Um estudo recente da Mar Asset Management projeta que, até outubro de 2026, os evangélicos representarão 35,8% da população brasileira. Essa estimativa foi calculada com base em dados da Receita Federal e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), reforçando a influência crescente desse segmento no cenário político do país. Historicamente alinhados com pautas conservadoras, os evangélicos se consolidaram como um dos principais pilares do bolsonarismo, resistindo aos acenos do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A Consolidação do Voto Evangélico na Direita
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Nas eleições de 2022, quando representavam 32,1% da população, os evangélicos demonstraram forte apoio a Jair Bolsonaro (PL). Pesquisas do Datafolha apontaram que, às vésperas do segundo turno, 69% desse grupo manifestava intenção de voto no então presidente, mantendo um padrão iniciado em 2018, quando Fernando Haddad (PT) obteve apenas 31% dos votos evangélicos.
Para o cientista político Vinicius do Valle, diretor do Observatório dos Evangélicos, o afastamento do segmento em relação ao PT teve início no segundo mandato de Dilma Rousseff. Um dos marcos dessa ruptura foi a divulgação do 3º Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH3), que incluía apoio à descriminalização do aborto. A reação negativa das lideranças religiosas levou o governo a recuar, mas a relação entre PT e evangélicos continuou se deteriorando.
A Influência Política e o Apoio ao Impeachment
O distanciamento se intensificou com a ascensão de figuras polêmicas como o deputado Marco Feliciano (PL-SP), que, ao assumir a presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, promoveu pautas controversas, como a "cura gay". Enquanto essas questões geravam embates entre lideranças evangélicas e ministros do governo Dilma, a rejeição à presidente crescia, culminando em seu impeachment com 92% de apoio da bancada evangélica.
Atualmente, essa tendência de afastamento do PT se reflete na baixa popularidade de Lula entre os evangélicos. De acordo com levantamento do Datafolha, 48% desse grupo avaliam seu governo como ruim ou péssimo, enquanto na população geral esse índice é de 41%. Apenas 21% consideram sua gestão ótima ou boa, uma queda em relação aos 26% registrados em dezembro de 2023.
Tentativas Frustradas de Aproximação
Desde o início de seu terceiro mandato, Lula tem encontrado dificuldades em reconstruir pontes com o segmento evangélico. Durante a campanha de 2022, rumores falsos sobre um suposto plano petista de fechamento de igrejas fortaleceram a resistência do grupo ao governo. Após eleito, o presidente tentou se aproximar por meio de medidas como a ampliação da imunidade tributária das igrejas. No entanto, especialistas consideram que essas iniciativas não foram suficientes para mudar a percepção negativa.
Enquanto o governo enfrenta dificuldades no diálogo, pastores influentes que apoiaram Bolsonaro seguem firmes em sua oposição. O bispo Robson Rodovalho, da igreja Sara Nossa Terra, avalia que Lula governa prioritariamente para a esquerda e que a primeira-dama, Janja da Silva, tem reforçado a rejeição evangélica devido ao seu engajamento em pautas progressistas.
Já o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, destaca três episódios que, segundo ele, afastaram ainda mais os evangélicos do atual governo: a revogação de portarias que dificultavam o aborto, as declarações de Lula contra o discurso de "costumes, família e patriotismo" e sua afirmação de que se orgulha de ser chamado de comunista. "A própria palavra de Lula está muito viva. Esses fatores ideológicos mexem com as crenças dos cristãos e serão relembrados durante as eleições", afirmou Malafaia.
O Futuro Político e o Crescimento Evangélico
As projeções indicam que o crescimento da população evangélica pode redefinir o cenário eleitoral em 2026. Dados da Receita Federal revelam que o número de templos evangélicos por 100 mil habitantes aumentou de 22,7 em 2000 para 65,4 em 2024, e a tendência é que atinja 69,6 até a próxima eleição presidencial.
Essa expansão está diretamente relacionada às preferências eleitorais do segmento. O PT e outros partidos de esquerda têm enfrentado dificuldades em conquistar votos nos municípios com maior presença evangélica, o que contribui para o enfraquecimento do partido em disputas nacionais. A vitória de Lula em 2022 foi impulsionada pelo forte apoio dos não evangélicos, mas essa estratégia pode não ser suficiente em 2026.
Se as intenções de voto entre evangélicos e não evangélicos permanecerem semelhantes às de 2022, Lula obteria apenas 49,8% dos votos válidos em uma eventual tentativa de reeleição. Com a perspectiva de deterioração econômica nos próximos anos, o desafio do PT em reverter essa tendência se torna ainda maior.
Dessa forma, o crescimento do eleitorado evangélico e sua inclinação por candidatos conservadores podem ser fatores decisivos no próximo pleito presidencial, colocando em risco a permanência do PT no poder.