O historiador, cientista político e ex-presidente do PSOL Juliano Medeiros participou do Fórum Onze e Meia desta segunda-feira (10) e comentou sobre a campanha da base bolsonarista para mudar a Lei da Ficha Limpa, com o objetivo de beneficiar Jair Bolsonaro (PL), condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e inelegível por oito anos. Aliados do ex-presidente estão pressionando para a tramitação de um projeto de lei complementar (PLC), de autoria do deputado federal Bibo Nunes (PL-RS), que prevê a diminuição de oito para dois anos de inelegibilidade.
Medeiros, porém, destacou que o desejo de realizar mudanças na Lei da Ficha Limpa é um "sonho antigo do Centrão", e não só um movimento aflorado pelos bolsonaristas. "Eu não colocaria esse desejo do Hugo Motta e do Centrão apenas como forma de atender ao Bolsonaro, porque de fato o Centrão, há muito tempo, não gosta da Lei da Ficha Limpa e só a engoliu porque houve uma grande mobilização na época", afirmou Medeiros. O cientista político acrescentou que, por ter sido um movimento de caráter popular, foi criado um ambiente que tornou praticamente impossível se colocar contra a Lei da Ficha Limpa.
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Em relação ao novo presidente da Câmara dos Deputados, Juliano acredita que Hugo Motta está vendo as oportunidades e, caso haja possibilidade de mudar a Lei da Ficha Limpa, ele vai fazer as modificações.
Principais temas que marcam a atual conjuntura brasileira
Medeiros também comentou sobre os novos desafios, tanto internos quanto externos, que se apresentam ao governo Lula na atual conjuntura brasileira. Um desses desafios é justamente encabeçado pelo novo presidente da Câmara em relação ao equilíbrio de forças entre governo e oposição.
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O primeiro tema que marca a disputa política, de acordo com Medeiros, é a batalha em torno do orçamento, envolvendo as emendas secretas, a disputa em torno do culpado pela inflação dos alimentos, a crise do Pix, entre outros. "O tema econômico se tornou um terreno de disputa", destacou Medeiros.
O historiador ressaltou que o governo tem bons números na Economia, a inflação está controlada, o desemprego está em baixa e o crescimento econômico está "relativamente sustentável" nesses últimos dois anos, porém essas mudanças não estão sendo percebidas pela população. "Especialmente por conta da inflação, que está muito concentrada nos alimentos por conta do câmbio e por conta também das questões climáticas. E o governo não está conseguindo fazer essa disputa importante e que está na ordem do dia como um dos temas mais importantes da agenda política neste início de 2025", disse Medeiros.
O segundo desafio do governo pontuado por Medeiros é em relação à vitória de Donald Trump nos Estados Unidos e seus impactos na geopolítica. Para o historiador, esse cenário depende do papel que o Brasil vai assumir para o mundo e tem a ver com as alianças regionais, além das respostas que o Brasil vai dar a Trump seja em relação à Palestina ou à guerra comercial contra a China e o BRICS.
"Nós temos aí todo um capítulo que o governo brasileiro precisa responder de forma adequada, inclusive para a partir desse tema mais internacional também fazer política doméstica e reforçar o papel do presidente Lula como líder", defendeu Medeiros.
O terceiro desafio se refere ao equilíbrio de forças dentro da política brasileira, sobretudo com a eleição de Hugo Motta. Medeiros reforçou que o presidente da Câmara foi eleito tanto com apoio do bolsonarismo como de boa parte do governo, incluindo partidos como PT e PCdoB.
"Ele vai tentar se equilibrar. Ele dá um sinal dizendo que vai ajudar o governo a aprovar a sua agenda no Congresso Nacional e ele dá uma declaração dizendo que acha que o 8 de Janeiro não foi golpe. Ele dá uma piscadinha para o semipresidencialismo quando alguém levanta essa possibilidade e, ao mesmo tempo, diz que não vai atrapalhar o governo na sua agenda da Reforma Tributária, ou seja, ele está começando o seu governo na presidência da Câmara como todo governante: fazendo acenos para sua base eleitoral", acrescentou o historiador.
Medeiros prevê, desse modo, que a relação do governo com a Câmara dos Deputados vai se manter em um "equilíbrio delicado" como era com Arthur Lira (PP-AL).
Por fim, o historiador ressaltou que esses três grandes temas "estão na ordem do dia e vão exigir do governo, e das esquerdas em geral, respostas muito ajustadas e adequadas, sem muito espaço para improviso, sem muito espaço para 'tirar coelho da cartola'. "Vamos ter que agir com muita sabedoria neste começo de ano para mostrar quem é quem e para mostrar que os grandes problemas do Brasil não são culpa do governo Lula, são culpa ou de situações estruturais, até mesmo internacionais em alguns casos, mas também é culpa de quem quer sabotar o programa que foi eleito nas eleições em 2022", afirmou Medeiros.
Confira a entrevista completa de Juliano Medeiros ao Fórum Onze e Meia
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