PARANÁ

Privatização das escolas: Ratinho Jr. inicia perseguição e pune educadores que foram contra a medida

Enquanto bolsonaristas perseguem estudantes, o governador está afastando todos os servidores que foram contra projeto de entrega das escolas públicas

Ratinho Jr., governador do Paraná.Créditos: Marcos Corrêa/PR
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Servidores que se opuseram ao projeto de privatização das escolas públicas estão sendo perseguidos e destituídos do cargo pelo governo bolsonarista do Paraná. Carmen Lucia de Souza Pinto, diretora do Instituto de Educação de Ponta Grossa, que se opôs à recentemente aprovação, foi afastada da função pela Secretaria de Educação (SEED) do governo de Ratinho Júnior (PSD-PR) nesta quinta (6).

Além dela, a diretora Regina de Oliveira Guilherme, do Colégio Ary J. Dresch, de Nova Londrina, também vem sendo sondada pelo governo após participar da greve dos professores contra a privatização das redes de ensino.

O servidor Cleder Mariano Belieri seria um dos designados para investigar a instituição de ensino de PG, segundo um documento do Núcleo Regional de Educação de Loanda. No texto, o posicionamento de Regina de Oliveira é criticado e registrado para “análise e parecer referente aos fatos” e informa que “aguarda orientação quanto às providências a serem adotadas.”

Protocolo do Estado do Paraná que critica o posicionamento de Regina de Oliveira Guilherme. Crédito: Reprodução/Arquivo

Há apenas dois dias atrás, Ratinho Jr. pediu a prisão da presidenta APP-Sindicato, a professora Walkiria Olegário Mazeto, através da Procuradoria Geral do Estado do Paraná. Segundo o órgão, a professora descumpriu medida judicial ao convocar a greve que luta contra a privatização das escolas públicas paranaenses. 

Um servidor, que preferiu não ser identificado, ainda informou à Fórum que outro educador que se manifestou contra a proposta também foi destituído.

“Tiago Sato é um professor formado. Ele tem uma turma na segunda e na quarta. Na segunda e na quinta, ele estava de greve e hoje ele teria uma turma de formadores. Após isso, eles fizeram uma reunião com ele às 15h30 da tarde e agora ele não é mais professor formador, tiraram ele. Tem mais uma pessoa no nosso grupo que falou que também já foi mandado embora”, revelou.

‘Defender o que acredito’

Em um vídeo publicado no X, antigo Twitter, Carmen de Souza Pinto se pronunciou sobre a decisão arbitrária de desligamento do cargo pelo governo e reforçou que vai continuar na luta contra a privatização e compromissada com a defesa da educação pública. “A chefe do Instituto de Educação acabou de me chamar me passando uma resolução 3345/2024, onde me afasta definitivamente da função de diretora, certo? Eu não sou mais diretora do instituto por conta do meu posicionamento, por conta de algo que eu não podia deixar de fazer e não deixaria de forma alguma de deixar de falar, de defender o que eu acredito”, declarou a servidora.

“Estou em paz e estou tranquila. Estou só comunicando a todos que amanhã eu já não virei, já estou afastada. Não fico assustada, porque eu defendi uma causa. Já tinha falado que com certeza eu perderia meu cargo e foi o que aconteceu. Na greve, quando eu estava com o José Elias como interventora, eu fiz o mesmo, mas não perdi o meu cargo. O que eu acredito é em uma escola pública sem privatização.” 

Assista ao vídeo:

Na resolução que destituiu a diretora eleita democraticamente pela comunidade escolar, a SEED informa que a servidora India Mara Merces Bueno assumirá a diretoria por tempo indeterminado. Veja o documento: 

Resolução de destituição de Carmen Lucia de Souza Pinto. Crédito: Reprodução/Arquivo

Privatização aprovada sob repressão a professores

Uma onda de protestos, descontentamento e manifestações contra a privatização das escolas públicas, têm sido feita por professores, funcionários e alunos no Paraná. A resistência ao projeto de privatização foi evidenciada em um protesto contra Marcelo Rangel (PSD), que é pré-candidato a prefeito de Ponta Grossa. O evento culminou na notável ausência do governador Ratinho Junior, que aparentemente temia a reação dos manifestantes.

Após repressão violenta em manifestação de professores contrários ao projeto de privatização de 200 escolas públicas, a Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) aprovou a proposta do governador Ratinho Júnior na tarde do último dia 3 de junho. A votação ocorreu em 1º turno e foi feita de forma online após os professores ocuparem a Casa Legislativa para tentar impedir a sessão. 

Permaneceram no plenário apenas parlamentares da oposição. O projeto teve 39 votos a favor e 12 contrários. O projeto prevê a criação do programa "Parceiro da Escola" e repassa a verba que seria destinada às escolas públicas para a iniciativa privada, que passará a ser responsável pela parte administrativa e de infraestrutura das 200 escolas.Contrários ao projeto, os professores anunciaram greve e manifestação. 

Os atos aconteceram tanto na capital, Curitiba, onde cerca de 20 mil pessoas compareceram, segundo a Associação dos Professores do Paraná (APP Sindicato), quanto nas cidades dos interiores. “Quero agradecer a todos e todas que estão aqui e aqueles e aquelas que estão espalhados por este estado inteiro em paralisação, em ato, na defesa da nossa escola. Não podemos permitir que o governador pegue o nosso dinheiro e dê para o empresário”, disse a presidenta da APP, Walkiria Mazeto.