Nesta segunda-feira (23), o Ministério da Saúde divulgou o segundo volume do Boletim Epidemiológico Saúde da População Negra, com informações sobre a incidência de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) como aids e sífilis neste grupo. O documento evidencia a vulnerabilidade dessa parcela da população a essas enfermidades, se comparado à população branca do país.
Entre 2011 e 2021, a proporção de pessoas negras testadas com aids ou HIV aumentou de 50,3% para 62,3%. Dividindo a população por idade, dentre os menores de 14 anos testados com aids ou HIV em 2021, 70% eram negros, sendo 6,3% pretos e 64,9% pardos.
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Esse número alarmante está ligado a outro dado também preocupante, o número de gestantes negras portadoras de HIV ou com aids. Isso porque a aids é uma doença que pode ser transmitida da mãe para o bebê durante a gestação, a chamada transmissão vertical. O Ministério da Saúde explica que a notificação de gestantes, parturientes e puérperas com HIV é obrigatória desde 2000, com o objetivo de prevenir esse tipo de transmissão.
No entanto, o índice da doença nessa população só aumentou. Em 2011, dentre os casos da IST em gestantes, 62,4% foram identificados em mulheres negras. Essa proporção chegou a 67,7% em 2021, um aumento de mais de 5 pontos percentuais.
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O cenário é semelhante em relação à sífilis, outra IST que pode ser transmitida durante a gestação, quando o bebê adquire a chamada sífilis congênita. Em 2021, 69,6% dos casos de sífilis em gestantes acometeram mulheres negras. Entre as menores de 14 anos, o número sobe para 73,6%.
Essa quantidade se traduz nos números da sífilis congênita. Em todos os anos de 2011 a 2021, a proporção de crianças filhas de mães negras entre as diagnosticadas com a doença foi maior que 70%, sendo a maior em 2021, 74,7%.
O que explica os números
O Ministério da Saúde explica que o “cenário de desigualdade [no Brasil] impacta nos índices das chamadas doenças socialmente determinadas, como é o caso da infecção por HIV". A pasta afirma que o objetivo do boletim é servir para elaboração de uma linha de base para ações, programas e políticas intersetoriais e que ele representa uma forma de diálogo com a sociedade sobre os problemas que mais afetam a saúde da população negra.
“A próxima etapa é que todos os nós críticos identificados possam compor a estratégia e os indicadores do Plano Nacional de Saúde”, explicou Luís Batista, assessor para Equidade Racial em Saúde do Ministério.
Essa é a segunda edição deste boletim epidemiológico, que ainda versou sobre malária, tuberculose e leishmaniose tegumentar na população negra. Outra edição foi divulgada no último dia 10.
Ministério quer eliminar doenças socialmente determinadas
Um teste rápido, chamado duo teste, com capacidade para identificar, ao mesmo tempo, as infecções por sífilis e HIV, será ofertado no Sistema Único de Saúde (SUS), com investimento de R$ 27 milhões do Ministério da Saúde para a aquisição de 4 milhões de unidades da tecnologia.
A pasta explica que esse é um passo para “atender à meta [do governo federal] de eliminar ou controlar, até 2030, 14 doenças com elevada incidência em regiões de maior vulnerabilidade social, como é o caso do HIV e da sífilis”.
Sobre a sífilis, o objetivo é eliminar a congênita como problema de saúde pública. Já no caso do HIV, a meta é ter 95% das pessoas vivendo com HIV diagnosticadas e, destas, 95% em tratamento e 95% com carga viral controlada.