Com olhos vermelhos e marejados, em meio aos prantos ao confirmar a fuga para os EUA, Eduardo Bolsonaro (PL-RJ) divulgou um vídeo nas redes sociais na noite desta terça-feira (18) após o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), rejeitar e arquivar a ação que pedia a cassação de seu passaporte.
Destilando ódio, o filho "03" de Jair Bolsonaro (PL), reiterou as ameaças contra o Brasil, dizendo que será "a maior pedra no sapato" e jurando vingança a Moraes e aos adversários políticos, em especial aos deputados Lindbergh Farias (PT-RJ) e Rogério Correia (PT-MG), que moveram a ação pedindo o confisco do passaporte.
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"Agora a PGR decidiu que é contra a cassação de meu passaporte. E olha que casualidade: quando chega nas mãos de Alexandre de Moraes, no mesmo dia, talvez não tenha passado nem uma hora, ele vai e arquiva o pedido dos deputados do PT. Podem estar comemorando agora que eu não estou na presidência da Creden, mas ganharam a maior pedra no sapato. Podem ter certeza absoluta disso: o que eu vou fazer aqui fora, a energia que eu vou colocar nisso tudo, é diretamente proporcional à vontade de vocês me humilharem", disse.
Eduardo se refere à comemoração do líder e vice-líder do PT na Câmara, que em vídeo falaram da "importante" repercussão na casa legislativa da fuga de Eduardo, que era o indicado do PL para assumir a presidência da Comissão de Relações Exteriores. Sem Eduardo, o PL deve indicar o deputado Zucco (PL-RS), que é líder da minoria, ou Filipe Barros (PL-PR), que tem o apoio de Bolsonaro.
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O ex-deputado, que abandonou os mais de 700 mil eleitores paulistas que deram seu voto a ele em 2022, ainda afirmou que acredita na "providência divina" para virar essa história.
Benção de Trump
Além da "providência divina", Eduardo Bolsonaro contou com o aval de Donald Trump para ficar nos EUA, onde deve residir com a esposa e os dois filhos para levar adiante a tentativa de conspirar, levantando sanções e tentando interferir na política interna do Brasil.
Segundo informações de Malu Gaspar, no jornal O Globo, o filho de Bolsonaro "vinha cogitando o plano há dias e discutiu a estratégia com a Casa Branca de Donald Trump antes de bater o martelo sobre não retornar ao Brasil".
A jornalista creditou a informação a Paulo Figueiredo, neto do ditador João Baptista Figueiredo e denunciado na quadrilha golpista, que atua com Eduardo na cooptação de apoio de parlamentares e políticos da ala radical do trumpismo para se vingar do Brasil.
De acordo com Figueiredo, não houve objeção do governo Trump em abrigar Eduardo, embora o republicano esteja prendendo e fazendo deportações em massa de imigrantes ilegais.
Choro ao vivo
Antes de prometer vingança, Eduardo protagonizou uma cena patética nas redes sociais durante entrevista ao jornalista Luis Ernesto Lacombe, quando caiu no choro e tentou se esconder embaixo da mesa.
"É que eu não gosto de parecer que eu tô me vitimizando, né?, disse, se vitimizando ao falar que pode nunca mais ver o pai.
"O que eu vou fazer? E se ele resolver me prender igual ele fez com o Daniel Silveira devido ao que eu tenho falado, né? Eu vou ficar sem ver meus filhos crescer? Vou ficar, poxa, Jorge há quatro anos, Jair Henrique um ano, e minha mulher tendo que me visitar em cadeia sendo que não cometi crime nenhum, entendeu? Então tem muita coisa que pesa quando você toma essa decisão", disse Eduardo, às lágrimas.
Ele afirmou que seu pai autorizou a fuga: "Conforme eu fui conversando com ele, ele foi entendendo os meus argumentos também, ele aceitou a decisão", disse.
Bolsonaristas presas
Na segunda-feira (17), Figueiredo falou sobre outro caso que circunda o bolsonarismo e comparou o caso das quatro bolsonaristas presas pelo governo Donald Trump nos EUA com o do colega Allan dos Santos, que também se refugiou nos EUA.
Raquel Lopes, Rosana Maciel e Cristiane da Silva, condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), e Michely Paiva, que também é ré por golpe de Estado, foram presas ao entrarem ilegalmente nos EUA, onde pretendiam buscar refúgio político.
Raquel foi presa em 12 de janeiro, em La Grulla, na fronteira do México com o Texas, enquanto as outras três golpistas foram para a cadeia em 21 de janeiro, um dia após a posse de Trump. Elas foram capturadas em El Paso, na mesma fronteira de EUA e México.
