Somando-se ao coro da extrema direita que ficou desesperada com o sucesso do filme "Ainda Estou Aqui" e a premiação de melhor atriz conquistada por Fernanda Torres no Globo de Ouro, o ex-presidente Jair Bolsonaro promoveu um ataque à obra com uma crítica totalmente bizarra à Lei Rouanet.
Em publicação nas redes sociais nesta segunda-feira (6), o ex-mandatário divulgou um vídeo gravado em 18 de dezembro sobre a "indústria das balsas" em Goiânia.
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"Será que 18 bi da lei Rouanet daria para fazer duas cabeceiras?" diz uma frase junto ao vídeo, que mostra um homem reclamando que as cabeceiras da ponte que passar por cima do rio não foram finalizadas pelo governo federal, culminando em uma "indústria das balsas".
Bolsonaro, então, escreveu junto ao vídeo: "Parece vídeo repetido, mas não é. Outro brasileiro denunciando a volta da INDÚSTRIA DAS BALSAS. O investimento na infraestrutura é rechaçada pela gestão lula e coincidentemente jamais cobrada conclusão por outros de outrora. Enquanto isso, a Rouanet...".
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A publicação representa uma indireta clara ao filme "Ainda Estou Aqui", já que foi divulgada por Bolsonaro na esteira da repercussão da premiação de Fernanda Torres no Globo de Ouro e em meio a fake news de bolsonaristas que reproduzem cegamente discurso de ódio contra a lei de incentivo a produções culturais.
Acontece que o filme "Ainda Estou Aqui" não teve qualquer financiamento da Lei Rouanet. A obra, dirigida por Walter Salles, foi financiada com recursos privados das produtoras VideoFilmes,RT Features e MACT Productions.
A Lei nº 8.313/1991, popularmente conhecida como Lei Rouanet, foi criada no Brasil em 1991 com o objetivo de fomentar a cultura por meio de incentivos fiscais, permitindo que empresas e pessoas físicas direcionem parte do imposto de renda devido para financiar projetos culturais. Desde 2007, a legislação passou a restringir o financiamento a longas-metragens, limitando o apoio a obras cinematográficas de curta e média duração e a documentários. "Ainda Estou Aqui", portanto, não se encaixa em tais critérios.
Além de ser desmascarado, Jair Bolsonaro passou vergonha com a publicação ao ser questionado por usuários das redes sociais o motivo pelo qual seu governo não concluiu as obras da ponte em Goiânia que evitariam a "indústria das balsas" mencionada em sua publicação.
Marcelo Rubens Paiva manda indireta a Bolsonaro
Autor de "Ainda Estou Aqui", livro que deu origem ao filme de Walter Salles, Marcelo Rubens Paiva celebrou nas redes sociais a vitória histórica de Fernanda Torres no Globo de Ouro 2025. A atriz foi premiada em cerimônia neste domingo (5) em Los Angeles (EUA) por seu papel como Eunice Paiva, mãe do escritor, na produção.
Primeira atriz brasileira a conquistar um prêmio de atuação no Globo de Ouro, a filha de Fernanda Montenegro agora desponta como uma das favoritas a uma indicação ao Oscar 2025 de Melhor Atriz, cuja cerimônia está prevista para 2 de março.
“Tentaram acabar com o cinema brasileiro, criminalizar leis de incentivo à cultura, mas nós ainda estamos aqui. Eles se vão, a gente fica! Viva Fernanda Torres e Montenegro, Sônia, Marília, Glauber, Nelson, Babenco, Walter, Meirelles, Padilha, Kleber, Karim, Anselmo e tantos outros”, escreveu o filho mais novo de Eunice Paiva, a advogada e ativista representada no filme que dedicou sua vida à luta pelos direitos humanos, especialmente após a morte de seu marido, Rubens Paiva, durante a ditadura militar.
No governo Bolsonaro, a cultura foi vítima de ataques através do esvaziamento do Ministério da Cultura, do desmantelamento da Agência Nacional do Cinema (Ancine), das acusações de censura, das referências nazistas, das alusões à ditadura militar, da substituição de gestores e da influência da moral religiosa na seleção de projetos a serem financiados.
Além de tudo isso, o ex-presidente na época vetou o projeto da Lei Paulo Gustavo, que foi derrubado pelo Congresso Nacional. Em homenagem ao ator Paulo Gustavo, falecido em 2021, a Lei Complementar no 195, de 2022, foi criada para ajudar artistas e trabalhadores da cultura prejudicados durante a pandemia do coronavírus e segue até hoje, ao lado de outras iniciativas culturais, sendo um instrumento de sobrevivência a diversos projetos culturais independentes.
O ex-presidente, indiciado pela Polícia Federal (PF) por tentativa de golpe de Estado entre outros crimes, cuspiu na estátua do ex-deputado federal e desaparecido político Rubens Paiva. O fato, lembrado por Chico Paiva Avelino, neto do deputado, aconteceu em 2014, durante a cerimônia de inauguração do busto, que fica na Câmara dos Deputados.