Cinco meses após sua demissão do Ministério de Direitos Humanos e Cidadania em meio à acusações de assédio sexual da colega Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial, Silvio Almeida deu uma longa entrevista ao portal Uol, onde contou pela primeira vez sua versão sobre o caso.
Anielle relatou, à época, que em uma reunião no dia 16 de maio de 2023, na sede do Ministério da Igualdade Racial, Almeida teria passado a mão entre suas pernas por baixo da mesa.
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O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, e o diretor-presidente substituto da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Tiago Pereira, estavam presentes.
"Imagine uma reunião em que estão dois ministros. Eu, sentado, na lateral da mesa; a ministra sentada na ponta, outras pessoas sentadas, o presidente da Anac [Agência Nacional de Aviação Civil], e logo na minha frente o diretor geral da Polícia Federal. Eu passaria a mão nas pernas de uma ministra numa reunião na frente do diretor geral da PF? Isso é um descalabro", rebateu Almeida na entrevista desta segunda-feira (24).
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Segundo ele, foi uma "reunião tensa para falar sobre casos de racismo nos aeroportos", onde surgiu uma divergência com a ministra que, segundo ele, foi "extremamente deselegante".
"Comecei a dar opiniões e, em determinado momento, ela pega meu braço e fala mais ou menos assim: 'Em todo lugar você quer dar aula. Aqui não é lugar de dar aula'. Eu me calei. Tinha outro compromisso e saí da reunião", contou Almeida, ressaltando que "deixei a secretária executiva no restante da reunião".
Após o ocorrido, Almeida afirmou que conversou com sua equipe, relatando que Anielle foi "desrespeitosa", e deu uma derminação: "Só vamos falar de questões relacionadas à política de igualdade racial dentro dos limites da competência do Ministério dos Direitos Humanos. Não vamos nos meter nas políticas de promoção da igualdade racial".
O ex-ministro diz, então, que a colega estaria incomodada com fofocas que diziam que ela "se sentia incomodada com o fato de eu ser tido como referência na área atinente ao ministério dela".
"Só que eram fofocas. Eu não tinha tempo de lidar com fofoca, o que pode ter sido um erro meu. Não tinha entendido que a política é feita de intriga. Tem gente especialista, dentro e fora do governo, em criar intriga e vazar para a imprensa. Tanto eu quanto Anielle Franco fomos enredados nessa imundice", disse.
Indagado se Anielle não teria "muito a perder inventando uma história dessas", Almeida afirmou que acredita que ela "caiu em uma armadilha", da qual ele também foi vítima.
"Acho que ela caiu numa armadilha, a falta de compreensão de como funciona a política — a armadilha em que eu caí também", disse o ex-ministro, ressaltando que acredita que a colega "se perdeu no personagem".
"Para tentar me desgastar, ela participou desse espalhamento de fofocas e intrigas sobre mim. O objetivo talvez fosse minar minha credibilidade, tirar meu espaço em certos círculos da elite carioca, da academia, com pessoas ligadas ao sistema de justiça. Me queimar. Essa fofoca se tornou objeto de interesse do jornalismo. Isso se tornou um caso de interesse das autoridades policiais. E foi hipotecada uma crise enorme para o governo. Ela perdeu o controle da narrativa".
Segundo a versão de Almeida, após avalizar o caso, Anielle tinha dois caminhos: "Ou ela dizia que não aconteceu; ou dobrava a aposta na história inverídica, destruindo políticas importantes, a minha vida pessoal e da minha família".
"Ela escolheu o caminho da destruição", emendou.
Almeida ainda negou os outros casos que surgiram à época, que partiram de ex-alunas e a professora Isabel Rodrigues, que se candidatou a vereadora em Santo André após a divulgação da acusação.