O deputado agora licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho "zero-três" do ex-presidente Jair Bolsonaro, tem seguido à risca o manual da extrema direita global ao se apresentar como vítima de uma suposta "perseguição política" no Brasil.
A narrativa, segundo revelado por Jamil Chade, no UOL, faz parte de uma estratégia mais ampla para deslegitimar as eleições presidenciais de 2026, com apoio de Donald Trump e aliados ultraconservadores.
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A ideia central da articulação é espalhar no exterior, principalmente nos Estados Unidos e em países governados por populistas de direita, a falsa noção de que o processo eleitoral brasileiro estaria corrompido.
Líderes da extrema direita internacional já repetem o discurso, na tentativa de minar a credibilidade das instituições democráticas brasileiras e criar um ambiente de desconfiança que possa justificar futuras contestações ao resultado das urnas.
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Nos últimos dias, a retórica vitimista de "Dudu Bananinha" foi amplificada por grupos como o Foro de Madri, aliança ultraconservadora que reúne políticos e movimentos de extrema direita ao redor do mundo.
No último dia 19 de março, o bloco extremista lançou um comunicado classificando a situação do deputado como "perseguição", ignorando o contexto das investigações contra a família Bolsonaro, incluindo o envolvimento do ex-presidente em uma tentativa de golpe de Estado.
A licença de Dudu Bananinha e sua estadia nos EUA
No mesmo período em que passou a adotar a narrativa de perseguição, Eduardo Bolsonaro tirou licença de seu mandato parlamentar e permaneceu nos Estados Unidos. Ele justificou a decisão alegando "motivos pessoais" e afirmou que pretende fortalecer laços com aliados internacionais.
A medida levantou especulações sobre a possibilidade de Eduardo buscar apoio no exterior para evitar processos judiciais no Brasil. No entanto, até o momento, não há processos criminais contra ele relacionados aos atos golpistas de 8 de janeiro. A Procuradoria-Geral da República (PGR) e o Supremo Tribunal Federal (STF) negaram pedido de apreensão de seu passaporte.
O movimento de se manter fora do país reforça a estratégia de criar uma falsa narrativa de exílio político, semelhante à usada por líderes populistas que buscam projetar uma imagem de "perseguição" para seus apoiadores.
O interesse da extrema direita global no Brasil
A instrumentalização da narrativa de Eduardo Bolsonaro não é acidental. Para a extrema direita mundial, contar com o Brasil como aliado é visto como um passo estratégico na consolidação de uma nova ordem política.
Atualmente, o argentino Javier Milei tem sido tratado como a grande aposta ultraconservadora na América do Sul, mas Washington sabe que um Brasil alinhado ao bloco teria um impacto muito maior.
Um dos principais objetivos desse movimento é conter a influência da China no Hemisfério Ocidental, fortalecendo laços entre governos de direita nos EUA, Brasil, Argentina e Itália.
Além disso, há um interesse em consolidar um eixo ideológico que desmonte avanços em direitos humanos, enfraqueça instituições democráticas e imponha uma agenda ultraconservadora no Ocidente.
A velha tática de criar "prisioneiros políticos"
A estratégia de Eduardo Bolsonaro não é nova e segue um roteiro já utilizado por figuras da extrema direita internacional.
Nos EUA, Steve Bannon – um dos principais aliados da família Bolsonaro – também se apresentou como "prisioneiro político" após ser preso por desobedecer uma intimação do Congresso americano no caso da invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021.
A mesma narrativa foi usada pelos apoiadores da invasão do Capitólio, que passaram a chamar os condenados de "vítimas do sistema".
Um dos casos mais emblemáticos foi o de Jacob Chansley, o “Xamã do QAnon”, que participou da ofensiva contra o Congresso americano e foi condenado a 41 meses de prisão. Hoje, ele alega ser alvo de perseguição e afirma que "experimentou a tirania em primeira mão".
O próprio Trump adotou essa retórica e chegou a qualificar o 6 de janeiro como "um dia de amor", pressionando pela libertação de extremistas condenados.
Desde 2021, mais de 1.270 réus foram sentenciados nos EUA, mas muitos já foram beneficiados por perdões presidenciais e revisões judiciais.
Essa cartilha de vitimização também é seguida por grupos de extrema direita no Reino Unido, que agora se referem a criminosos presos como “dissidentes políticos”.
O bilionário Elon Musk, dono do X (antigo Twitter), recentemente defendeu a libertação de Tommy Robinson, ativista britânico condenado por incitação ao ódio.
