ENTROU MUDO, SAIU CALADO

Campos Neto faz defesa aberta do “mercado” em Lisboa e sai sem falar à imprensa

Presidente do BC, garantidor maior dos juros astronômicos no Brasil, falava como se fosse líder de um grupo de investidores. Criticou gastos públicos, mas não citou governo Lula

Roberto Campos Neto (ao centro), no 12° Fórum de Lisboa.Créditos: Henrique Rodrigues/Revista Fórum
Escrito en POLÍTICA el

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, participou nesta sexta-feira (28) do último dia do 12° Fórum de Lisboa. O economista, um aliado de Jair Bolsonaro (PL), que advoga abertamente em favor do “mercado” e é o garantidor maior dos juros astronômicos no Brasil, seguiu a cartilha de sempre: um “economês” rebuscado para concluir que gastos e investimentos públicos pioram a saúde financeira do país, repetindo inúmeras vezes o dogma da “responsabilidade fiscal”.

Antes mesmo de dar início à sua participação na mesa de debate que aconteceria no grandioso auditório da reitoria da Universidade de Lisboa, a assessoria de Campos Neto já afirmou que ele não falaria uma só palavra à imprensa. Ao encerrar sua fala e sair, foi perseguido pelos jornalistas, mas reiterou que não responderia e ainda disse que tudo que havia proferido na conferência era de “caráter geral” e “não sobre o Brasil”.

“Claro que os mercados têm que operar de forma mais livre. Outro dia eu estava em uma reunião com vários banqueiros centrais e disseram assim: olha, as coisas estão bem porque os mercados estão absorvendo bem esse choque e esses juros mais altos. E minha primeira reação foi [de pensar] ‘o mercado tá absorvendo bem porque nós somos o mercado, a gente nunca teve tanto banco central no mundo com balanços tão grandes e negociando tantos títulos e obrigações dos mercados’... Então, no final das contas, o problema é quando você tem o setor público muito grande no mercado... Você tira a informação do preço, e a informação do preço no mercado é muito importante para quem faz política econômica, para entender de onde estão vindo os problemas”, afirmou Campos em sua intervenção.

Cada dia chafurdando no ninho bolsonarista, o presidente do Banco Central já teve até encontros amistosos e insuspeitos com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), o bolsonarista que possivelmente encampará uma corrida presidencial daqui a dois anos e meio pela extrema direita, uma vez que Jair Bolsonaro, seu padrinho, está inelegível.

Mesmo visto como um player no universo bolsonarista, Campos Neto rejeitou na quinta-feira (28) que esteja sendo sondado para ser ministro da Fazendo num eventual governo de Tarcísio se um dia o carioca que administra São Paulo se torne presidente.

“É importante dizer que eu nunca tive nenhuma conversa com o Tarcísio sobre ser ministro de nada. Eu nunca disse isso, nem o Tarcísio”, afirmou.