ELEIÇÕES 2026

Juliano Medeiros: Debate na direita sobre como lidar com Bolsonaro está "a mil por hora"

Ao Fórum Onze e Meia, ex-presidente do PSOL comentou a nova aliança da "velha direita", que manda recados ao bolsonarismo

Jair Bolsonaro e governadores em ato em São Paulo.Créditos: Redes sociais de Jair Bolsonaro/Reprodução
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O cientista social Juliano Medeiros, ex-presidente nacional do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), esteve no Fórum Onze e Meia desta quinta-feira (15) para analisar as pautas mais quentes da política brasileira nas últimas semanas. Um dos temas de destaque foi a articulação da direita em relação à substituição do ex-presidente e réu no Supremo Tribunal Federal, Jair Bolsonaro (PL), para as próximas eleições presidenciais. De acordo com Medeiros, o debate dentro da ala política está a "mil por hora"

Para ele, a última declaração do ex-presidente Michel Temer sobre a criação de uma aliança com os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos), Eduardo Leite (PSD), Ratinho Júnior (PSD), Ronaldo Caiado (União Brasil) e Romeu Zema (Novo) para as eleições presidenciais foi um "recado" da velha direita sobre não querer mais o bolsonarismo. 

"Ele [Temer] está dizendo o seguinte: 'Direita oligárquica, velha direita brasileira, se aprumem, porque senão vocês vão ter que apoiar o Bolsonaro, porque vocês estão perdendo tempo e estão marcando passo'", afirma Medeiros. Ele ressalta que Temer "tem pontos com todo mundo", inclusive com Bolsonaro. Por isso, ele está mandando alguns recados. 

Em relação a um racha na direita e extrema direita para as próximas eleições, Medeiros diz que esse é um cenário "totalmente possível" e que deve ocorrer no primeiro turno. Ele explica que alguns fatores já indicaram isso, principalmente na internação de Bolsonaro durante 21 dias. Medeiros afirma que durante esse período, ouviu em alguns círculos de jornalistas, que  "já estava em curso, dentro da direita, um debate sobre como reagir numa eventual morte do Bolsonaro".

Nesse sentido, Medeiros diz que "a inelegibilidade é a morte política do Bolsonaro". O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o condenou por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação em 2023 e o declarou inelegível por oito anos. 

O cientista social afirma que pode haver uma comoção na direita, mas que a velha direita não quer que o "espólio" de Bolsonaro "caia no colo" da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro ou dos filhos Eduardo e Flávio Bolsonaro. "Porque essa turma é incontrolável", diz. "Deixar que o espólio de Bolsonaro fique na mão deles é seguir reféns do bolsonarismo. E a velha direita já está de saco cheio disso. Eles querem mesmo voltar a liderar o bloco da direita", avalia Medeiros. 

"Então, assim, o debate dentro da direita sobre como lidar com o Bolsonaro está a mil por hora", acrescenta. Ele ainda diz que o governador Tarcísio de Freitas está mais para dentro do escopo da velha direita do que do bolsonarista raiz. "Ele está mais enredado em acordos com a velha direita do que com o Bolsonaro".

Medeiros ainda analisa que o "grande drama" dessa ala é que só tem um líder de massas na direita, que é Bolsonaro. "Eles não têm um líder capaz de bater, de disputar com o presidente Lula em 2026. Então, eles estão debatendo e eu acho que isso pode gerar ruídos, pode gerar problemas", declara. 

Juliano ainda acrescenta que a pauta da anistia foi um grande fator que reduziu a popularidade de Bolsonaro e aliados e ainda constrangeu a velha direita. "Porque a anistia não bota comida na mesa, não enfrenta aumento da conta de luz, não serve para denunciar corrupção no INSS. Então, tem um desconforto na direita", diz. 

"A direita estava indo bem quando fazia fake news de Pix, quando denunciava a inflação de alimentos, ou seja, enquanto eles estavam nessa pauta que fala da vida real, eles estavam sendo adversários mais difíceis pra gente. Quando eles foram para essa pauta da anistia, que é o mundo da 'bolsonarolândia', nós começamos a melhorar a nossa aprovação do governo, começamos a ir para ofensiva, saindo com a escala 6x1, saímos com o Imposto de Renda, isenção para quem ganha até R$ 5 mil", analisa Medeiros. 

"Então, este é o problema real, porque o negócio da anistia hoje como pauta principal do bolsonarismo divide a direita brasileira e pode levar, sim, a ter duas candidaturas no primeiro turno", diz. 

Caso INSS e criação de uma CPMI

Medeiros também comentou sobre a possibilidade de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre o caso das fraudes no INSS descobertas pelo governo Lula. A abertura da CPMI foi um pedido da deputada Coronel Fernanda (PL-MT) e da senadora Damares Alves (Republicanos-DF), e dividiu líderes partidários. Alguns parlamentares de esquerda afirmam que a investigação já está sendo feita pela Polícia Federal e pela Controladoria-Geral da União e que uma CPMI liderada por um político do PL não ajudaria no caso. 

