O ex-presidente Jair Bolsonaro reagiu nesta quinta-feira (6) a uma fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre seus reiterados pedidos por anistia.
Na última quarta-feira (6), em entrevista a emissoras de rádio de Minas Gerais, Lula impôs humilhação a Bolsonaro ao afirmar que o próprio ex-presidente está se condenando ao pedir anistia pela tentativa de golpe de Estado no país.
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Indiciado pela Polícia Federal (PF) no inquérito que apura a trama golpista e prestes a ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) pelo caso, o ex-mandatário reiteradamente pede anistia aos envolvidos com os ataques de 8 de janeiro de 2023 e, caso o perdão seja concedido, poderia, em última instância, ser beneficiado, já que a investigação da PF afirma categoricamente que Bolsonaro "planejou, atuou e teve domínio de forma direta e efetiva" da tentativa de golpe que culminou na invasão os prédios dos Três Poderes em Brasília.
"As pessoas são muito interessantes. Nem terminou o processo, já querem anistia. Não acreditam que são inocentes? Eles deveriam acreditar, e não ficar pedindo anistia antes de o juiz determinar a punição", disse Lula na entrevista .
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"O que estamos garantindo é um processo de julgamento altamente democrático, em que eles têm todo o direito de defesa (...) As pessoas estão se condenando, acham que fizeram exatamente aquilo que a Justiça diz. Esperem o julgamento, se defendam (...) Quem vai decidir é a Justiça, se vai absolver ou condenar", prosseguiu.
Na mesma entrevista, Lula ainda disparou: "Se a Justiça disser que ele [Jair Bolsonaro] pode concorrer às eleições, ele pode concorrer. E, se for comigo, vai perder outra vez".
Bolsonaro, então, reagiu com um vídeo divulgado em seu Instagram no qual, sem citar diretamente as declarações de Lula, menciona o projeto de anistia aos golpistas que está parado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e afirma que o novo presidente da Casa, Hugo Motta, deve pautar a discussão da proposta e que ela não prevê anistia para si mesmo, mas apenas para os condenados pelo 8 de janeiro.
"Não é a minha anistia. Eu não estou condenado em absolutamente nada. É a anistia dessas pessoas, dezenas e dezenas de pessoas, condenadas a penas absurdas", afirma o ex-mandatário.
Assista:
Quem também reagiu à crítica de Lula aos pedidos de anistia foi Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação de Bolsonaro que, atualmente, assessora e advoga para o ex-presidente. Segundo ele, o ex-mandatário "nunca" pediu anistia para si próprio.
"O presidente Bolsonaro nunca pleiteou nada para ele mesmo. Isso nunca existiu. Ele defende anistia para os atos do 8 de janeiro, para os que estão presos injustamente", afirmou.
Não é bem assim
Apesar de Bolsonaro e Wajngarten sustentarem que o ex-presidente não pede anistia para si próprio, declarações do ex-mandário mostram que seu apoio a projetos que perdoem os golpistas visam, sim, beneficiá-lo.
Em outubro de 2024, pro exemplo, Bolsonaro foi ao Congresso Nacional para negociar o apoio do PL aos então candidatos à presidência da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre e, em entrevista, confirmou que discutiu um projeto de anistia que priorizasse os condenados pelo 8 de janeiro, mas confirmando que quer anistia para si mesmo com o intuito de se livrar da condenação à inelegibilidade até 2030.
"Foi um julgamento político (a inelegibilidade). e estamos buscando maneiras de desfazer isso aí. A prioridade nossa é o pessoal que está preso, eu sou o segundo plano", declarou à época.
O novo plano de Bolsonaro para ser candidato em 2026
A extrema-direita e o centrão na Câmara articulam um plano para reabilitar Jair Bolsonaro até 2026, extinguindo a inelegibilidade do ex-presidente.
Condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em duas ações por abuso de poder político, Bolsonaro está inelegível até 2030. Um projeto do deputado federal Bibo Nunes (PL-RS), no entanto, pode mudar esta situação e permitir que o ex-presidente seja candidato na próxima eleição presidencial.
No último sábado (1), integrantes do PL, incluindo o próprio ex-presidente, realizaram uma reunião em Brasília, pouco antes das eleições à presidência da Câmara e do Senado. No encontro, ficou definido que uma das prioridades do partido em 2025 será aprovar Projeto de Lei Complementar (PLP) 141/2023, do deputado Bibo Nunes, que esvazia a Lei da Ficha Limpa e reduz de 8 para 2 anos o período de inelegibilidade para condenados por abuso de poder político, como é o caso de Jair Bolsonaro.
Segundo Bibo Nunes, o projeto, que será relatado pelo bolsonarista Felipe Barros (PL-PR), já conta com o apoio de integrantes do centrão. Neste momento, a proposta tramita na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara e aguarda um parecer do relator para ir à votação.
"Com o Presidente Bolsonaro no encontro do PL, hoje, onde confirmamos apoio total para ele como candidato em 2026. O PLP 141/23, de minha autoria é que reduz a inelegibilidade de 8 para 2 anos, viabilizando a candidatura. O colega Felipe Barros será o relator e será prioridade do PL a aprovação. Bolsonaro Presidente em 2026!", escreveu Bibo Nunes ao divulgar uma foto com Bolsonaro.
Bolsonaro já fala como se estivesse elegível
Em discurso na reunião do PL em Brasília no último sábado (1), Jair Bolsonaro falou como se não estivesse inelegível e já fosse candidato à presidência em 2026.
“Por ocasião das eleições do ano que vem, me deem metade da Câmara dos Deputados e metade do Senado, que eu movo o Brasil”, disparou o ex-presidente.