As populações estão engordando e essa não é uma impressão, mas sim uma constatação. Mudanças na forma de viver, na oferta de alimentos e alterações na rotina alimentar são os responsáveis por tal fenômeno. No último relatório do Covitel (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis em Tempos de Pandemia), edição de 2023, um dado assusta: 56,8% dos brasileiros estão acima do peso. E isso não é uma exclusividade nossa, já que nos EUA, segundo um levantamento do National Center for Health Statistics, 65% dos cidadãos têm mais peso do que deveriam.
No anseio desesperado por emagrecer “milagrosamente”, muita gente vem apelando para as perigosas e pouco confiáveis "dietas malucas". Em vias gerais, alguém com algum conhecimento sobre nutrição divulga uma lista com alimentos que têm pouquíssimas calorias e, então, muita gente sai comendo apenas aquilo por dias a fio.
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A melancia, por exemplo, já foi “astro” nessas “dietas malucas”. Com apenas 35 calorias por 100g, a saborosa e vermelhinha fruta já teve seus dias de fama. O mesmo ocorre com a alface, essa verdura com escassos 11 calorias por 100g de sua folha, assim como o palmito, que apresenta 118 calorias pela mesma quantidade. A lista é extensa, mas podemos destacar ainda a beterraba (50 calorias por 100g), o alho (149 calorias por 100g), o damasco (48 calorias por 100g), a couve (32 calorias por 100g) e o repolho (25 calorias por 100g).
Para explicar os perigos que se escondem atrás dessas dietas da “modinha”, que aleatoriamente elegem um alimento para ser consumido de forma exclusiva em todas as refeições, buscando emagrecimento rápido, a Fórum foi ouvir a nutricionista Janaína Carvalho Farias Gonçalves, que é pós-graduada em nutrição clínica funcional e comportamento alimentar, com curso de aprimoramento em transtorno alimentar pela Faculdade de Medicina da USP.
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“Alimentação não é sobre valor calórico, o guia alimentar para população brasileira reitera isso quando traz que nutrientes são tão importantes quanto as dimensões culturais e sociais da alimentação. É importante lembrar que nutrição não é uma ciência exata, portanto não temos tanto controle sobre nosso corpo como achamos. E fazer escolhas alimentares exclusivamente baseadas em valores calóricos não contempla todas as necessidades que o organismo precisa e pode trazer prejuízos à saúde, como deficiências nutricionais, etc.”, explicou Janaína.
Acredite, usar apenas um alimento para emagrecer desesperadamente é algo que pode colocar o indivíduo que adota tal medida até mesmo em risco de vida, sem falar em inúmeros outros problemas que podem ser desencadeados por tal comportamento.
“Uma alimentação composta exclusivamente por alimentos de baixa caloria é restritiva e existe comprovação que 95% das dietas restritivas falham e trazem prejuízos psicossociais para as pessoas. Esses prejuízos são esclarecidos quando entendemos que manter uma alimentação assim traz a necessidade do isolamento social para não participar de práticas sociais que envolvam comida. E também observamos nas mudanças do metabolismo, que começa a responder ao estresse da restrição alimentar. Além de insuficientes nutricionalmente, promovem o efeito sanfona, que tem consequências para a saúde como a piora na distribuição da gordura corporal, aumento de inflamação e risco cardiovascular”, acrescentou a nutricionista.
Para acabar de vez com as dúvidas sobre esse tipo de dieta, Janaína deixou claro que jamais será possível ter uma nutrição saudável comendo um só tipo de alimento. Ela lembrou ainda que respeitar aquilo que sentimos, em termos de fome e de satisfação, é essencial quando buscamos emagrecer de maneira correta e responsável.
“Nosso corpo não tem capacidade de absorver tudo o que precisa de uma vez só e nenhum alimento isoladamente possui todos os nutrientes necessários para a nossa nutrição. Assim, fica claro que é necessário diversidade na composição alimentar. É importante contemplar todos os grupos alimentares, variar no dia a dia dentro do que é possível e acessível, e buscar ter prazer nesse processo. Tão importante quanto respeitar fome e saciedade, é respeitar a satisfação alimentar”, concluiu a especialista.