De BERLIM | O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que se afastou de seu mandato parlamentar para viver nos Estados Unidos e articular, junto ao governo de Donald Trump, sanções contra o governo brasileiro e contra ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), agora fala até mesmo em sanções da União Europeia ao magistrado.
Até o momento, o filho de Jair Bolsonaro, que visa sancionar Moraes como forma de retaliá-lo por sua atuação no inquérito da tentativa de golpe de Estado, que deve levar seu pai à prisão, não obteve sucesso em sua empreitada nos EUA. Mesmo assim, ele acredita que conseguirá o feito junto ao bloco europeu. Nesta quarta-feira (24), o deputado brasileiro publicou um vídeo em seus stories do Instagram sugerindo que haverá sanções da Europa contra Moraes.
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"Quando perguntaram para o Alexandre de Moraes sobre a possibilidade de ele ser sancionado pelo governo dos EUA, vocês se lembram do que ele falou? Fez piadinha, falou que gostava de ir para a Europa, né? Então, tá bom. Bora...", declarou Eduardo Bolsonaro, em tom de mistério.
Poucas horas depois, o filho de Jair Bolsonaro revelou de onde partiu tal sugestão. Ele publicou um vídeo do deputado polonês Dominik Tarczynski, membro do Parlamento Europeu, anunciando protocolou um projeto de resolução propondo sanções ao a Moraes nos países da União Europeia.
Figura conhecida da extrema direita polonesa, Dominik Tarczynski é um ultranacionalista de anti-imigração e que já chegou a defender grupos neonazistas. No vídeo em que anuncia o projeto para sancionar Moraes na Europa, o polonês chega a afirmar, de maneira tresloucada, que Moraes, com suas decisões contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, pratica o "comunismo".
“Vou propor um projeto de resolução para estabelecer sanções a Moraes aqui na Europa. Eu vivia sob o comunismo, sou da Polônia, sei o que é o comunismo. As ações tomadas por esse juiz são puro comunismo. Eles querem destruir seus oponentes políticos. É por isso que temos de defender os direitos humanos. Temos que defender a verdadeira democracia. E temos que lutar contra os comunistas”, disparou o extremista europeu.
No vídeo, Dominik Tarczynski afirma que decidiu protocolar o projeto para sancionar Moraes após ver o vídeo de Jair Bolsonaro sendo intimado por uma oficial de Justiça no leito de UTI em que está internado desde o dia 12 de abril, em uma clara tentativa de interferir nas decisões da Justiça brasileira.
“Acabei de ver o vídeo do presidente Bolsonaro no hospital visitado pela oficial de Justiça. Isso é inaceitável. Esse tipo de ação tomada pelo ministro da Suprema Corte Alexandre de Moraes é inaceitável. É por isso que decidi reagir. A União Europeia precisa tomar providências agora”, disse.
O vídeo do polonês, naturalmente, foi compartilhado por Eduardo Bolsonaro, que se empolgou e disse que "agora é a Europa falando em sancionar Moraes.
As chances de essa proposta de Dominik Tarczynski avançar, entretanto, são extremamente baixas. Para além do fato do polonês não ocupar nenhuma posição de liderança nas principais comissões ou grupos parlamentares do Parlamento Europeu, resoluções individuais apresentadas por eurodeputados geralmente precisam do apoio de múltiplos grupos políticos para serem debatidas ou aprovadas.
Além disso, o Parlamento Europeu não possui competência direta para impor sanções a autoridades de países terceiros, como o Brasil. Tais medidas dependeriam do Conselho da União Europeia e exigiriam consenso entre os Estados-membros, o que é mais que improvável neste contexto.
Veja o vídeo do extremista polonês compartilhado por Eduardo Bolsonaro:
Quem é Dominik Tarczynski
Dominik Tarczynski é eurodeputado pelo partido ultraconservador Lei e Justiça (PiS), legenda nacionalista que governa a Polônia e que acumula críticas dentro da União Europeia por promover retrocessos democráticos e ataques sistemáticos ao Judiciário e à liberdade de imprensa. Com histórico midiático e atuação alinhada ao discurso da nova extrema direita global, Tarczynski integra o grupo dos Conservadores e Reformistas Europeus (ECR), que reúne políticos antiglobalistas, eurocéticos e ultranacionalistas.
Autodeclarado "cristão conservador" e apoiador do presidente dos EUA Donald Trump, o polonês tornou-se conhecido por usar slogans como “Make Europe Great Again” e por defender pautas violentamente anti-imigração. Em diversas ocasiões, deu declarações racistas e islamofóbicas, além de criticar a presença de refugiados na Europa.
Em 2017, ganhou notoriedade internacional ao sair em defesa dos participantes de uma marcha nacionalista na Polônia que reuniu dezenas de milhares de pessoas – entre elas, grupos neonazistas europeus que exibiam faixas com frases como "Europa branca de nações fraternas" e "Sangue puro, mente pura". A manifestação foi classificada por veículos internacionais como uma das maiores reuniões de extrema direita da Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Apesar disso, Tarczynski afirmou que os participantes estavam sendo “difamados como fascistas” e prometeu apoio jurídico a eles.
A proximidade com grupos de inspiração neonazista, o uso recorrente de teorias conspiratórias anticomunistas e o apoio a líderes autoritários colocam Tarczynski como uma figura folclórica da nova onda de políticos europeus de ideias extremistas sob o disfarce de "defesa da família" e "valores cristãos".