Na rede X, Figueiredo afirmou que "é uma situação muito difícil para quem entrar ilegalmente nos EUA, pois o governo Trump tem uma política de tolerância zero".
"É uma questão, portanto, imigratória (deportação) e não criminal (extradição). Casos totalmente diferentes do Allan e outros asilados", afirmou.
Figueiredo, que atua com Eduardo Bolsonaro (PL) para fazer lobby por uma intervenção de Trump na "ditadura do judiciário" no Brasil, então sinalizou qual seria o caminho para livrar as golpistas da prisão.
"O governo americano não extraditará procurados pela ditadura do Alexandre, mas deportará brasileiros e quaisquer imigrantes que entrem ilegalmente no país", emendou, fazendo um "apelo" para que os golpistas "não entrem ilegalmente nos EUA e não venham sem um caso imigratório sólido".
Figueiredo ainda ironizou o comentário de um seguidor, que disse que "elas poderiam entrar facilmente com pedido de asilo por perseguição política".
"Nossa ninguém nunca tinha pensado nisso", respondeu Figueiredo.
Segundo informações divulgadas por Jamil Chade, no portal Uol, alas políticas mais radicais do trumpismo já teriam colocado o tema em debate nos "círculos mais próximos da Casa Branca" alegando que seria um feito para levantar a bandeira que vem sendo defendida por Trump para intervir no cenário internacional: a interpretação que fazem sobre liberdade de expressão.
O Departamento de Estado, no entanto, não se pronunciou sobre o caso.
Essa ala mais radical querem que as brasileiras, presas pela ICE - a polícia de imigração dos EUA -, sejam tratadas como foragidos e recebam um tratamento semelhante a que Trump deu aos invasores do Capitólio, perdoando as penas e os considerando como "heróis".
Esses radicais estariam usando argumentações propagadas por Elon Musk nas redes sociais para atacar Alexandre de Moraes. A mesma narrativa é usada por Eduardo Bolsonaro para pedir que o ministro do STF seja impedido de entrar nos EUA e tenha as contas bloqueadas.
Conspiração
Entre os parlamentares republicanos que atuam no lobby pró-Bolsonaro estão o eputado trumpista Richard McCormick, da Georgia.
Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo, neto do ditador João Baptista Figueiredo que foi denunciado pela tentativa de golpe, se encontraram com McCormick em 11 de fevereiro.
Na rede X, Eduardo revelou que, em conluio com o estadunidense, quer que Donald Trump imponha sanções ao Brasil utilizando a Lei Magnitsky, de 2012, usada pelos EUA contra aqueles que considera infratores dos direitos humanos.
"Agradeço a menção ao meu pai, Pres. Jair Bolsonaro, e o apoio do nobre Deputado americano Richard McCormick (Rep.-Georgia). A perseguição política enfrentada hoje no Brasil, através da 'LAWFARE' (guerra judicial), está envergonhando nosso Brasil diante do mundo. É lamentável ver que as sanções Magnitsky, normalmente reservadas para DITADURAS e violadores de direitos humanos, agora estão sendo consideradas contra autoridades do nosso país", diz Eduardo, como se não tivesse articulada a tentativa de sanção ao Brasil com o deputado estadunidense.
Um pouco antes de Eduardo, Jair Bolsonaro foi às redes e comemorou a publicação, agradecendo "a solidariedade e consideração" do deputado republicano.
"É triste o que nosso país vem passando ultimamente. Esperamos que não chegue a um ponto mais extremo, por conta de alguns que se consideram deuses e acima da lei, colocando em risco toda a estrutura do nosso amado país. Deus os abençoe", afirmou o ex-presidente denunciado por golpe de Estado.
Bolsonaro também agradeceu ao senador republicano Mike Lee, do Arizona, que anunciou que viajará "para o Brasil no final deste ano com alguns dos meus colegas do Senado e pretendo fazer algumas perguntas difíceis sobre o Juiz Alexandre de Moraes e a suposta instrumentalização política do sistema judiciário brasileiro".
"Muito obrigado, Senador Mike Lee. Infelizmente, o Brasil foi convertido em um laboratório de ativismo judicial, abusos de poder e aplicação seletiva da lei para fins políticos", escreveu o ex-presidente às 23h46.
Bolsonaro também agradeceu a Elon Musk que compartilhou a publicação do senador Mike Lee sobre a "visita" ao Brasil no final do ano: "good", escreveu o bilionário.
"Hugs from Brazil, @elonmusk", comentou Bolsonaro, mandando abraços em inglês.