Os pesquisadores do Baylor College of Medicine, nos Estados Unidos, dizem ter descoberto uma droga capaz de reduzir a resistência das superbactérias às drogas disponíveis. O trabalho foi divulgado na última sexta-feira (23) na revista Science Advances e cientistas esperam que ele possa ser utilizado para outros patógenos.
A preocupação da comunidade científica é que as estimativas apontam, a partir de 2050, a ocorrência de 10 milhões de mortes todos os anos por superbactérias. Aproximadamente 1,3 milhão de pessoas morreram em 2019 em razão das bactérias resistentes, é o que indica uma pesquisa publicada, no ano passado, na revista Lancet.
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Segundo esse estudo conduzido pelos pesquisadores do Baylor College, o chamado cloreto de dequalínio (DEQ) pode ser o composto responsável por desacelerar o processo que faz com que a Escherichia coli se torne resistente a antibióticos.
Susan Rosenberg liderou o ensaio onde estudiosos investigaram medicamentos que pudessem impedir ou retardar o desenvolvimento de resistência da bactéria Escherichia coli. Ela tem resistência a dois antibióticos ao ser exposta a um terceiro: o ciprofloxacina (cipro), considerado o segundo mais prescrito nos Estados Unidos que tem gerado efeito reduzido por causa de patógenos resistentes.
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Como acontece a resistência aos antibióticos
Ao serem desenvolvidas novas mutações por micro-organismos, as bactérias ganham resistência a antibióticos, e não pela aquisição de genes de outras bactérias como se costuma pensar. "Conseguimos esse efeito de desaceleração da mutação em baixas concentrações de DEQ, o que é promissor para os pacientes",diz Yin Zhai, um dos autores.
De acordo com o infectologista e chefe da Comissão de Controle de Infecção do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, Werciley Júnior: "Se há um uso de antibióticos em dosagens muito baixas ou por tempo alongado, as bactérias que são sensíveis morrem. Mas algumas são deixadas, e isso vai promover uma seleção. Ou seja, a bactéria que, inicialmente, é fraca diante um antibiótico vai morrer, aquela que é mais adaptada a viver e a combater aquele antibiótico vai se adaptar ainda mais e passar isso para outras gerações e se tornar mais forte."
Estudo inédito
É o primeiro artigo a explicitar que, em infecções animais tratadas com ciprofloxacina, a bactéria estimula um processo mutacional genético induzido por estresse, segundo autores. Em outros estudos, essa mesma equipe descobriu um "programa" mutacional ativado por respostas bacterianas ao estresse.
Foram avaliados 1.120 medicamentos aprovados para uso humano e com capacidade de reduzir a resposta bacteriana ao estresse pela equipe. O grupo pensou em observar as chamadas drogas "furtivas". Elas não diminuem a proliferação bacteriana e dão vantagem de crescimento de toda bactéria mutante que resista à substância que retardaria suas mutações.
Zhai ainda pontua em nota que o cloreto de dequalínio obteve um efeito duplo: "descobrimos que o DEQ preenchia ambos os requisitos. Administrado junto com o cipro, ele reduziu o desenvolvimento de mutações que conferem resistência a antibióticos tanto em culturas de laboratório quanto em modelos animais de infecção, e as bactérias não desenvolveram resistência ao DEQ". Agora, a equipe se organiza para analisar os efeitos de ensaios clínicos em humanos.
Não é possível controlar o desenvolvimento de resistência somente com o uso do medicamento associado aos antibióticos, assinala o infectologista de Brasília. "Não adianta você só usar uma droga dessa forma. Você tem que combater o uso abusivo dos antibióticos associado à utilização dessa substância apresentada no estudo. Quando o tratamento é direcionado, pode-se potencializá-lo. Dessa forma, combatemos o quadro com o remédio correto e a dose correta".
*Com informações de Correio Braziliense