Após o indiciamento nos casos da venda ilegal de joias nos EUA e de fraude no cartão de vacinação, a Polícia Federal (PF) vai indiciar Jair Bolsonaro (PL) como um dos principais líderes da tentativa frustrada de golpe de Estado na próxima semana.
ENTENDA
Bolsonaro indiciado: da fuga para os EUA às investigações sobre furto de joias e vacinas
Bolsonaro indiciado: filhos se pronunciam diante do silêncio do pai
Te podría interesar
Os investigadores estão terminando o relatório final da investigação, que deve ser entregue à Procuradoria-Geral da República (PGR) e ao Supremo Tribunal Federal (STF) na próxima semana.
Agentes da PF envolvidos na investigação já haviam sinalizado que há indícios mais que suficientes para indiciar Bolsonaro como líder da organização golpista, assim como o candidato a vice em sua chapa, o general da reserva Walter Braga Netto, que está na reserva e atualmente trabalha como secretário do PL.
Te podría interesar
O ex-presidente deve ser indiciado pelos crimes de associação criminosa, tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito
No relatório, a PF apresentará toda a cadeia de acontecimentos relacionada ao episódio. O objetivo é provar que outras investigações, como a da venda de joias e a da falsificação do cartão de vacinação, estão correlacionadas à tentativa de golpe.
Ainda não está decidido se será pedida a prisão preventiva do ex-presidente e do núcleo duro da organização.
Bolsonaro, além de inelegível, já não pode deixar o país - o recolhimento de seu passaporte foi uma das restrições impostas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), logo após operação da PF de busca e apreensão na residência do ex-chefe do Executivo.
Carta golpista
Entre os detalhes da investigação, a PF deve apresentar uma carta redigida por Bolsonaro e pronta para ser lida em suas famigeradas lives - além da televisão e do rádio - após um eventual sucesso do seu plano de golpe de Estado.
A carta de Bolsonaro aos brasileiros após o golpe foi encontrada pela Polícia Federal na sede do seu partido, o Partido Liberal, em Brasília, durante operação de busca e apreensão. De acordo com a investigação, o documento não estava assinado.
O texto é basicamente o discurso em que Bolsonaro justificaria a “virada de mesa”, para usar o termo utilizado pelo general Augusto Heleno em reunião de julho de 2022.
“Afinal, diante de todo o exposto, e para assegurar a necessária restauração do Estado Democrático de Direito no Brasil, jogando de forma incondicional dentro das quatro linhas, com base em disposições expressas da Constituição Federal de 1988, declaro o estado de Sítio e, como ato contínuo, decreto operação de garantia da lei e da ordem”, diz o parágrafo final da carta encontrada pela PF.
Em outro trecho que vazou, a carta diz: “(…) colocam em evidência a necessidade de restauração da segurança jurídica e de defesa às liberdades em nosso país”. Provavelmente o trecho anterior se referia a situação de caos social prevista pelas tramoias golpistas.
O teor da carta aparentemente retoma aspectos da minuta golpista encontrada na casa do ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres. Nela, também era prevista a GLO e o estado de sítio para restaurar a ordem e a segurança derivada de agitação popular decorrente das eleições.
Próximos passos
Nesta sexta-feira (5), Paulo Gonet, procurador-geral da República, teria estipulado a data de 16 de agosto para divulgar o parecer sobre o indiciamento de Bolsonaro e da organização criminosa investigados no caso das joias e da fraude no cartão de vacinação.
Bolsonaro deve responder pelos crimes de associação criminosa, lavagem de dinheiro e apropriação de bens públicos. Junto com ele, outras 11 pessoas foram indiciadas. São elas Fabio Wajngarten, advogado de Bolsonaro e ex-chefe da Secom, Frederick Wassef, também advogado do ex-presidente e de outro integrantes de sua família, Bento Albuquerque, ex-ministro de Minas e Energia e almirante da reserva da Marinha, José Roberto Bueno Júnior, outro oficial-general da Marinha e ex-chefe de gabinete da pasta comandada por Albuquerque, Julio Cesar Vieira Gomes, ex-secretário da Receita Federal, Marcelo da Silva Vieira, ex-chefe do Gabinete de Documentação Histórica da Presidência na gestão de Bolsonaro, Marcelo Costa Câmara e Osmar Crivelatti, ex-assessores pessoais de Bolsonaro, Marcos André dos Santos Soeiro, militar da Marinha e ex-assessor do ministro de Minas e Energia, o tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, antigo ajudante de ordens do ex-presidente, e o pai deste último, Mauro Cesar Lourena Cid, general da reserva do Exército Brasileiro e homem de confiança do último mandatário nacional.
A investigação contou com o auxílio, desde abril deste ano, do FBI, espécie de polícia federal dos EUA, uma vez que parte das joias desviadas foi parar em território norte-americano e chegou até mesmo a ser negociada e vendida lá. Mauro Cid disse em sua delação que seu pai, o general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid, teria dado um pacote de dólares a Bolsonaro em setembro de 2022, durante uma viagem oficial do então chefe de Estado a Nova York, por ocasião da cerimônia de abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas. O dinheiro seria fruto da venda de um relógio de luxo da marca Rolex.