados por um predador e se sentem mais protegidos nas laterais”, disse Ross. “Olhamos para esse tipo de comportamento para entender: eles estão circulando pelo lado de fora desta câmara? Eles estão indo para o centro?”, explicou a pesquisadora.

Ao final das três semanas, os microplásticos tinham se espalhado pro cérebro, coração, fígado, rim, baço, pulmões e trato gastrointestinal, além da urina e fezes dos animais que beberam água com microplásticos.

Doenças neurodegenerativas

Os pesquisadores também puderam notar inflamação no cérebro e a diminuição da proteína ácida fibrilar glial, conhecida como GFAP, responsável por suportar processos celulares. Níveis mais baixos desta proteína estão associados aos estágios iniciais de algumas doenças neurodegenerativas, incluindo doença de Alzheimer.

A equipe não esperava esta descoberta e pretende realizar pesquisas futuras para compreender melhor o papel dos microplásticos nos distúrbios e doenças neurológicas.