Brasil não vive uma "ditadura judicial"
A narrativa de Eduardo Bolsonaro e seus aliados não resiste a uma análise básica dos fatos. Veja alguns pontos que desmontam esse discurso:
Dudu Bananinha não é perseguido político
- Eduardo Bolsonaro não é alvo de investigação por suas opiniões políticas nem responde a processos por atos antidemocráticos
- Apesar das investigações sobre os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, não há processos criminais contra Eduardo Bolsonaro no STF.
O Brasil mantém um sistema democrático funcional
- Parlamentares da oposição continuam exercendo seus mandatos sem restrições.
- Governadores e prefeitos bolsonaristas seguem no poder, sem sofrer retaliações políticas.
A Justiça brasileira atua dentro das leis
- O STF não persegue adversários políticos, mas age dentro de suas atribuições constitucionais para garantir o cumprimento da lei.
O Brasil não censura bolsonaristas
- Eduardo Bolsonaro e aliados continuam tendo amplo espaço nas redes sociais e na mídia para divulgar suas ideias.
Trump, Bannon e a extrema direita global usam a mesma estratégia
- Assim como Eduardo, figuras como Trump e Bannon tentam deslegitimar instituições democráticas ao se apresentarem como vítimas.
As invasões ao Capitólio e ao Congresso Nacional: danos e vítimas
Nos Estados Unidos (6 de janeiro de 2021):
- Cinco mortes (quatro manifestantes e um policial)
- Mais de 140 feridos
- Danos materiais de US$ 30 milhões
No Brasil (8 de janeiro de 2023):
- Nenhuma morte registrada
- Danos de R$ 26 milhões aos prédios públicos
Ambos os episódios foram tentativas de golpe contra a democracia, mas no Brasil o ataque foi contido de forma mais rápida, sem mortes ou violência generalizada.
Ditadura Militar x Governo Lula
O discurso bolsonarista que tenta comparar o atual governo Lula a uma ditadura ignora as diferenças fundamentais entre a ditadura militar (1964-1985) e o governo democrático de hoje.
Durante a ditadura militar no Brasil, o país era governado sem eleições diretas para presidente, com generais escolhidos internamente pelas Forças Armadas. Em contraste, o governo Lula dfoi eleito democraticamente em 2022, por meio de um processo eleitoral legítimo e reconhecido internacionalmente.
A liberdade de imprensa foi severamente restringida durante o regime militar, com censura total a jornais, rádios e televisões, além da perseguição sistemática a jornalistas. No governo atual, a mídia opera livremente, com veículos frequentemente criticando o governo sem qualquer tipo de censura ou represália.
A repressão política na ditadura incluía a prisão, tortura e assassinato de opositores, além da cassação de mandatos e do fechamento do Congresso Nacional em períodos críticos. No Brasil democrático de hoje, não há perseguição política e os opositores atuam livremente, com bolsonaristas ocupando cargos eletivos e expressando suas opiniões sem risco de prisão arbitrária.
O STF, durante a ditadura, era subordinado ao regime militar, sem autonomia real para questionar as decisões do governo. Atualmente, a Suprema Corte opera de forma independente e tem a função de garantir o cumprimento da Constituição, fiscalizando os atos do Executivo e Legislativo.
Na ditadura, as Forças Armadas tinham controle total sobre o país, governando diretamente sem qualquer supervisão civil. Já no governo atual, os militares estão subordinados ao poder civil, sem influência direta nas decisões políticas, conforme determina a Constituição de 1988.
Essas diferenças deixam claro que a comparação entre o governo Lula e a ditadura militar não se sustenta. O Brasil de hoje é uma democracia consolidada, com liberdade de imprensa, alternância de poder e um Judiciário independente, ao contrário do período autoritário em que os direitos civis foram sistematicamente violados.
O discurso da "ditadura judicial" de Bolsonaro e aliados não se sustenta. O Brasil de hoje não tem censura, perseguição ou prisões arbitrárias. Diferentemente do regime militar, há eleições regulares, alternância de poder e liberdade de expressão.
A farsa da perseguição política e o risco para 2026
A estratégia de Eduardo Bolsonaro e da extrema direita internacional é clara: deslegitimar as instituições brasileiras para abrir caminho para uma eventual contestação das eleições de 2026.
O discurso da "perseguição política" não passa de uma tentativa de manipular a opinião pública e enfraquecer a democracia.
Se a tática de Trump serviu de alerta nos EUA, o Brasil precisa estar atento para evitar que a mesma estratégia seja usada para justificar ataques às instituições e ao resultado eleitoral.
Afinal, já vimos esse filme antes – e ele não termina bem para a democracia.