Após confirmar que fugiu para os Estados Unidos e anunciar que não retornará ao Brasil, pedindo licença de seu mandato parlamentar, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) passou a vender a ideia de que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), teria ficado intimidado com sua decisão, já que sua permanência nos EUA serviria para articular retaliações ao magistrado junto ao governo Trump.
A reação de Moraes, entretanto, foi completamente oposta. Na última terça-feira (18), horas após o anúncio de Eduardo Bolsonaro de que ficaria nos EUA, o ministro ofereceu um jantar em sua casa aos seus colegas de STF e autoridades dos Três Poderes. O objetivo do evento era homenagear Rodrigo Pacheco (PSD-MG) por seu período como presidente do Senado e, ao longo da noite, a fuga do filho de Jair Bolsonaro virou chacota entre os presentes.
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Estavam no jantar, além de Moraes e Pacheco, o vice-presidente Geraldo Alckmin; os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP);o procurador-geral da República, Paulo Gonet, além de 7 dos 11 ministros do STF.
De acordo com relatos de interlocutores colhidos pelo jornalista Igor Gadelha, do site Metrópoles, Eduardo Bolsonaro foi alvo de chacota no jantar. Os presentes fizeram piadas com o deputado extremista, se referindo a ele como "bananinha", apelido comumente utilizado por opositores contra o filho do ex-presidente, e "frouxo".
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Eduardo já sabia que seu passaporte não seria apreendido
Apesar de tentar vender a ideia de que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), teria "recuado" e desistido de apreender seu passaporte apenas após o anúncio de que permaneceria nos Estados Unidos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) já sabia antecipadamente que o pedido para retenção de seu documento de viagem seria negado.
Na última terça-feira (18), o extremista confirmou que havia fugido para os EUA, anunciando que não retornaria ao Brasil e que pediria licença de seu mandato para permanecer no país norte-americano. Eduardo era alvo de uma ação protocolada pelos deputados Rogério Correia (PT-MG) e Lindbergh Farias (PT-RJ) na Procuradoria-Geral da República (PGR), que solicitava a apreensão de seu passaporte por crime de lesa-pátria. O motivo: há meses, o parlamentar vem articulando com o governo dos EUA retaliações contra Moraes e até mesmo sanções contra o próprio Brasil.
Quando anunciou sua permanência nos EUA, Eduardo Bolsonaro já sabia que a PGR se manifestaria contra a apreensão de seu passaporte – algo que foi confirmado horas depois e posteriormente endossado por Moraes, que decidiu não reter o documento do filho do ex-presidente.
Segundo a jornalista Bela Megale, do jornal O Globo, Eduardo havia sido informado por um interlocutor do PL junto ao Judiciário que a PGR se posicionaria contra a apreensão. A informação foi tão precisa que bolsonaristas planejavam um ato na Câmara dos Deputados em solidariedade a Eduardo, no qual segurariam seus passaportes como forma de protesto. No entanto, a manifestação foi desmobilizada pelo líder do PL na Casa, Sóstenes Cavalcante, sob o argumento de que a questão já estava "pacificada".
Os fatos desmontam a narrativa de Eduardo Bolsonaro de que Moraes teria desistido da apreensão por receio de sua decisão de permanecer nos EUA e desafiar o Judiciário brasileiro. Além disso, a situação reforça que Eduardo não é vítima de "perseguição", como tenta alegar em seu discurso vitimista.
O filho de Jair Bolsonaro tem se aliado a parlamentares da extrema direita estadunidense para pressionar o governo dos EUA a impor retaliações contra Moraes, relator do inquérito sobre a tentativa de golpe, e até mesmo sanções contra o Brasil.
Seu objetivo é claro: constranger Moraes e o governo Lula com o respaldo dos EUA, tentando influenciar o curso das investigações sobre a tentativa de golpe. A intenção final é livrar Jair Bolsonaro da prisão e reabilitá-lo politicamente para um eventual retorno ao Palácio do Planalto. Além disso, Eduardo aposta na imposição de sanções norte-americanas contra o Brasil como estratégia para enfraquecer a gestão de Lula e pavimentar o caminho para que seu pai volte ao poder.
Eduardo Bolsonaro já fala em renunciar
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) revelou nesta quarta-feira (19), durante entrevista à CNN Brasil, que deve renunciar ao seu mandato. Cabe lembrar que o parlamentar anunciou que iria pedir licença, pois se diz "perseguido".
Em comunicado divulgado na terça-feira (18), Eduardo Bolsonaro afirmou que vai permanecer nos EUA e de lá "enfrentar a Gestapo de Alexandre de Moraes", em referência ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
No entanto, agora o filho do ex-presidente Bolsonaro revela que a sua renúncia deve ser definitiva.
“Sim, positivo. Cogito. Eu só vou ter tranquilidade de voltar ao Brasil quando Alexandre de Moraes não for mais ministro da Suprema Corte ou estiver sendo posto no devido lugar dele. Fora isso, não tenho a possibilidade de voltar ao Brasil”, declarou Eduardo Bolsonaro à CNN.