ALIMENTAÇÃO

Por que comemos mais no frio?

Além da quantidade, a variedade dos alimentos também é afetada pelas diferenças no clima. Grupos alimentares mais calóricos são mais consumidos em dias frios.

Festivais de comida no inverno são exemplos culturais da alimentação no frio.Créditos: Reprodução/Agência Brasil
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Em dias frios, é comum que as pessoas se alimentem com porções maiores do que o habitual ou que façam mais refeições durante o dia. Festivais de comida no inverno são amostras do costume cultural. Além do hábito, estas diferenças na alimentação em dias mais frios têm motivos biológicos, de acordo com estudo.

Além da quantidade, a variedade dos alimentos também é afetada pelas diferenças no clima. Grupos alimentares mais calóricos são mais consumidos em dias frios, a exemplo de carnes, leites e seus derivados. Hambúrgueres e chocolates são outros alimentos que fornecem mais calorias por porção ingerida.

A relação entre comida e a temperatura

O humano, assim como outros mamíferos de sangue quente, é capaz de regular a temperatura corporal interna. A termorregulação  e a alimentação estão diretamente ligadas, visto que uma parte das calorias ingeridas diariamente são destinadas à manutenção de calor retido no corpo.  

Um estudo de 1947, produzido por dois cientistas do Laboratório de Fadiga de Harvard, revelou que quanto maior a temperatura local, menor foi a ingestão espontânea de calorias. A publicação compara a vivência em dois extremos: os desertos quentes e o Ártico.

Em climas mais quentes, a falta de apetite pode ocorrer devido à diminuição do metabolismo basal, isto é, a quantidade de energia necessária para manter as funções vitais. Por isso, no período das estações primavera e verão, recomenda-se a ingestão de alimentos de fácil digestão: verduras, frutas, legumes e carnes magras. 

O que diz o estudo?

Conforme estudo publicado na revista científica Nature, mamíferos endotérmicos gastam calorias na manutenção da temperatura corporal e por isso, este grupo tende a se alimentar mais no frio para compensar o gasto calórico na termorregulação. Porém, a ciência ainda não havia encontrado o elo neurológico entre a energia despendida no frio e o acréscimo da alimentação.

Por meio de um experimentos, os pesquisadores tiveram o primeiro grande passo na compreensão da biologia mamífera neste aspecto. Na tentativa de associar a temperatura e o consumo energético, cientistas descobriram que, vivendo aos 4ºC, os camundongos comem duas vezes mais do que comeram aos 23ºC.

Uma combinação de análise metabólica em alta resolução e comportamental serviu para identificar o xifóide, um pequeno núcleo na linha média do tálamo – região do cérebro que atua na integração de informação sensorial e transmissão ao córtex cerebral. Os impulsos sensitivos estão relacionados à audição, paladar, tato e visão.

"Os autores usaram um método de imagem cerebral (neuroimagem) para identificar as áreas do cérebro ativadas na resposta ao frio e, a partir disso, estudaram o núcleo xifóide. Os autores descobriram que os neurônios ativados durante o frio induziram a alimentação e promoveram a transição do estado de conservação de energia para a procura de alimentos."

Qingchun Tong, da Universidade do Texas (EUA)

O xifóide foi ativado seletivamente pelo frio prolongado associado ao gasto de energia, embora não pela exposição ao frio agudo. "Mecanicamente, o xifóide codifica um interruptor que promove comportamentos de apetite em condições de frio, mas não em dias quentes", diz o estudo.

Uma das limitações encontradas no estudo é o desconhecimento do motivo que leva os xifóides a iniciar a procura de comida no frio. "Embora tenhamos observado o aumento no nível da glicose e ácidos graxos livres no sangue de camundongos, ainda não sabemos se essas alterações são detectadas diretamente pelos neurônios xifóides", escrevem os autores.

 

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