Jair Bolsonaro (PL) teve um ataque de fúria ao provar do próprio veneno, revelado no relatório da Polícia Federal (PF) que escancarou a estrutura da Organização Criminosa montada pelo ex-presidente na Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que ficou conhecida como Abin Paralela.
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O ex-presidente teria surtado e reagido aos berros ao se deparar com a informação de que o então chefe da Abin, Alexandre Ramagem (PL-RJ) - fiel escudeiro do clã desde a campanha de 2018 -, teria feito uma gravação de 1 hora e 8 minutos da reunião em que ele tratou com o general Augusto Heleno para "achar podres e relações políticas" dos agentes da Receita Federal (RF) responsáveis pelo relatório que identificou o esquema de corrupção das "rachadinhas" no gabinete de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
Segundo a PF, a reunião entre o "então Presidente da República Jair Bolsonaro, GSI Augusto Heleno e possivelmente advogada do senador Flávio Bolsonaro" foi "possivelmente gravada pelo Del. Alexandre Ramagem".
"Neste áudio é possível identificar a atuação do Del. ALEXANDRE RAMAGEM indicando, em suma, que seria necessário a instauração de procedimento administrativo contra os auditores da receita (Escor07) com o objetivo de anular a investigação, bem como retirar alguns auditores de seus respectivos cargos", diz o relatório.
A apreensão e a fúria de Bolsonaro se dá porque a PF ainda não divulgou o conteúdo da reunião de 25 de agosto de 2020 - transcrito na IPJ N° 2404151/2024.
Segundo informações de Bela Megale, aliados teriam dito que Bolsonaro reagiu aos gritos e mostrou indignação por ter sido alvo da arapongagem por ele próprio para investigar desafetos, jornalistas, adversários e até aliados políticos.
Em meio ao ataque de fúria, Bolsonaro teria questionado como o chefe da Abin grava um presidente, em mais um arrombo de soberba.
A fúria de Bolsonaro se dá porque a divulgação do conteúdo pode colocar em xeque a estratégia de defesa, de montar uma narrativa "generalizada sem especificar com detalhes" as provas obtidas pela PF nos diversos inquéritos que o investigam.
A estratégia passa por profundar a propagação da narrativa vitimista, mantendo a horda de extremistas mobilizada para criar caos político, caso seja preso.
No entanto, o conteúdo da reunião em que pede pessoalmente para a Abin "achar os podres" dos servidores da Receita para interferir na investigação sobre corrupção contra o filho pode provocar uma hecatombe e atingir até mesmo os radicais que o apoiam.
Nesta quinta-feira (11), após a divulgação da informação, Flávio Bolsonaro tentou minimizar o caso, dizendo que "nada mudou no Rio" - em relação à candidatura de Ramagem à prefeitura com o apoio do clã - e que a PF faz "tempestade em copo d’água".
"Nada mudou no Rio. Temos a convicção que estão fazendo tempestade em copo d’água. Não tem nada de ilegal ou errado de toda essa situação envolvendo a Abin. Temos a consciência de que, diferentemente do atual governo, não usamos o aparato público para perseguir opositores político", disse o senador a'O Globo.
No entanto, a declaração é uma forma do próprio Flávio tentar colocar panos quentes na situação que ele mesmo criou.