A bancada do PT na Câmara dos Deputados deve anunciar ainda nesta quarta-feira (3) as ações por racismo que serão movidas na Justiça e na Câmara contra a bolsonarista Carla Zambelli (PL-SP) que desferiu uma série de ataques conta Benedita da Silva (PT), primeira senadora negra do Brasil, que segue na ativa como deputada aos 82 anos.
"Repudiamos as agressões proferidas pela parlamentar do PL e exigimos sua punição, de forma a se restabelecerem o decoro, o respeito e a conduta ética no Parlamento brasileiro", afirma em nota a bancada petista.
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Segundo apuração da Fórum, além de uma ação judicial por racismo, o PT estuda pedir abertura de um novo processo no Conselho de Ética da Câmara contra Carla Zambelli.
A Secretaria Nacional de Mulheres do PT também deve acionar judicialmente a deputada, que já é ré no Supremo Tribunal Federal (STF) por perseguição armada ao jornalista negro Luan Araújo às vésperas do segundo turno das eleições de 2022.
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Em declaração ao jornal O Globo, Benedita afirmou que a deputada bolonsonarista "terá a correção necessária".
"Estava ali como coordenadora geral do encontro, preocupada com o encontro. Quando eu soube, já tinham tomado providências na Câmara, o PT já tinha se manifestado com uma nota de repúdio, e as mulheres (do evento) já estavam também se posicionando nos seus núcleos. Eu acredito que ela terá a correção necessária, se jurídica, se política, mas já tomaram providência. Eu acho que isso ela vai ter que responder, porque já tem gente entrando com ações".
No ataque racista, a deputada bolsonarista chamou Benedita, coordenadora da Bancada Feminina e da Secretaria da Mulher da Câmara, de "Chica da Silva".
A declaração de Zambelli se deu ao reclamar de não ter sido autorizada a discursar na Reunião de Mulheres Parlamentares do P20 em Maceió (AL), evento de parlamentares dos países que compõem o G20, grupo atualmente presidido pelo Brasil. Benedita da Silva discursou no encontro.
“Eu não vou ter poder de fala, né? Eu não vou falar porque provavelmente... não sei por que que não vou falar. Parece que já foi montada pela Secretaria da Mulher, que é a Chica da Silva”, disparou Zambelli - veja o vídeo.
Francisca da Silva de Oliveira, ou simplesmente Chica da Silva, é uma figura histórica. Trata-se de uma mulher escravizada do século 18 que obteve alforria e rompeu barreiras sociais ao se tornar uma figura proeminente e poderosa em Arraial do Tijuco, atual Diamantina, em Minas Gerais. Sua história inspirou livros, filmes e novela.
Apesar de Chica da Silva ser uma personalidade destacada, a declaração de Zambelli, se referindo a Benedita da Silva com o nome da mulher escravizada que ganhou alforria, foi feita com tom de deboche e, por isso, vem sendo apontada como um ataque.
"Ao fazer esta comparação com a personagem histórica, uma mulher negra escravizada e alforriada, Zambelli se utiliza do racismo para tentar constranger e humilhar a deputada Benedita", diz a bancada do PT em nota - leia a íntegra ao final da reportagem.
"Benedita é um patrimônio não só do nosso partido mas de todos os que acreditam na democracia e em uma sociedade mais justa e igualitária, sem racismo, machismo ou misoginia. A Bancada do PT e, em especial, a Bancada Feminina do PT na Câmara, não aceitarão que se naturalizem atos de racismo, discriminação e violência política de gênero e raça no Parlamento brasileiro", diz ainda o texto.
Solidariedade
O ataque de Carla Zambelli gerou uma onda de solidariedade a Benedita da Silva. Em nota, o PT do Rio de Janeiro repudiou a fala racista da deputada bolsonarista contra a parlamentar que, além de referência na luta do movimento negro, foi a primeira mulher a governar seu estado.
"Nossa solidariedade e apoio a nossa grande referência e exemplo de luta Benedita da Silva, que foi chamada de 'Chica da Silva' pela deputada bolsonarista Carla Zambelli. Benedita tem uma trajetória política exemplar, principalmente na luta do povo preto. Racistas não passarão", diz a legenda.
Ministros do governo Lula também estão entre aqueles que se manifestaram sobre o assunto. O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, disse que Benedita "é uma das maiores referências da política nacional".
"Uma inspiração para homens e mulheres que lutam por um país democrático, desenvolvido e sem racismo. Deputada Benedita, amamos a senhora e sempre estaremos ao seu lado", escreveu.
O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, por sua vez, repudiou "as manifestações de cunho racista proferidas contra a nossa guerreira".
"Benedita da Silva tem trajetória política exemplar de luta, principalmente na luta do povo preto e das minorias. É a única parlamentar negra eleita deputada federal constituinte e é um grande exemplo para nós do Partido dos Trabalhadores e para o Brasil. Não podemos aceitar que discursos racistas e de ódio encontrem espaço em nossa sociedade e muito menos vindas de parlamentares, que devem seguir uma conduta ética e exemplar. Estamos com você, Bené!".
Leia a nota da bancada do PT na Câmara na íntegra
Bancada do PT repudia manifestações racistas contra a deputada Benedita da Silva
A Bancada do Partido dos Trabalhadores na Câmara dos Deputados manifesta sua solidariedade à deputada Benedita da Silva (PT-RJ), vítima de manifestações de cunho racista proferidas pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP).
Carla Zambelli, em mais de uma oportunidade, no decorrer do evento do P20, nos dias 1º e 2 de julho, se referiu à deputada Benedita de forma desrespeitosa a chamando de Chica da Silva ou Chica.
Ao fazer esta comparação com a personagem histórica, uma mulher negra escravizada e alforriada, Zambelli se utiliza do racismo para tentar constranger e humilhar a deputada Benedita.
A trajetória de Benedita da Silva, a nossa Bené, é orgulho para as mulheres, para o povo negro e os trabalhadores do nosso País.
Benedita da Silva, em seus 82 anos, foi deputada constituinte, senadora, ministra de Estado, governadora e vice-governadora, e hoje conduz a Secretaria da Mulher na Câmara dos Deputados e atua como vice-coordenadora da primeira Bancada Negra da Câmara.
Benedita é um patrimônio não só do nosso partido mas de todos os que acreditam na democracia e em uma sociedade mais justa e igualitária, sem racismo, machismo ou misoginia.
A Bancada do PT e, em especial, a Bancada Feminina do PT na Câmara, não aceitarão que se naturalizem atos de racismo, discriminação e violência política de gênero e raça no Parlamento brasileiro.
Repudiamos as agressões proferidas pela parlamentar do PL e exigimos sua punição, de forma a se restabelecerem o decoro, o respeito e a conduta ética no Parlamento brasileiro.
Brasília, 2 de julho de 2024.
Bancada do Partido dos Trabalhadores na Câmara dos Deputados