Frederick Wassef, o advogado da família Bolsonaro, contou tudo em depoimento à Polícia Federal sobre sua participação na operação de recompra do Rolex desviado do patrimônio público da Presidência da República e vendido nos EUA junto com um outro relógio, da marca Patek Philippe, por 68 mil dólares (R$ 333 mil), em junho de 2022. As informações sobre o teor de sua oitiva à PF foram publicadas com exclusividade pela revista Veja, no início da noite desta quarta-feira (29).
De acordo com sua versão apresentada aos federais que investigam o furto de objetos de valor e joias atribuído ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Wassef já estava de férias marcadas para os EUA, quando então passou a receber ligações insistentes do ex-chefe da Secom, o também advogado Fábio Wajngarten, figura do círculo mais íntimo do antigo chefe de Estado, implorando para que ele fosse à loja Precision Watches, na cidade de Willow Grove, na Pensilvânia, recomprar o artigo luxuoso vendido quase um ano antes pelo tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, então principal ajudante de ordens de Bolsonaro.
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Ainda segundo o depoimento a que teve acesso a Veja, a ofensiva para recuperar os artigos caríssimos vendidos levada a cabo pelo séquito mais próximo de Bolsonaro era para evitar ainda mais problemas com a Justiça, que já se via à voltas com o escândalo que teve início com a apreensão do conjunto de joias dado pela Arábia Saudita, pego na Alfândega do aeroporto de Guarulhos com um auxiliar militar do então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, que foi o fio da meada sobre os desvios de objetos valiosos do acervo do Palácio do Planalto.
Wassef afirmou à PF que estava “incomodado” com a versão de que sua ida aos EUA seria exclusivamente para recuperar o Rolex, e que tal “operação” tinha sido montada por militares do entorno do ex-presidente. Ele disse textualmente que Wajngarten foi quem lhe pediu para recomprar o relógio na Pensilvânia e repatriá-lo para o Brasil, já que o Tribunal de Contas da União (TCU) havia dado determinações para que esses bens fossem entregues ao poder público imediatamente.
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Suas palavras no depoimento falam de ligações “insistentes”, “obsessivas” e “compulsivas” por parte de Wajngarten, que implorava para que ele recomprasse o Rolex. Wassef, de acordo com sua versão, só teria aceitado porque o ex-chefe da Secom de Bolsonaro prometera reembolsá-lo em breve. No entanto, o advogado diz que ainda não recebeu o dinheiro (49 mil dólares, o equivalente a R$ 240 mil) e que se isso não ocorrer em breve, processará Wajngarten para reaver o valor.
Para recomprar o relógio, Wassef teria sacado 35 mil dólares de uma conta que mantém nos EUA e ainda pego mais de 14 mil dólares que tinham em espécie no imóvel que possui em Miami, na Flórida. Ele, então, tomou um voo para a Pensilvânia e teria ido diretamente à Precision Watches para fazer o negócio.
O favor pedido por Wajngarten teria ido além, mas deixado Wassef revoltado. O faz-tudo de Bolsonaro queria que o advogado embarcasse para o Brasil com o Rolex, fosse na bagagem ou no braço, mas ele teria se negado, afirmando que era uma pessoa pública, um rosto conhecido, e que se fizesse isso ia imediatamente apresentar o bem na Receita Federal para declará-lo assim que pisasse em solo nacional. Wajngarte teve, então, conforme a versão do advogado, uma ideia.
Uma pessoa de confiança do ex-chefe da Secom iria recolher o bem com Wassef, para depois ir ao Brasil e entrar com o Rolex no país. Foi combinado então um encontro com esse homem, no estacionamento da loja Best Buy, em Miami, e o artigo de luxo teria sido entregue. O sujeito teria voado dias depois e entregado o relógio a Wajngarten.
Fábio Wajngarten reage nas redes
O ex-chefe da Secom Fábio Wajngarten se manifestou em seu perfil na rede X (antigo Twitter), minutos após a publicação feita pela Veja, para negar a versão apresentada por Wassef à PF. Ele escreveu uma pequena mensagem e no fim ainda avisou que não se aprofundaria no assunto “em respeito aos outros investigados” no inquérito.
“Agradeço a competente apuração da Polícia Federal que por razões mais do que óbvias já constata quando uma mentira tem perna curta. A PF está de posse dos ZAPs de todos os envolvidos e sabe exatamente quem fez o que e principalmente quem não fez o que. Quem mente será processado. Em respeito aos demais investigados não mais tocarei no assunto”, postou.