Relatório da Polícia Federal (PF) sobre a Organização Criminosa montada por Jair Bolsonaro (PL) para furtar e vender joias da União nos EUA mostra que o ex-presidente, juntamente com os advogados Frederic Wassef e Fabio Wajngarten, montaram uma operação de guerra para enganar "o povo" e tentar impor uma narrativa "subconsciente" de que "agiu na lei".
As trocas de mensagens e telefonemas entre os três foram obtidos por meio da quebra de sigilo telefônico de Wassef, que foi destacado pela OrCrim para recomprar um Rolex vendido nos EUA no início de 2023.
Te podría interesar
LEIA TAMBÉM
"Selva": a íntegra da investigação da PF que desnuda a OrCrim de Bolsonaro sobre as joias
Em conversas com Bolsonaro em 6 de março, Wassef revela que está desesperado com a avalanche de reportagens "que foram publicadas nos últimos 3 dias para cá, todas tem meu nome e dizem que não respondi, atendi ou quis me manifestar".
Te podría interesar
Desesperado, o ex-presidente envia para Wassef o decreto 4.344, de 26 de agosto de 2002, que regulamenta os acervos dos presidentes da República.
"Você que é advogado aí, dá uma olhada nisso aí, nós sublinhamos aí um... pintamos de amarelo alguma coisa. Pelo que tudo indica, nós temos o direito de ficar com o material. Dá uma olhada aí", afirma o ex-presidente
Em seguida, Bolsonaro e os dois advogados tramam a produção de uma nota para responder às reportagens e, principalmente, para enganar a população.
Wassef, então, envia uma sugestão de texto e combina com Bolsonaro uma estratégia de defesa "generalizada sem especificar com detalhe", com o objetivo de enganar as pessoas e construir uma narrativa a ser disseminada pela horda bolsonarista.
"Presidente, a nota como está, ela não nos engessa pra nada. Tem abertura pra gente falar de qualquer pauta, mudar de estratégia a qualquer momento porque é uma nota geral, generalizada sem especificar com detalhe. Porque se a gente der muito detalhe se amarra, se prende aquilo. Então, tem que ser exatamente nesse molde, bem por cima, deixando claro a seguinte mensagem ao povo: Não há ilegalidade! Não fizemos nada errado! O Presidente agiu dentro da lei! E estão destorcendo! Ponto! Só pra ter uma outra palavra pra tirar o que eles vão fazer de maldade contra você", diz Wassef.
Wajngarten, no entanto, critica a nota, que já havia sido distribuída à imprensa: "se o Cid já falou em on para quê a nota? Olha o Zoológico", diz a Wassef.
"A nota é necessária tal como está. Protege a imagem do presidente e não compromete ou engessa futuras falas, estratégias e depoimentos", rebate Wassef, dando início a uma troca de acusações com o Wajngarten.
Em meio ao bate-boca com o colega, Wassef envia mensagem de texto a Bolsonaro dizendo que "a nota ficou excelente e todos estão elogiando". "Os criminalistas mais top estão elogiando".
Bolsonaro, então, respondeu com uma foto sorrindo e é bajulado pelo advogado: "meu herói. O Brasil com você".
"Mensagem de subconsciente"
No dia 8 de março, Wassef volta a demonstrar preocupação com "as centenas de matéria que explodiram no Brasil inteiro, inclusive, nos Estados Unidos também" e volta a defender a nota, em uma estratégia para enganar "o povo".
"Então, os principais jornais do Brasil, Folha de São Paulo, Estadão, Globo, UOL, Metrópoles, tudo que você imaginar está a nota na íntegra, com as mensagens que interessam".
Em seguida, Wassef diz o que quer provocar com a nota.
"Mensagem de massa, para o povo, para o público. Mensagem de subconsciente, que qual que é? Presidente BOLSONARO é honesto! Agiu na lei! Declarou! Isso é armação e fake News! Nunca teve um caso de corrupção em quatro anos de governo! Isto é perseguição política, procurando pelo em ovo! Esta mensagem simples, curta e grossa é que tem que ir para o público", afirmou.
O advogado, então, volta a defender uma estratégia para ludibriar a população "sem adentrar em detalhes, em questões de leis e nem nada porque o povo não tem tempo pra ler e nem vai entender isso".
"A mensagem que é um tiro de canhão que nós falamos tudo que interessava, sem falar nada que compromete defesa e estratégia de defesa, está aí. Todos estão elogiando! Todos! Exceto, aqueles que tem ciúmes, inveja, ego, vaidade, querem protagonismo e ficam atirando nas costas, em verdadeiro fogo-amigo", emenda, em meio à guerra travada para construir a narrativa bolsonarista.
Bolsonaro é sucinto ao responder: "ok".