RISCO À SAÚDE PÚBLICA

Anvisa alerta sobre superfungo, que teria registrado aumento na contaminação por causa das mudanças climáticas

Órgão de proteção à saúde pública brasileira emitiu comunicado de risco diante de casos de infecção

Candida auris chegou ao Brasil em 2020, três anos após primeira identificação no país
Candida auris chegou ao Brasil em 2020, três anos após primeira identificação no paísCréditos: Reprodução
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A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) avaliou que um fungo emergente apresenta sério risco à saúde global. As infecções pelo fungo Candida auris são consideradas graves e de fácil transmissão, além de apresentar resistência à múltiplos medicamentos. O fungo, que não atingia os humanos, pode ter passado a nos contaminar a partir dos efeitos das mudanças climáticas.

O histórico de identificação

Cientistas japoneses identificaram o fungo pela primeira vez em 2009. Seis anos depois, a Candida auris começou a se alastrar nos Estados Unidos e exigiu que o CDC emitesse um alerta de risco para uma espécie mortal de Candida – que nunca havia apresentado casos fatais ou de resistência à medicações antifúngicas. As infecções nos EUA, em 2018, cresceram em 318% se comparadas ao período entre 2015 e 2017, e órgão passou a investigar o fungo e os meios de prevenção.

No Brasil, em março de 2017, a Anvisa publicou um comunicado de risco, que detalhou orientações para a vigilância laboratorial, encaminhamento de isolados para laboratórios de referência e as medidas de prevenção e controle de infecções relacionadas à assistência a saúde (IRAS) pela C. auris.

O primeiro caso positivo da infecção no Brasil foi notificado à Anvisa em dezembro de 2020, em meio à pandemia da Covid-19. O paciente foi internado na UTI de um hospital em Salvador, capital baiana, e o caso foi encerrado. Porém, entre novembro de 2021 e fevereiro de 2022, 47 casos marcaram o terceiro surto da doença, em Pernambuco. Em 2023, um hospital em Recife foi interditado para conter o contágio.

A Candida auris

Em junho deste ano, a Anvisa publicou um comunicado de risco após receber notificação referente à identificação de Candida auris em um recém-nascido internado em hospital de São Paulo. No comunicado, o órgão caracterizou a C. auris como uma ameaça à saúde pública pelos seguintes motivos:

  • Resistência aos medicamentos: o fungo produz biofilmes tolerantes a antifúngicos. Por isso, ele é resistente à várias medicações usadas para tratar infecções contra a Candida. 90% dos casos isolados são resistentes ao fluconazol, anfotericina B ou equinocandinas e 30% toleram pelo menos dois desses. Algumas cepas são resistentes às três classes de antifúngicos.
  • Infecções invasivas: a C. auris pode causar infecções em pacientes imunossuprimidos ou com comorbidades, podendo ser fatal. 
  • Difícil identificação: os métodos de laboratório padrão podem não identificar o fungo porque a C. auris depende de tecnologia específica para diagnóstico, o que pode causar surtos.
  • Difícil eliminação: o fungo pode permanecer viável por meses no ambiente e apresenta resistência à diversos desinfetantes, de modo que os hospitais devem ter mais medidas de prevenção para evitar a disseminação. Algumas pessoas podem carregar o fungo na pele sem se infectar, mas com a chance de transmissão.

Como as mudanças climáticas aumentaram o contágio?

O fungo é originalmente encontrado no solo de ecossistemas com alta taxa de salinidade, como as regiões úmidas 0 pântanos e florestas tropicais, por exemplo. O aumento da temperatura média, resultado do aquecimento global no Antropoceno, pode ser o motivo pelo qual o fungo passou a contaminar humanos, de acordo com o estudo A emergência da Candida auris como consequência das mudanças climáticas: impactos nas Américas e a necessidade de conter emissões de gases do efeito estufa.

A hipótese afirma que C. auris teria passado por um processo de seleção natural: o aquecimento global favoreceu cepas adaptadas à salinidade e altas temperaturas, condições semelhantes às encontradas no corpo humano. Assim, o fungo passou a ser um patógeno que passou a ser cultivado em temperatuas próximas aos 40º C . 

Outra hipótese, menos mencionada no estudo, é de que o fungo teria surgido das geleiras derretidas, sobretudo dos permafrost – solos que passam o ano todo congelado e que, ao descongelar, liberam matéria orgânica que residem no gelo, como as bactérias e vírus com milhares de ano. Sem contato com humanos, esses seres infectam com maior facilidade em decorrência da falta de medicamentos e prevenções conhecidas.

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