Após uma série de bravatas de Javier Milei que causaram ruídos nas relações entre Brasil e Argentina, o Governo Lula chamou Júlio Bitelli, o embaixador brasileiro no país, para uma conversa a fim de tratar o futuro das relações entre os países. O diplomata se reunirá com o presidente Lula (PT) e o chanceler Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores, e reassumirá suas funções em Buenos Aires na próxima semana.
Esse não é o caso de uma ‘chamada para consultas’, que funciona como reprimenda diplomática e pode acompanhar uma quebra de relações bilaterais. Recentemente o embaixador do Brasil em Israel foi chamado para consultas. Dessa vez, o objetivo da conversa com o embaixador é simplesmente reavaliar objetivos nas relações com o país vizinho, que é um dos principais parceiros comerciais do Brasil. As principais áreas abordadas na conversa devem ser energia e comércio internacional.
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Os ruídos teriam atingido seu ápice na última semana, antes da primeira viagem de Milei ao Brasil, quando o argentino reiterou declarações de campanha em que chamava Lula de “comunista e corrupto”. Na ocasião, Milei vinha a Santa Catarina participar de uma conferência de extrema direita com a família Bolsonaro enquanto os chefes de Estado do Mercosul se reuniam em Assunção, no Paraguai.
"A ausência de um presidente não atrapalha se o país está presente. E quem perde não são os que vieram, e sim quem não veio. Quem não veio desaprende um pouco, quem não veio não sabe o que está acontecendo. Sempre que eu tenho uma reunião com outro chefe de Estado faço questão de participar porque eu sempre estou aprendendo alguma coisa, eu sempre converso com gente que está mais preparada do que eu. Como nós somos um bloco em construção, de países em desenvolvimento, países que fazem parte do Sul Global, quem perde é quem não vem", criticou o presidente brasileiro.
Em publicação na rede X no dia 2 de julho, o presidente argentino disse que o brasileiro "reclama porque eu lhe respondo com sinceridade (ele foi preso por corrupção e é comunista)".
Em pronta resposta, o Itamaraty emitiu um comunicado à Casa Rosada em que o governo brasileiro diz que "esperamos que não haja repetição da ofensa ao presidente Lula".
“Seria uma situação grave que poderia ter consequências diplomáticas profundas, como a retirada do embaixador em Buenos Aires, e que complicaria muito a relação bilateral até levar a uma ruptura virtual das relações, como aconteceu com a Espanha”, disse o Itamaraty.
Em maio, o presidente do Governo da Espanha, Pedro Sanchez convocou o embaixador após Milei chamar a esposa dele, Bergoña Gomez, de corrupta em um evento do partido de extrema-direita Vox, em Madri.
Alertado pelo Itamaraty, Milei recuou e sequer citou Lula em seu discurso no Brasil, concentrando-se a repetir velhos chavões contra o "socialismo" e fortalecer o discurso vitimista de Bolsonaro.
"Olhem o que aconteceu na Venezuela, olha o que aconteceu na Bolívia quando Evo Morales ganhou pela terceira vez, olhem a perseguição que o nosso amigo Bolsonaro sofre aqui no Brasil, e olhem o que está acontecendo na Bolívia, um falso golpe de estado", afirmou Milei aos fascistas apoiadores de Bolsonaro em Santa Catarina.
Com 57% da população argentina vivendo na pobreza após o desmonte neoliberal na economia argentina, Milei tentou se defender atacando os "socialistas".
"Quero dizer que vamos sair da miséria gostem ou não os socialistas, porque a grande maioria dos argentinos escolheu uma mudança profunda de regime que prometemos na campanha, e nós temos o compromisso de cumprir com a maioria, ainda que os beneficiários desse sistema corrupto, parasitário e empobrecedor movam céus e terras para nos boicotar. Não passarão", afirmou.