Para Juliano, "são muitas camadas" envolvidas nessa situação. "A gente está falando de atores privados com interesses poderosos. Estamos falando dos fundos de pensão privados. Estamos falando das grandes seguradoras que querem detonar o INSS e que podem ver nessa CPI uma oportunidade de incidir. Essa turma tem grana. Essa turma tem 'bala na agulha'", diz.

Com isso, ele ressalta que "nem tudo é só política". "Se fosse só no campo da luta política, eu estaria mais tranquilo.  A condução do presidente Lula até aqui nesse tema do INSS tem sido exemplar. Quem anuncia para a sociedade que foi descoberto um escândalo é o ministro da Justiça do presidente Lula. Quem manda demitir o presidente do INSS é o presidente Lula. Agora [está acontecendo] o ressarcimento dos pensionistas que foram lesados", diz Medeiros. 

Ele acrescenta que, do ponto de vista comunicacional, a condução do governo também tem sido positiva, com aliados e deputados da base "indo para cima" para lembrar que o esquema começou no governo Bolsonaro. "Se fosse só no campo da luta política, eu estaria mais confortável com uma CPI", argumenta Medeiros.

No entanto, como ele acredita ter "interesses econômicos poderosos por trás, como de bancos e seguradoras que querem transformar o INSS numa AFP [Administradoras de Fundos de Pensão], como existe no Chile", ele diz ficar mais "apreensivo". Medeiros acrescenta que os deputados da base deveriam ter trabalhado para que a CPMI não se viabilizasse, mas que, caso tenha, é preciso ir para a luta política. 

Boulos no governo Lula

Outro tema de destaque durante a entrevista de Medeiros foi a possibilidade do deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP) se tornar ministro do governo Lula. Ele contou que conversou com o parlamentar, nesta quarta-feira (14), mas que ainda não há um pedido formalizado. No entanto, Medeiros afirma que, se houver um convite, a tendência é que Boulos aceite e assuma como secretário-geral da Presidência.

"Há sondagens, mas não há nenhum convite feito. Caso haja o convite, a tendência, pelo que me disse o Guilherme Boulos, é de aceitar na missão", conta Medeiros. Ele acrescenta que Boulos deve se encontrar com Lula durante o funeral do ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, que faleceu nesta terça-feira (13), e que é possível ter um desfecho dessa especulação ainda essa semana ou no máximo no começo da semana que vem. 

Condenação de Carla Zambelli

Juliano também comentou sobre a condenação da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A parlamentar foi condenada a dez anos de prisão pela invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Medeiros afirma que a decisão "atenua a sensação de impunidade" que se vive em relação ao bolsonarismo há anos, mas criticou a demora do processo. "Zambelli virou deputada federal em 2018, nós estamos em 2025, são 7 anos cometendo crimes impunemente", diz. 

Medeiros traz como exemplo um caso que aconteceu com ele e com o PSOL em relação aos ataques promovidos por Zambelli. Ele conta que, assim que ela assumiu como deputada, a parlamentar fez uma postagem associando a esquerda e o pessoal à pedofilia. "Pedofilia é um dos crimes mais abjetos, mas quem é pai e mãe sabe do que eu estou falando. Eu, na época, era presidente do PSOL com uma filha de 9 anos de idade", relata o ex-presidente do partido socialista. 

"Sabe o que é ter uma deputada federal, uma autoridade da República dizendo nas redes sociais que o partido que eu presidia era um partido que apoiava a pedofilia?", relembra Medeiros. Na época, ele disse que acionou o Supremo Tribunal Federal, o processo ficou sob responsabilidade do ministro Celso de Mello, hoje já aposentado, e o magistrado decidiu que a imunidade parlamentar defendia Zambelli. 

"E, assim, o STF agiu por muito tempo. Muito tempo. O STF só foi reagir quando a artilharia da família Bolsonaro se voltou contra o STF, quando começou a investigação sobre o gabinete do ódio", declara Medeiros.

"Então, por um lado, eu estou aliviado porque pode ser o fim da Carla Zambelli na vida pública brasileira, o que é muito importante porque limites têm que ser colocados, mas por outro lado dá uma sensação de que 'putz, ficou 7 anos promovendo esse tipo de bandalheira e nada foi feito, sendo que havia uma ação no primeiro ano de mandato questionando a associação que ela fez entre um partido político com registro legal, com deputados federais, e a pedofilia, e nada foi feito", lamenta Juliano. 

Medeiros também critica que há diversos parlamentares fazendo "barbaridades" na Câmara, mas que é preciso "esperar a boa vontade" de Hugo Motta para que eles sejam devidamente responsabilizados pelos seus atos. "É muito tempo para que algo seja feito diante das barbaridades que essa mulher [Zambelli] e outros homens e mulheres do bolsonarismo cometeram contra a democracia", finaliza Juliano.

Confira a entrevista completa de Juliano Medeiros ao Fórum Onze e Meia

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