MARIELLE FRANCO

Marielle: Rivaldo cita mensagem misteriosa de chefe do Exército e envolve Braga Netto

Chefe da Polícia Civil durante intervenção e no assassinato de Marielle, Rivaldo Barbosa diz que general Richard Nunes, atual chefe do Estado Maior do Exército que era subordinado a Braga Netto, enviou mensagens e "mandou apagar".

Os generais Walter Braga Netto (à esquerda) e Richard Nunes..Créditos: Tânia Rêgo/Agência Brasil
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Ouvido em depoimento pela Polícia Federal (PF) na última segunda-feira (3), após insistir com Alexandre de Moraes, o delegado Rivaldo Barbosa citou mensagens misteriosas recebidas do atual chefe do Estado Maior do Exército, general Richard Nunes, antes do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, em 14 de março de 2018, quando foi convidado a assumir o cargo de chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro.

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À época, Richard Nunes atuava como era secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, sob ordens do então interventor, general Walter Braga Netto,  ex-ministro da Defesa e candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro nas eleições de 2022. 

No depoimento, Barbosa diz que conversava com Marielle por aplicativo de celular e que "estava na igreja e recebeu um WhatsApp do general Richard, seguido de um pedido para apagar tais mensagens".

O delegado afirma ainda que Richard Nunes telefonou para ele em seguida, o convocando para uma "reunião ma ESG" (sigla de Escola Superior da Guerra). No encontro, no início de março, Rivaldo diz ter recebido o convite para que assumisse o comando da Polícia Civil fluminense.

À PF, Barbosa disse ainda que "conheceu o general Richard na ocasão em que ele era chefe de missão no Complexo da Maré", quando teria solucionado o homicídio de um cabo no local.

O delegado ainda afirma que o general teria feito uma indicação "técnica" de seu nome para assumir o posto de "01" da Polícia Civil, mesmo contrariando parecer do delegado Fábio Galvão, então subsecretário de inteligência. O trecho do depoimento foi divulgado pelo site GGN, de Luis Nassif.

Em entrevista ao Estadão em março deste ano, Nunes se mostrou contrariado com a investigação da PF sobre o assassinato de Marielle e Anderson, e tentou blindar Braga Netto da indicação do delegado para comandar a Polícia Civil.

"Em relação ao que tem saído sobre o meu nome, sobre a nomeação do Rivaldo, é o que eu já disse, claramente: a responsabilidade é minha, de mais ninguém”, disse ao Estadão.

“Rivaldo era o chefe da divisão de homicídios da Polícia Civil do Rio de Janeiro. Um delegado que tinha, talvez, a maior visibilidade entre os delegados da Polícia Civil e uma folha de serviço prestado bastante considerável. Um nome respeitado que foi muito bem aceito por toda a sociedade. Então, à época, era isso que eu tinha. Aceitou o convite e cumpriu a missão dele. Era tão respeitado que foi respeitado pela família da Marielle, que ele conhecia, e pelo próprio Marcelo Freixo. O mais, é muita especulação, muita coisa que não tem sentido. É tentar querer vestir uma roupa de 2024 em 2018?, emendou, mostrando irritação.

Braga Netto e Exército na cena do crime

A citação a Richard Nunes, que foi nomeado por Lula como chefe do Estado Maior do Exército, recoloca Braga Netto e as Forças Armadas na cena do crime.

General da reserva do Exército desde 29 de fevereiro de 2020, quando entrou definitivamente para a política partidária, e candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro (PL) em 2022, depois de comandar os ministérios da Casa Civil e da Defesa, Walter Souza Braga Netto foi nomeado interventor na segurança pública do estado do Rio de Janeiro pelo golpista Michel Temer (MDB) no dia 16 de fevereiro de 2018.

Menos de um mês depois, em 14 de março do mesmo ano, o ex-sargento da Polícia Militar (PM) Ronnie Lessa efetuou os 13 disparos com a submetralhadora MP5, furtada de um batalhão do Bope, a força de operações especiais da PM fluminense, durante um incêndio, segundo o também ex-PM e comparsa no crime Élcio Queiroz. Antes disso, Lessa já planejava assassinar Marielle e não foi, nem um pouco, intimado pela presença de fardados na capital fluminense.

Na data do assassinato, Braga Netto exercia "o controle operacional de todos os órgãos estaduais de segurança pública previstos no Art. 144 da Constituição e no Título V da Constituição do Estado do Rio de Janeiro”, incluindo as polícias civis e militares, que já se encontravam sob seu comando.

No comando da intervenção na segurança pública fluminense, Braga Netto poderia solicitar a qualquer momento informações sobre as investigações em curso – assim como quando esteve à frente da Casa Civil e do Ministério da Defesa.

Mas um pacto de silêncio é mantido por ele e por militares que estiveram a seu lado durante a intervenção. E que foram agraciados com cargos nos últimos anos, quando o fascismo miliciano tomou o poder de assalto no país.