O presidente Lula (PT) conversou com a imprensa após a realização do encontro do Mercosul, em Assunção, no Paraguai. Durante a coletiva, o petista classificou como uma "bobagem imensa" a decisão de Javier Milei de não participar do encontro do bloco e afirmou que "a ausência [de Milei] não atrapalha".
"A ausência de um presidente não atrapalha se o país está presente. E quem perde não são os que vieram, e sim quem não veio. Quem não veio desaprende um pouco, quem não veio não sabe o que está acontecendo. Sempre que eu tenho uma reunião com outro chefe de Estado faço questão de participar porque eu sempre estou aprendendo alguma coisa, eu sempre converso com gente que está mais preparada do que eu. Como nós somos um bloco em construção, de países em desenvolvimento, países que fazem parte do Sul Global, quem perde é quem não vem", iniciou o presidente brasileiro.
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Em seguida, o presidente Lula afirmou que “o povo argentino precisa do Mercosul” e que os países do bloco vão trabalhar para fortalecer a região com a participação da Argentina, que é, segundo o petista, indispensável para o sucesso do Mercosul.
"É uma bobagem imensa o presidente de um país importante como a Argentina não participar de uma reunião do Mercosul. É triste para a Argentina. Agora, uma coisa é verdade: nós, do Mercosul, vamos tentar, estamos trabalhando o fortalecimento do Mercosul com a Argentina, porque nós acreditamos na importância da Argentina. A Argentina é um país extremamente importante para o sucesso do Mercosul, e se o presidente [Milei] participa ou não, não interessa. O que interessa é o seguinte: é que o povo argentino precisa do Mercosul e o Mercosul precisa do povo argentino", concluiu Lula.
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Lula a golpistas e ultraliberais sobre América do Sul: "não há atalhos à democracia na região"
Em discurso nesta segunda-feira (8) na abertura da Cúpula do Mercosul em Assunção, no Paraguai, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandou um recado a golpistas e "ultraliberais" que atuam para fragilizar a democracia e dividir os países da América Latina.
Em recado direto à ultradireita e o chamado "mercado", que aderiu ao fascismo nos últimos anos para impor medidas neoliberais, Lula citou a reação aos golpes no Brasil, em 2023, e na Bolívia, no último dia 26 de maio, para pedir "vigilância" aos chefes de Estado presentes.
"Retornar à cidade onde o Mercosul foi lançado, em Assunção, sempre nos motiva a refletir sobre o estado da integração. Há menos de 15 dias, um membro de nosso bloco sofreu uma tentativa de golpe. A democracia prevaleceu graças à firmeza do governo boliviano, à mobilização de seu povo e ao rechaço da comunidade internacional. O Mercosul permaneceu unido em defesa do estado de direito. A reação unânime ao 26 de junho na Bolívia e ao 8 de janeiro no Brasil demonstram que não há atalhos à democracia em nossa região. Mas é preciso permanecer vigilantes", afirmou.
Em mensagem velada a Javier Milei, que esteve em Santa Catarina neste fim de semana para participar de evento conservador com Jair Bolsonaro (PL) e não foi à cúpula do Mercosul, Lula falou dos "falsos democratas que tentam solapar as instituições e colocá-las a serviço de interesses reacionários".
"Falsos democratas tentam solapar as instituições e colocá-las a serviço de interesses reacionários. Enquanto nossa região seguir entre as mais desiguais no mundo, a estabilidade política continuará ameaçada. Democracia e desenvolvimento andam lado a lado", disse o presidente brasileiro.
Em atrito com o "autônomo" Banco Central do Brasil e seu presidente, o bolsonarista Roberto Campos Neto, Lula lembrou a história da América Latina, que sempre necessitou de Estados fortes para indução da economia, e rechaçou as tentativas fascistas de impor os projetos liberais.
"Os bons economistas sabem que o livre mercado não é uma panaceia para a humanidade. Quem conhece a história da América Latina, reconhece o papel do Estado como planejador e indutor do desenvolvimento. No mundo globalizado não faz sentido recorrer ao nacionalismo arcaico e isolacionista. Tampouco a justificativa para resgatar as experiências ultraliberais que apenas agravaram a desigualdade em nossa região", afirmou.
O brasileiro ainda pregou a união dos países que compõem o bloco.
"Esta é a 19ª Cúpula do Mercosul de que participo como chefe de Estado. Nunca nos deparamos com tantos desafios, seja no âmbito regional, seja em nível global. A questão que se impõe é se nossos países querem se integrar ao mundo unidos ou separados. Minha aposta no Mercosul como plataforma de inserção internacional e de desenvolvimento do Brasil permanece inabalável. Nosso bloco é um projeto ambicioso e que gerou muitos frutos desde seu lançamento. O comércio entre nós multiplicou-se dez vezes e hoje já é de 49 bilhões de dólares", disse.
Mercosul e Lucho Arce
O Mercosul foi criado há 33 anos, por meio do Tratado de Assunção e, de acordo ao Protocolo de Ouro Preto, a presidência pro tempore do bloco é exercida pelos Estados Partes, em rodízio e em ordem alfabética, por seis meses. Na cúpula, o presidente do Paraguai, Santiago Peña, passará a presidência do bloco ao presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou.
O bloco econômico atualmente representa o equivalente à 7ª maior economia mundial, com PIB de US$ 2,86 trilhões, e engloba 67% do território da América do Sul. Em 2023, o Brasil exportou US$ 23,56 bilhões para o bloco e importou US$ 17,09 bilhões, com superávit de quase US$ 6,5 bilhões. A maior parte das exportações brasileiras foi composta por produtos manufaturados, e as principais mercadorias comercializadas entre os membros do bloco são automóveis, peças automotivas, energia e soja.
Após a reunião do Mercosul, Lula segue para Santa Cruz de La Sierra, onde se encontrará com o presidente boliviano Luis "Lucho" Arce.
Depois, participa de cerimônia de assinatura de atos e faz declaração conjunta à imprensa. Na parte da tarde, Lula participa de encontro com empresários.
A embaixadora Gisela Padovan ressaltou que a visita à Bolívia é muito importante porque o Brasil está num esforço de reconstrução das relações bilaterais na região, que foram abandonadas em grande parte durante o governo anterior. “A Bolívia é um país importantíssimo para nós", finalizou a embaixadora.