FASCISMO BOLSONARISTA

Joias: Bolsonaro tem novo revés; PGR sinaliza que o tornará réu

Indiciado pela Polícia Federal, Jair Bolsonaro tenta manobras judiciais para adiar uma iminente denúncia, que o tornará réu juntamente com outros 11 membros da organização criminosa

Bolsonaro visita o Souq Waqif, Mercado Árabe tradicional em Doha, no Catar.Créditos: Alan Santos/PR
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Prestes a dar seu parecer sobre o pedido de indiciamento feito pela Polícia Federal (PF), o procurador-geral da República, Paulo Gonet, sinalizou que coloca Jair Bolsonaro (PL) no banco dos réus no processo sobre o furto e contrabando de joias da Presidência da República.

Em novo revés ao ex-presidente, Gonet emitiu parecer contra o pedido da defesa de Bolsonaro que tenta ter acesso ao conteúdo da delação do tenente-coronel Mauro Cid e documentos que comprovam a atuação da organização criminosa.

“Existem outras investigações em curso, ainda não finalizadas, que também se baseiam nas declarações prestadas pelo colaborador, o que reforça a inviabilidade do acesso pretendido neste momento processual”, justificou o procurador-geral.

Segundo a PGR, Bolsonaro já tem acesso ao processo de investigação e que a delação, segundo a legislação, é mantida em sigilo até a formalização da denúncia.

“Todos os elementos relevantes para as investigações desenvolvidas nesta Petição já se encontram documentados e foram franqueados à defesa do investigado. Caso exista outra investigação relacionada ao interessado, o pedido de acesso, certamente, será deferido nos autos pertinentes, uma vez demonstrada a condição de investigado”, diz o parecer.

Réu

Indiciado pela PF, que já enviou relatório à PGR sobre a orcrim das joias, Paulo Gonet deve emitir parecer, tornando Bolsonaro e outros 11 membros do grupo, réus no início de agosto, após o recesso do judiciário.

Com a denúncia, o ex-presidente passará a ser réu e responderá pelos crimes de associação criminosa, peculato e lavagem de dinheiro, podendo ser condenado a até 32 anos de prisão, se somadas as penas relativas ao caso das fraudes em cartões de vacinação.

Bolsonaro e os bolsonaristas sabem que as chances de um arquivamento são pequenas e que o oferecimento da denúncia seria devastador para o clã e todo o seu campo político. A principal aposta da extrema direita é ganhar tempo com um possível pedido de prorrogação para novas diligências, além de manobras judiciais.

Caos político

Enquanto segue com sua estratégia de impor uma narrativa de perseguição política para nutrir a horda de extremistas, Jair Bolsonaro (PL) avalia com aliados as consequências de uma possível prisão - ou absolvição - pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

O furto de joias, segundo a PF, é parte de apenas um dos cinco braços onde atuou a OrCrim de Bolsonaro.

No inquérito entregue ao STF e à Procuradoria-Geral da República, a PF lista ainda os "ataques virtuais a opositores" e também "às instituições, às urnas eletrônicas e ao processo eleitoral", os "ataques às vacinas contra a Covid-19 e medidas sanitárias na pandemia" e a "tentativa de golpe de Estado e de Abolição violenta do Estado Democrático de Direito".

As provas já levantadas contra o ex-presidente, segundo juristas de renome são robustas, e devem ser fortalecidas com o inquérito sobre a tentativa de golpe de Estado, que deve ser finalizado nos próximos dias.

A estratégia de Bolsonaro, no entanto, é montar uma narrativa "generalizada sem especificar com detalhe", como combinou com o advogado Frederick Wassef. 

Nesta terça-feira (10), o ex-presidente pinçou uma informação sobre suas apostas nas lotéricas, que constam no relatório, para desviar o foco dos apoiadores para ludibriar a população e manter os extremistas mobilizados em torno da narrativa vitimista.

"A PF foi com tudo na lotérica do interior de São Paulo. Esperavam achar algum esquema de lavagem ou outro ilícito por parte de Bolsonaro. Nada acharam", escreveu, emendando com a estratégia de vitimização: "depois a PF se incomoda quando é acusada de perseguir Bolsonaro".

Dessa forma, aliados do ex-presidente afirmaram à coluna de Malu Gaspar, n'O Globo, que “Bolsonaro preso é um problema para o STF e pode gerar um movimento popular pela sua soltura”.

A avaliação dos aliados vai ao encontro da aposta de Bolsonaro. "Se Bolsonaro for absolvido, o Supremo será considerado um covarde, capturado pela direita. Se condená-lo, alimenta a tese bolsonarista de perseguição e pode produzir um caos político", emenda o mesmo aliado.

A preocupação de Bolsonaro

Em sua estratégia, Bolsonaro vai aprofundar a propagação da narrativa vitimista, pois acredita que deve ser indiciado em todos os inquéritos em que é investigado - e há elementos e provas suficientes para isso.

No entanto, a preocupação maior do ex-presidente passa pelo jogo de xadrez com Alexandre de Moraes, relator das investigações sobre a OrCrim no Supremo.

Ao levantar sigilo das investigações, Moraes busca expor ao máximo as mentiras ditas por Bolsonaro e aliados na narrativa de perseguição política.

O ex-presidente se preocupa, portanto, mais com o conteúdo das investigações, que pode colocar em xeque a estratégia de comunicação para ludibriar a população.

As informações e provas robustas, que podem fazer desmoronar as bandeiras do "mito" - em especial a de "incorruptível" -, podem causar uma desmobilização da base de apoio e desestruturar a principal aposta de Bolsonaro: de levar os extremistas às ruas e provocar um caos político diante de sua possível prisão. 
 

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