EM SURTO

Corroído pela paranoia, Bolsonaro humilha Tarcísio e implode tudo

Episódio em que ex-presidente publicou vídeo do “Pânico” para mostrar ao governador de SP que ele é ninguém é a chave para entender como toda essa “aliança” se acabou

Créditos: Alan Santos/PR
Escrito en POLÍTICA el

Logo no início da semana, Jair Bolsonaro (PL) voltou a demonstrar o traço que define sua trajetória política: um comportamento paranoico, corrosivo e centrado em uma lógica de autodefesa ególatra. O ex-presidente vê inimigos em todos os lados e, em sua mente sitiada, Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, deixou de ser seu sucessor natural para se tornar uma ameaça a ser eliminada.

Esse episódio ficou escancarado quando Bolsonaro distribuiu, em sua lista de transmissão, um vídeo do programa “Pânico” em que o apresentador Emílio Surita afirma que “só tem um cara que pode ganhar do Lula, chama Jair Bolsonaro”. A gravação circulou entre parlamentares e dirigentes do Centrão como uma mensagem direta para o governador de São Paulo: você é ninguém sem Bolsonaro.

Embora algumas análises paralelas apontem que o alvo do vídeo possa ter sido o ex-presidente Michel Temer (MDB), que articula com governadores uma alternativa à tal polarização Lula-Bolsonaro, ou até mesmo outras figuras que orbitam o bolsonarismo, a leitura dominante no mundo político é que o recado principal foi endereçado a Tarcísio, com o objetivo de desmoralizá-lo e colocá-lo em seu lugar.

Alvo de desconfiança

Em meio à inelegibilidade de Bolsonaro e à busca por um novo nome competitivo para 2026, Tarcísio chegou a ser considerado favorito no universo bolsonarista. Mas esse cenário mudou. A leitura entre lideranças do segmento é de que Bolsonaro já não quer o governador paulista como seu representante, seja por desconfiança, seja por ausência de “gestos de lealdade” que esperava do “pupilo”.

O gesto de Bolsonaro, do vídeo, não foi isolado. Nos bastidores, parlamentares afirmam que a atitude foi interpretada como uma ruptura definitiva. Ao expor publicamente sua preferência por si próprio e excluir qualquer menção ao governador de São Paulo, Bolsonaro teria jogado fora a última ponte de diálogo com o mundo real da política.

Enquanto isso, figuras próximas ao ex-presidente passaram a radicalizar ainda mais no discurso. No domingo, o ex-chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência, Fábio Wajngarten, espécie de porta-voz informal do “mito” foi ao X (antigo Twitter) para dar uma declaração incendiária. “Se continuarem nessa palhaçada de ‘Direita sem Bolsonaro’, eu vou manobrar dia e noite por uma chapa PURA.”

Isolado, mas ainda no centro do jogo

Mesmo inelegível, Jair Bolsonaro mostra que não está disposto a abrir espaço, nem mesmo para quem construiu sua carreira dentro do bolsonarismo. A paranoia que o move e o medo de ser superado dentro da própria base tornam impossível qualquer projeto que não o tenha como protagonista absoluto.

O resultado disso é a implosão de alianças, a erosão de pontes e a substituição de antigos aliados por novos alvos. Tarcísio, que já foi promessa de continuidade, hoje virou símbolo de “traição” e é tratado como obstáculo, além de um “zé ninguém” sem os votos do ex-presidente.

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