A decisão tomada no fim da manhã desta segunda-feira (25) pela Procuradoria-Geral da República de pedir ao Supremo Tribunal Federal a instauração de um inquérito contra o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), em decorrência de suas ações nos EUA, onde está instalado desde 27 de fevereiro, pressionando autoridades estrangeiras para que imponham sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF, pode desembocar num assunto longínquo e meio esquecido envolvendo o filho do ex-presidente de extrema direita, desde sempre afeito a visitas à terra do Tio Sam.
No começo de 2017, Eduardo, que já era parlamentar, havia embarcado mais uma vez para os EUA. A viagem era estranha porque abrangeria justamente o período da eleição para a presidência da Câmara dos Deputados. Em 2 de fevereiro, seu pai, o então deputado federal Jair Bolsonaro, uma figura inexpressiva e ignorada no Congresso por conta de sua verborragia estúpida, agressividade e pouca inteligência, deu-se conta ao chegar no plenário da Casa que o rebento 03 não tinha retornado ao Brasil. Ele passou então, furioso, a chamar o filho pelo WhatsApp.
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Esse episódio só é conhecido porque o veterano fotógrafo Lula Marques estava na Câmara cobrindo as eleições internas do Congresso. Bem-posicionado e usando uma lente de longo alcance, o repórter fotográfico conseguiu pegar a sequência de mensagens entre pai e filho, pelo celular.
“Papel de filho da puta que você está fazendo comigo. Tens moral para falar do Renan? Irresponsável”, disse Bolsonaro a Eduardo, e usando o caçula masculino Jair Renan como parâmetro de comportamento, dando a entender que o 03 vivia falando mal do 04.
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O que até então parecia uma conversa entre pai e filho, embora não fizesse sentido um homem à época com 32 anos estar levar um pito por estar viajando “sem a autorização do responsável”, acabou se convertendo numa espécie de confissão de um crime grave.
“(...) Mais ainda, compre merdas por aí. Não vou te visitar na Papuda”, seguiu dizendo Bolsonaro, o pai.
A conversa passa de repente a tomar tom ainda mais sério, como se Eduardo estivesse de fato cometendo algum grande absurdo fora da lei.
“Se a imprensa te descobrir aí, e o que está fazendo, vão comer seu fígado e o meu. Retorne imediatamente”, continuou o chefe do clã nas mensagens pelo aplicativo de celular.
Na sequência, Eduardo parece irritado com os esculachos do pai e resolve responder, só que no meio da conversa ele admite que estava fazendo algo irregular.
“Quer me dar esporro tudo bem. Vacilo foi meu. Achei que a eleição só fosse semana que vem. Me comparar com o merda do seu filho, calma lá”, responde o filho.
O diálogo termina com algo curioso, sem relação com o possível crime que Eduardo estaria cometendo. O pai pede para que o filho diga em que ele deve votar na eleição da Câmara.
“Voto em JHC ou João Fernando Coutinho?”, indaga Bolsonaro, em referência aos candidatos respectivamente aos cargos de Terceiro e Quarto secretários da Mesa Diretora, o que apenas mostra que o homem que viria a ser presidente da República não tinha sequer condições de cumprir com tarefas básicas e mínimas como parlamentar. Mais uma curiosidade: tanto JHC como Coutinho pertenciam ao PSB, o Partido Socialista Brasileiro, o que mostra que a pseudoparanoia antiesquerda de Bolsonaro é apenas uma tática recente para angariar votos entre os incautos e analfabetos políticos.
Agora, se a abertura de inquérito for confirmada pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do pedido feito pela PGR, talvez esse episódio sinistro, longínquo e esquecido possa vir à tona, para que o Brasil descubra finalmente o que Eduardo Bolsonaro fazia de tão criminoso nos EUA que seu pai o advertiu de que ele iria parar no presídio da Papuda.
Antes de tudo, é preciso saber se os investigadores do Ministério Público Federal ficarão debruçados apenas nas ações de agora, referentes à fuga do deputado para os EUA, de onde sabota o Brasil e reforça a cada dia a pecha de traidor que já tinha por conta de sua devoção a uma nação estrangeira, ou se a lupa sobre Eduardo pode focalizar episódios de seu passado.