METAL TÓXICO

Intoxicação por chumbo: Entenda efeitos graves para a saúde escondidos no metal

Consequências da exposição elevada ao material, que está presente em nosso cotidiano, incluem deficiências intelectuais, doenças cardiovasculares e problemas renais

Chumbo é usado na fabricação de algumas baterias. Imagem IlustrativaCréditos: Sindirecicle/MT
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Entre esta segunda-feira (23) e a próxima (29), é comemorada a Semana Internacional de Prevenção da Intoxicação por Chumbo, uma campanha de conscientização sobre a necessidade de eliminar o uso do metal no cotidiano. Segundo o Ministério da Saúde, nos últimos dez anos, 88 países estabeleceram controles sobre a produção, importação, venda e uso de tintas com chumbo, principal local onde o material era encontrado.

No entanto, o chumbo continua a fazer estragos na saúde da população mundial, estando, ainda, presente no cotidiano da sociedade. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o envenenamento por chumbo mata cerca de 1 milhão de pessoas por ano. E esse número não inclui aqueles que morrem em decorrência dos efeitos da intoxicação pelo material.

Para as crianças, o problema é ainda mais preocupante, uma vez que elas estão mais sujeitas aos efeitos do metal. Um levantamento divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef, na sigla em inglês) em 2020, mostrou que 800 milhões de crianças ao redor do mundo tinham nível de chumbo no sangue igual ou superior a 5 µg/dL (microgramas por decilitro), o nível em que uma intervenção é necessária. Isso equivale a um terço da população mundial de crianças.

Quais os perigos do chumbo

A intoxicação por chumbo ocorre com a exposição recorrente a esse metal tóxico ao longo de meses ou anos, quando os sintomas começam a aparecer. Estão entre eles estão alterações de personalidade, dores de cabeça, perda de sensibilidade, fraqueza, sabor metálico na boca, instabilidade na locomoção, falta de apetite, vômitos, prisão de ventre, cólicas abdominais, dores em ossos ou articulações, hipertensão arterial e anemia.

Segundo o Manual MSD, adultos expostos ao chumbo também podem apresentar perda da libido, infertilidade e disfunção erétil, no caso dos homens. 

A OMS identificou o chumbo como um dos dez produtos químicos de maior preocupação para a saúde pública. Ela alerta que o metal é tóxico para vários sistemas do corpo, incluindo o sistema nervoso central e o cérebro, o sistema reprodutivo, os rins, o sistema cardiovascular, o sanguíneo e o imunológico.

Além dos sintomas próprios da intoxicação, o material pode impulsionar o aparecimento de outras doenças. Segundo a Organização, 30% das deficiências intelectuais idiopáticas, 4,6% das doenças cardiovasculares e 3% das doenças renais crônicas ocorrem em decorrência do chumbo.

A exemplo, um estudo divulgado este ano pelo Banco Mundial, utilizando dados do projeto Global Burden of Disease (GBD), que coleta estatísticas de saúde, mostrou que cerca de 5,5 milhões de adultos de 25 anos ou mais morrem por ano por causa de doenças cardiovasculares decorrentes da intoxicação por chumbo.

Nas crianças, a exposição é particularmente perigosa, pois elas possuem fatores de risco como estar em um período de desenvolvimento e possuir um peso menor que o dos adultos. O chumbo pode afetar o desenvolvimento cerebral dos pequenos, com consequências como “redução do quociente de inteligência, atenção, capacidade de aprendizado e aumento do risco de problemas comportamentais”, diz a OMS.

Por quê ainda estamos expostos ao chumbo?

O chumbo foi bastante utilizado na composição da gasolina durante o século 20, sendo proibido ao final do período. No entanto, estudos mostram que resquícios do metal usado no combustível persistem no ar das cidades grandes até hoje.

Isso foi comprovado em Londres, que proibiu o metal em 1999, por meio de um estudo da Universidade Imperial College. No Brasil, embora o país tenha sido um dos primeiros a eliminar o uso do material na gasolina, em 1992, estudos da Universidade de São Paulo (USP), de 2017, 2018 e 2019, também comprovaram a presença do metal no ar.

O chumbo também pode ser encontrado na pintura de prédios antigos, incluindo escolas, hospitais e parques infantis, já que compunha o material de tintas no século passado, em ambientes industriais, pois é utilizado na fabricação de baterias, em ambientes de mineração, fundição, reciclagem de lixo eletrônico, encanamento e munição, segundo a OMS.

A organização diz ainda que “as crianças podem ingerir flocos e poeira, de brinquedos ou superfícies pintadas com chumbo ou serem expostas através de cerâmicas vitrificadas com chumbo e alguns medicamentos e cosméticos tradicionais”.

O Manual MSD explica que adultos expostos ao chumbo no trabalho devem, como forma de prevenção, usar equipamento de proteção individual adequado, trocar a roupa e os sapatos antes de irem para casa e tomar banho antes de se deitar.

Existe tratamento para a intoxicação por chumbo?

O tratamento para a intoxicação consiste, basicamente, em interromper a exposição ao metal e eliminar o acumulado do organismo. Isso pode acontecer por meio de uma lavagem intestinal ou por administração de medicamentos, de acordo com a orientação de um médico competente.

No entanto, em casos graves, alguns danos podem ser irreversíveis. É o caso de crianças expostas de forma crônica e excessiva ao metal, associado à perda da capacidade intelectual. Danos renais também podem ser permanentes.