ECONOMIA

Orlando Silva defende "mais ousadia" na política econômica do governo Lula

Em entrevista ao Fórum Onze e Meia, o deputado avaliou que o principal problema do governo é a disputa na área econômica

Deputado federal Orlando Silva.Créditos: Mário Agra/Câmara dos Deputados
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O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) esteve no programa Fórum Onze e Meia desta sexta-feira (14) e fez avaliações sobre o governo Lula (PT) em relação à economia e outras áreas centrais de disputa política do presidente. Para o parlamentar, o principal problema do governo federal não é a comunicação, mas, sim, a área econômica, onde defendeu que é preciso ter mais "ousadia".

Orlando afirmou que se as dificuldades ficarem reduzidas à comunicação, o governo irá "se enrolar" e abstrair problemas de outras áreas, como a economia. Ele declara, por exemplo, que não gostou da solução que o governo ofereceu no começo do mandato em relação ao arcabouço fiscal. "Porque não existe experiência no mundo que nós não tenhamos o Estado nacional na fase capitalista como um instrumento que induza ao desenvolvimento e o Brasil está precisando disso", analisa. "Vai ver nos Estados Unidos, o que os americanos fazem na fase de dificuldade é mais Estado", destaca.

O deputado ainda afirma que, muitas vezes, a esquerda incorpora ideias que são "estranhas" ao pensamento ideológico defendido. "A gente vai incorporando certas ideias de política econômica que vão metendo uma forca no nosso pescoço. Para mim, esse é um problema estrutural", afirma o deputado. Para resolver essa questão, Orlando defende que é preciso adotar "alternativas heterodoxas".

"O Lula, no primeiro governo dele, teve duas fases. O Lula 1 flertou muito com o chamado tripé macroeconômico, era o tripé que o [Antonio] Palocci sustentava. Foi no segundo governo, onde ele ousou mais, que nós conseguimos melhores resultados, saímos da armadilha", pontua o deputado. Orlando reconhece, porém, que hoje a situação é mais complexa devido a "muitas variáveis políticas".

"Hoje, é mais complexo ainda porque a burguesia brasileira teve capacidade de blindar a política econômica. Meteram autonomia no Banco Central e só o Banco Central cuida de dois dos três pontos associados: política monetária e política cambial. O que resta de política econômica é política fiscal, e se a gente mete um cinto de segurança que impede de agir na política fiscal, a gente tem dificuldade de fazer com que o governo cumpra com o seu objetivo", explica o deputado.

Orlando ainda acrescenta que a defesa de que o governo "é igual uma família" é "conversa para boi dormir". "Uma família é uma família. Uma família não pode mesmo gastar mais do que arrecada. O Estado não. O Estado tem mais liberdade, tem mais instrumentos, mais possibilidades. O Brasil tem empresas estatais relevantes, tem um polo financeiro público relevante, tem caminhos para poder construir", analisa. 

"Se temos um problema nuclear não é exatamente a comunicação, é uma disputa que está no governo sobre qual é o nosso rumo para reconstruir o Brasil", afirma o deputado. Orlando também defende que Lula é "a melhor parte do governo" e que é preciso dar suporte ao presidente. "O Lula, para mim, é a encarnação da face mais classista do governo, é a encarnação da face mais inquieta do governo, menos adaptada", diz. 

"Na minha convicção, nós temos que ter mais ousadia na política econômica. Porque se é para fazer igual os caras fazem, deixa os caras fazerem. Então, não tenho a menor dúvida que essa atenção é importante", acrescenta.

O deputado ainda considera que mais importante do que o diálogo com o mercado, é a relação com o supermercado. "É o supermercado que está atingindo a inflação de alimentos que pega no nosso povo e que nós temos que cuidar", destaca Orlando. 

Esquerda precisa refazer sua estratégia de comunicação

O deputado também debateu a atuação comunicacional da esquerda em comparação com a extrema direita. Orlando defende que o combate à desinformação é somente "um pedaço" de um assunto mais complexo que a esquerda não conseguiu sustentar seu enfrentamento. Nesse sentido, o deputado entende que a esquerda precisa refazer toda sua estratégia. 

"A extrema direita parte de uma premissa falsa de que eles são os defensores da liberdade de expressão. De repente, a narrativa básica é a seguinte: 'a esquerda quer censurar a internet e liberdade de expressão só existe porque a direita garante'. Sendo que, como explicar alguém defender a liberdade de expressão e ser favorável a um golpe de Estado? Ser favorável e fazer apologia a ditaduras que em sua natureza cessam a liberdade de expressão?", pontua o deputado.

Diante disso, Orlando afirma que a esquerda precisa refletir "verdadeiramente" sobre esse debate em torno da liberdade de expressão. "Eu não gosto dessa movimentação de ir para o judiciário contestar discurso político de direita ou de esquerda. Eu defendo cautela. Porque às vezes o judiciário se move num sentido, uma turma se entusiasma, mas eu acho que vai sempre se voltar contra nós. A estrutura do Estado se consolida e se volta sempre contra quem é contra a ordem. Como eu sou contra a ordem, sou a favor de um projeto histórico diferente, eu sei que vai se voltar contra mim em algum momento", analisa o deputado.

Nesse sentido, Orlando defende que é necessário fazer mais debates na esfera pública "e não ficar apenas nos amarrando em legislação e no poder judiciário".

"Então, eu acredito que nós precisaríamos fazer um debate político com a sociedade quanto à importância de nós fortalecermos a liberdade de expressão como mecanismo para fortalecer a democracia, e o Brasil ter regras que garantam transparência e responsabilidade para essas empresas [big techs] e medidas para liberdade de expressão dos usuários nas redes", defende o deputado.

Além disso, Orlando também pontua que é preciso que o Brasil desenvolva soberania tecnológica. "Nós temos que ter dados de brasileiro no Brasil. Não dá para os dados brasileiro ficarem à disposição dos americanos o tempo inteiro. Nós temos que, em parceria com outras outras nações, desenvolver ferramentas", completa o deputado.

Confira a entrevista completa do deputado Orlando Silva ao Fórum Onze e Meia

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