MARCADORES NUCLEARES

Bomba atômica: como os testes nucleares deixaram marcas no corpo

A assinatura única deixada pelas bombas nucleares abre uma janela para compreender os eventos passados

Bomba atômica.Créditos: TheDigitalArtist/pixabay
Escrito en SAÚDE el

No decorrer das décadas de 1950 e 1960, explosões de bombas nucleares acima do solo alteraram a composição química da atmosfera terrestre, introduzindo uma assinatura única nos corpos de seres vivos e em diversas partes do planeta. Essa assinatura, conhecida como "pico da bomba" ou "pulso da bomba", composta principalmente pelo isótopo de carbono-14, tornou-se uma ferramenta valiosa para cientistas em várias áreas de pesquisa.

Pesquisadores descobriram que o pico da bomba oferece uma maneira precisa de datar eventos ocorridos nas últimas décadas, revolucionando a ciência forense. Ao medir os níveis de carbono-14 em tecidos humanos, como dentes, ossos e cabelos, os cientistas podem estimar a idade de restos humanos não identificados, auxiliando em investigações criminais e em casos de abuso de direitos humanos.

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O pico da bomba também desempenhou um papel fundamental na neurociência. Cientistas utilizaram o carbono-14 para analisar a idade das células cerebrais, contestando a noção de que o número de neurônios é fixo na infância. A descoberta da "neurogênese adulta" abriu portas para novas estratégias médicas para prevenir a perda de neurônios e estimular a geração de novos.

Recentemente, o pico da bomba ganhou um papel importante na geologia, ao ser proposto como um dos marcos para definir o início do Antropoceno. Esta nova era geológica, caracterizada pela influência humana generalizada sobre o planeta, tem no pico da bomba um de seus indicadores mais proeminentes. A recomendação foi feita por cientistas que argumentam que o pico da bomba, juntamente com outros marcadores nucleares, sinaliza o início oficial do Antropoceno, uma época de grande aceleração das atividades humanas e impacto ambiental.

Crawford Lake

O local escolhido para representar oficialmente o início do Antropoceno é o Crawford Lake, no Canadá. Os sedimentos lamacentos deste lago guardam a marca do pico da bomba e outros marcadores artificiais. Um núcleo destes sedimentos será preservado em um museu, marcando a entrada da humanidade em uma nova era geológica.

Em última análise, o pico da bomba, com sua presença discreta, mas profunda, fornece insights valiosos sobre a história da Terra e da humanidade. Uma assinatura silenciosa, gravada nas células, nos sedimentos e nos registros geológicos, que conta a história de um tempo de explosões nucleares, avanços científicos e a ascensão da influência humana sobre o planeta.