O ex-presidente Jair Bolsonaro teria recebido dinheiro em espécie em mãos oriundo da venda de joias que ele teria subtraído do acervo presidencial em um esquema criminoso para desviar R$ 6,8 milhões. É o que aponta o relatório da Polícia Federal (PF) sobre o indiciamento do ex-mandatário e outras 11 pessoas por associação criminosa, peculato e lavagem de dinheiro enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), cujo sigilo foi derrubado nesta segunda-feira (8).
No documento enviado ao STF constam mensagens trocadas entre o ex-ajudante de ordens Mauro Cid e o ex-assessor Marcelo Câmara nas quais fica claro que ambos discutiam a melhor maneira de fazer o dinheiro da venda ilegal das joias chegar até o ex-presidente. Em dado momento, Cid sugere evitar transferências bancárias, que deixa rastros, e propõe entregar os valores a Bolsonaro "em cash", isto é, em espécie.
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O diálogo via WhatsApp entre Cid e Câmara foi registrado em 18 de janeiro de 2023, quando o ex-assessor estava com Jair Bolsonaro em Orlando, nos EUA. Na conversa, Cid tenta organizar o repasse ao ex-presidente, revelando que seu pai, o general Mauro Lourena Cid, que teria negociado venda de joias no país da América do Norte, possuía R$ 25 mil de uma dessas vendas.
“Eu estava vendo o que era melhor fazer com esse dinheiro levar em ‘cash’ aí. Meu pai estava querendo inclusive ir aí falar com o presidente (…) E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta (…). Eu acho que quanto menos movimentação em conta melhor, né?", diz Cid.
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“O relógio, aquele outro kit lá, vai pro dia 7 de fevereiro, vai pra leilão. Aí vamos ver quanto que vão dar”, afirma ainda o ex-ajudante de ordens.
Além de ficar explícito que Cid planejava entregar o dinheiro das joias a Bolsonaro sem deixar rastro, outra troca de mensagens mostra que o ex-presidente deu aval para que um kit de pedras preciosas, também subtraído ilegalmente do acervo presidencial, fosse a leilão nos EUA.
Em 4 de fevereiro de 2023, Cid enviou a Bolsonaro, via WhatsApp, o link com informações sobre um leilão nos EUA para tentar vender um kit de joias de ouro rose, que ocorreria quatro dias depois. Bolsonaro, prontamente, respondeu: "Selva".
Bolsonaro indiciado: organização criminosa para desviar R$ 6,8 milhões
O sigilo do inquérito das joias, pelo qual Jair Bolsonaro (PL) foi indiciado na última semana, caiu nesta segunda-feira (8) por decisão do ministro Alexandre de Moraes do Supremo Tribunal Federal (STF). Com a queda, a Polícia Federal teve de revelar a lista completa das joias e objetos de alto valor desviados pelo ex-presidente para que fossem vendidos no exterior.
De acordo com o relatório enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), a PF afirma que Bolsonaro montou uma organização criminosa para desviar R$ 6,8 milhões a partir da venda ilegal de presentes recebidos por ele em visitas oficiais a outros países enquanto chefe de estado. A investigação estima o valor total das joias investigadas em US$ 1.227.725,12.
Os valores apontados pela PF superam em 3 vezes o famigerado triplex do Guarujá (SP) atribuído ao presidente Lula (PT) pela Lava Jato. Em 2018, época da prisão do petista, o imóvel era avaliado em R$ 2,2 milhões.
"Identificou-se, ainda, que os valores obtidos dessas vendas eram convertidos em dinheiro em espécie e ingressavam no patrimônio pessoal do ex-presidente da República, por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores", diz trecho do relatório da PF, tornado público.
Um dos itens que está na listagem da PF é uma escultura com ouro e pedras preciosas de um cavalo árabe, entregue por uma autoridade saudita ao então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque.
Outro item são os kits de joias femininas e masculinas, supostamente da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e do seu marido. No caso das joias masculinas, trata-se do kit ouro rose da Chopard, que conta com caneta, relógio e abotoaduras. Já o kit feminino, também da Chopard, tem anel e colar prateados, além de um par de brincos.
Foram esses os itens descobertos ainda em março de 2023 por reportagem do Estadão que inaugurou a cobertura pública do caso e motivou as investigações da PF. À época, estimava-se que as joias valiam R$ 16,5 milhões, mas depois os objetos foram reavaliados. Na lista divulgada pela PF há ainda um kit ouro branco com relógio Rolex, avaliado em quase US$ 74 mil.
Jair Bolsonaro e outras 11 pessoas acusadas de participar do esquema foram indiciados pelos crimes de associação criminosa, peculato e lavagem de dinheiro. Segundo as investigações, os valores obtidos com a venda das joias eram transformados em dinheiro em espécie e o ex-presidente os recebia das mãos de aliados.
A PF fez uma lista com os “bens que foram objeto dos atos de desvio e tentativa de desvio perpetrados pela associação criminosa com a finalidade de enriquecimento ilícito do ex-presidente”.