O candidato do PRTB à prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal, dobrou a aposta e decidiu desafiar a Justiça ao, mais uma vez, associar seu adversário Guilherme Boulos (PSOL) ao uso de cocaína.
A fake news de que Boulos seria usuário de drogas começou a ser disparada por Maçal no primeiro debate entre os candidatos à prefeitura da capital paulista, realizado em 8 de agosto pela Band TV. Durante o terceiro bloco do encontro eleitoral, Marçal levou o dedo indicador direito à lateral da narina de mesmo lado, em gesto que faz alusão ao uso da droga. Ele se dirigia a Boulos e um bate-boca se seguiu.
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Após o debate, Marçal insistiu na narrativa. Publicou vídeos do momento com tom de insinuação. Boulos entrou com ação contra o coach e o juiz eleitoral Rodrigo Marzola Colombini, então, atendeu ao pedido e determinou que os conteúdos fossem suspensos em até 24 horas.
Apesar da decisão judicial, Marçal seguiu com a associação e publicou, entre outros posts ofensivos a Boulos, a imagem de um aspirador de pó – em clara referência ao termo "cheirador" – e escreveu: "Quem você prefere para governar a cidade de São Paulo: o bonitão ou o aspirador de pó?".
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No decorrer dos dias, Maçal seguiu fazendo a insinuação absurda. Nesta quarta-feira (21), entretanto, o coach de extrema direita foi além: associou Boulos ao uso de cocaína em uma propaganda eleitoral registrada junto ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SP). Ou seja, não se trata de uma publicação qualquer nas redes sociais, mas de uma peça oficial de campanha.
Trata-se de um vídeo em que Marçal pergunta a um "comunista" com boné do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), organização comumente associada a Boulos pelo fato do candidato do PSOL ser coordenador de outro movimento, o dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), o que ele estaria fazendo. O "comunista", então, diz que está fazendo "bolos", em uma clara referência a Guilherme Boulos, e na sequência aparece com o rosto sujo de farinha, ao que o coach de extrema direita faz o sinal de inalação de cocaína com os dedo no nariz e dispara: "Sei, bolos".
Em entrevista à Fórum, o advogado Renato Ribeiro de Almeida, doutor em Direito e coordenador da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep), disse que o vídeo da campanha eleitoral de Marçal configura "um escárnio absolutamente ilegal" que deve ser investigado pela Justiça.
"É um escárnio, é absolutamente ilegal esse tipo de associação porque você tenta, de alguma forma, atacar a reputação e a honra de um adversário por meio de fatos que são, sabidamente, inverídicos. Isso é ilegal, é divulgação de conteúdo que tenta atacar a reputação destruir a imagem de pessoas e, por ser esse conteúdo degradante, ele tem que ser retirado, tem que ser removido das redes", explica Almeida.
"Tem que ser, principalmente, objeto também de uma ação de investigação de abuso de poder econômico para apurar qualquer montante que está sendo patrocinado nessa campanha porque, evidentemente, isso pode ser também veiculado mediante patrocínio sobre impulsionamento", prossegue o advogado.
O especialista em Direito Eleitoral destaca, contudo, que a Justiça Eleitoral terá dificuldades de remover o conteúdo da rede X, já que a plataforma controlada por Elon Musk encerrou suas operações no Brasil e não possui mais representantes legais no país.
Procurada, a campanha de Guilherme Boulos ainda não se manifestou sobre a nova propaganda eleitoral de Pablo Marçal. O espaço está aberto para eventual manifestação.
Boulos obtém direito de resposta a Pablo Marçal
A campanha de Guilherme Boulos (PSOL), candidato de Lula à prefeitura de São Paulo, enviou à Justiça um dos vídeos para serem publicados nas redes sociais de Pablo Marçal (PRTB).
Em duas decisões diferentes, o juiz eleitoral Rodrigo Marzola Colombini, da 2ª Zona Eleitoral de São Paulo, determinou que Marçal terá que veicular o vídeo resposta de Boulos em seu perfil no YouTube, Instagram, X (antigo Twitter) e TikTok.
Em outra decisão, o juiz auxiliar Murillo D'Avila Vianna Cotrim, também da 2ª Zona Eleitoral, também determinou que Marçal publique o direito de resposta em suas redes sociais.
O coach de extrema direita tem 48 horas para cumprir as sentenças.
No vídeo, Boulos conta o impacto sobre sua família da mentira propagada por Marçal de que ele seria usuário de drogas.
"Imagina uma coisa, você ser pai de duas filhas adolescentes, e alguém inventar uma mentira na televisão e aqui nas redes que você usa droga. Suas filhas chegarem em casa chorando porque falaram isso na escola delas", diz Boulos.
Assista ao vídeo: