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Avanço do "PL da Fome" com ajuda da base aliada de Ricardo Nunes na Câmara constrange prefeito de SP

Vereadores da base aliada de Nunes votaram massivamente para aprovar em 1º turno o Projeto de Lei 445/2023, de autoria do vereador bolsonarista Rubinho Nunes, que institui multa de R$ 17 mil para organização ou grupo de cidadãos que promoverem a distribuição de comida

Avanço da "PL da Fome" com ajuda da base aliada de Ricardo Nunes na Câmara constrange prefeito de SP.Créditos: Ronaldo Silva/Ato Press/Folhapress
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A base aliada do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), na Câmara Municipal contribuiu massivamente para a aprovação, em primeiro turno, do PL (Projeto de Lei) 445/2023. A matéria dificultaria a distribuição de comida a pessoas em situação de rua vivendo na capital, instituindo multa de R$ 17 mil e a necessidade de cadastro. Apelidado de "PL da Fome", o texto de autoria do vereador bolsonarista Rubinho Nunes (União Brasil) causa constrangimento a Nunes, que se manifestou sobre o tema nesta sexta-feira (29).

Aprovado quinta-feira (27) pela Câmara, o PL 445/2023 impõe multa que seria aplicada a todos aqueles que descumprirem os requisitos descritos no texto do legislativo municipal.

O emedebista se viu obrigado a comentar a proposta apresentada por um de seus aliados mais próximos e chancelada pela maioria daqueles "vereadores que aprovam tudo aquilo que o prefeito manda para a Câmara", como costuma repetir em seus discursos o prefeito paulistano. "Cada vereador tem a sua prerrogativa de apresentar os projetos que achar que sejam corretos ou não. Lá [na Câmara dos Vereadores] tem meio que uma questão que é natural, que os projetos em primeira votação acabam sendo votados todos sem grandes discussões. Não sei se foi o caso desse, mas é uma cultura lá da Casa", disse o prefeito, ponderando que o PL poderia até ser vetado por ele.

Ainda de acordo com o "PL da Fome", uma pessoa física só poderá organizar e fazer doações se for autorizada pela Secretaria Municipal de Subprefeituras. Será necessário, segue o texto, cadastro junto à Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social com identificação de todos os voluntários envolvidos. Os doadores também ficarão responsáveis pela limpeza do local onde ocorrer a distribuição de alimentos, além de disponibilizar tendas, mesas, cadeiras, talheres, guardanapos e “demais ferramentas necessárias”.

Rubinho Nunes (União Brasil) é fundador do Movimento Brasil Livre (MBL) e tem liderado perseguição ao padre Júlio Lancellotti por suas ações com a população de rua da capital. O vereador bolsonarista avalia que o seu texto foi "mal interpretado".

Uma em cada quatro pessoas em situação de rua no Brasil vive na cidade de São Paulo, é o que aponta relatório anual do Observatório Nacional dos Direitos Humanos, do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. A capital do Estado mais rico do país tinha, em julho de 2023, quase 55 mil pessoas vivendo nas ruas.

Reações

A ativista Amanda Paschoal acionou o Ministério Público, a Defensoria Pública do estado e o Conselho Nacional de Direitos Humanos, nesta sexta-feira (28), contra o Projeto de Lei (PL) 445/2023, que multa quem doar comida à população de rua de São Paulo.

Na denúncia, Paschoal afirma ser “absolutamente inconstitucional e imoral que o Legislativo, ao invés de facilitar o acesso a um direito tão básico quanto à alimentação, restrinja de forma absurda, tentando, em verdade, criminalizar essa atividade”.

A ativista então solicita a abertura de um inquérito civil para acompanhar o avanço da proposta, além da realização de audiências públicas.