SÃO PAULO

Nova secretária de Nunes articulou aliança global com extremistas e ultraconservadores

Angela Vidal Gandra, ex-secretária do governo Bolsonaro, é um dos principais nomes da articulação internacional da extrema direita

Angela Vidal Gandra, atual secretária de Relações Internacionais de São Paulo.Créditos: Willian Meira/Governo Federal
Escrito en POLÍTICA el

Na quarta-feira (1°), ao tomar posse para seu segundo mandato à frente da Prefeitura de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) nomeou para a Secretaria de Relações Internacionais a advogada Angela Vidal Gandra Martins. Durante o governo Bolsonaro, Gandra ocupou o cargo de secretária Nacional da Família, sendo grande aliada da ex-ministra e atual senadora Damares Alves (Republicanos-DF). 

Gandra é filha do advogado conservador Ives Gandra Martins, que teve relação com a articulação dos atos golpistas de 8 de Janeiro após ser encontrada, no celular do ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, uma tese sobre a utilização do artigo 142 com orientações que ajudavam a fundamentar a tomada de poder pelas Forças Armadas.

Além disso, seu pai e seu irmão, Ives Gandra Martins Filho, ministro do Tribunal Superior do Trabalho, fazem parte da entidade católica ultraconservadora Opus Dei.

Durante sua atuação no governo Bolsonaro, Gandra foi a responsável por articular uma aliança internacional entre extremistas, ultraconservadores e reacionários. Ela chegou a realizar viagens e palestras fora do país para fomentar a aliança e chegou a ser considerada o "cérebro" da "guerra cultural" promovida por bolsonaristas. 

Em 2020, por meio de articulações promovidas por Gandra, o governo Bolsonaro aderiu ao chamado Consenso de Genebra, documento criado por Donald Trump e assinado por 36 países que visa frear qualquer avanço relacionado a leis internacionais pró-aborto. O Brasil deixou de fazer parte da aliança em 2023.

Em 2021, durante a pandemia de Covid-19, Gandra chegou a viajar até a Polônia para apoiar decisões que restringiam o aborto no país. Ela teve suas despesas pagas pelo Instituto Ordo Iuris, uma das organizações ultraconservadoras privadas mais influentes da Polônia. No país, Gandra se reuniu com políticos do partido conservador Polônia Solidária.

Ainda em 2021, Gandra participou de outro evento que reuniu representantes da extrema direita da Europa, em que declarou que as autoridades brasileiras estavam trabalhando na expansão de uma aliança global conservadora para reforçar as pautas antiaborto e combater o que chamou de "ideologia de gênero". O evento contou com a presença de lideranças do partido de extrema-direita da Espanha, o Vox.

Além disso, Gandra também foi uma forte presença no lobby antiaborto nos Estados Unidos, aliança que chegou a receber investimento de US$ 280 milhões (R$ 1,6 bilhão) por entidades e organizações contra a pauta do aborto. Em 2022, Gandra participou de decisões da Suprema Corte dos EUA que restringiram o acesso ao aborto no país.

Na cerimônia de posse desta quarta-feira, Nunes declarou que a nova secretária “tem uma relação muito boa com o mundo”. Já Gandra afirmou que deseja “continuar inserindo” São Paulo “em todo o contexto internacional”.

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