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Kakay sobre “outro Boulos” em caso da cocaína: “Marçal fez com dolo, tem que responder”

Advogado e jurista disse à Fórum que ato do coach foi deliberado ao usar o nome de outra pessoa para incriminar candidato do PSOL. “Sem escrúpulo algum”, disse

O coach condenado Pablo Marçal e o advogado Kakay.Créditos: Band e Henrique Rodrigues/Revista Fórum
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Depois de repetir inúmeras vezes em debates televisivos e nas redes sociais, inclusive afirmando possuir um “dossiê” com provas, que o adversário Guilherme Boulos (PSOL) era usuário de cocaína, o coach Pablo Marçal (PRTB), um condenado pela Justiça por integrar uma quadrilha de fraude a bancos que disputa a prefeitura da maior cidade do país, terá que voltar a responder a uma acusação criminal. O jornal Folha de S.Paulo revelou nesta quarta (28) que o tal processo a que Marçal teve acesso “provando” a grave acusação que fazia era, na verdade, de um homônimo do postulante que lidera a corrida eleitoral.

O caso de prisão por porte de drogas em 2001 ocorreu com um homem chamado Guilherme Bardauil Boulos, que coincidentemente disputa uma vaga de vereador na capital paulista nas eleições deste ano, pelo Solidariedade. O nome completo do candidato do PSOL ao Palácio do Anhangabaú é Guilherme Castro Boulos. Ou seja, a campanha de Marçal deliberadamente utilizou um homônimo para espalhar uma grave acusação contra o candidato da frente ampla de esquerda.

Para falar da questão legal que envolve tal expediente espúrio do candidato de extrema direita, a Fórum ouviu o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, um dos mais influentes e respeitados juristas brasileiros e figura de grande relevo no universo do direito brasileiro. Para Kakay é inequívoco que a atitude de Marçal e de seus assessores foi proposital, o que consiste em pelo menos dois crimes.

“Evidentemente que ele fez isso de forma dolosa, ele sabia que não era o Boulos candidato, então ele incorreu em pelo menos dois crimes: cometeu o crime de calúnia e cometeu o crime de injúria. A questão criminal, às vezes as pessoas não levam a sério, mas o Boulos deveria representar contra ele, porque além de ser um crime, é uma tentativa de burlar o interesse do eleitor. Ele tem que responder por isso. Eu venho discutindo muito isso e eu acho que, especialmente o Pablo Marçal, é um homem absolutamente sem limites, sem critério e sem escrúpulo nenhum. É muito difícil você fazer um debate com uma pessoa que não tem nenhum critério, que não tem nenhum apreço à verdade. Ele fala o que quer, ele faz insinuações colocando o dedo no nariz de forma jocosa, e isso faz com que o debate perca a credibilidade, pois o debate é um instrumento muito interessante no Brasil, que sempre o usou muito bem. Nós já tivemos gente como aquele padre Kelmon, um farsante, que faz as coisas por esses meios, porque sabem que existe um nicho, sobretudo nos movimentos de ultradireita, em que esses atos absolutamente sem limites e que privilegiam a mentira têm espaço”, disse o advogado.

Kakay falou ainda para os impactos deste comportamento criminoso, que vão muito além do universo jurídico, interferindo nos processos político e democrático, já que se tornou, desde a ascensão de Jair Bolsonaro (PL), uma conduta reiterada e estratégica.

“Ele não aumentou só incrivelmente o seu espaço político e os seguidores, como também aproveita pra ganhar dinheiro, pra monetizar nas redes dele. Tudo isso é muito grave e eu penso que se as televisões e as rádios não colocarem limites muito rígidos nos debates, vai acabar afastando os candidatos, e vão continuar aí esses candidatos que não têm escrúpulos, que não têm limite, que não têm vergonha do ridículo. Em síntese é isso, ele cometeu um crime contra o Boulos e, politicamente, o que a gente vê é gente que se utiliza da mentira como estratégia política”, concluiu o jurista.