POR UM VOTO

Porte de maconha: De quem será o voto decisivo pela descriminalização no STF

Corte retoma julgamento com voto do ministro Dias Toffoli, mas decisão histórica deve ser tomada por Luiz Fux ou Cármen Lúcia

Porte de maconha está sob análise.Créditos: Domínio Público
Escrito en POLÍTICA el

Nesta quinta-feira (20), o Supremo Tribunal Federal (STF) retomou a votação sobre a ação que pode descriminalizar o porte e a posse de maconha para uso pessoal e definir critérios para diferenciar usuários e traficantes.

Com o placar 3 a 5 a favor da descriminalização, falta apenas um voto para que o Supremo determine que não é mais crime portar a planta para uso pessoal até determinada quantidade.

Na última votação, a palavra estava com o ministro Dias Toffoli, que pediu vista e interrompeu o julgamento. O mais provável é que o ministro faça um voto "meio termo" a fim de atender as demandas do Congresso Nacional, que julga uma PEC que criminaliza qualquer quantidade de drogas e foi aprovada no Senado

Assim, Toffoli deve votar contra a descriminalização, mas jogar para o Congresso a decisão sobre a quantidade que irá diferenciar traficantes de usuários. 

Por isso, os votos mais importantes nesse momento são os do ministro Luiz Fux e da ministra Cármen Lúcia, que se pronunciam logo após Toffoli e têm o poder de formar maioria a favor da descriminalização. 

Ao que tudo indica, a ministra Cármen Lúcia deve ser a responsável pelo voto que irá resultar em uma votação histórica no país. Por suas posturas anteriores mais progressistas, a ministra deve votar a favor da descriminalização

Em 2021, durante o evento Cannabis Affair, a ministra defendeu que a a descriminalização da maconha "é uma questão de saúde, não de polícia”.  “E quem porta droga e faz uso da droga não necessariamente comete um crime que pode ser tipificado e equiparado, por exemplo, a práticas que são realmente nocivas à sociedade e às pessoas, como o tráfico", acrescentou. 

Já o ministro Fux, por ser considerado mais conservador, deve votar contra a descriminalização. Havia o receio de que ele pedisse vista, assim como Toffoli, e novamente interrompesse a votação, mas o ministro garantiu que iria votar nesta quinta-feira. 

Veja como votou cada ministra até agora

Até o momento, votaram a favor da descriminalização:

  • Alexandre de Moraes;
  • Gilmar Mendes;
  • Edson Fachin;
  • Luís Roberto Barroso;
  • Rosa Weber.

Os votos contrários são de:

  • Cristiano Zanin;
  • André Mendonça;
  • Nunes Marques.

O ministro Flávio Dino não votará pois ele substituiu na Corte Rosa Weber, que já votou. 

Entenda o julgamento

O STF realiza julgamento sobre a descriminalização do porte de drogas para consumo próprio. A avaliação do tema foi iniciada em 2015 a partir da análise da constitucionalidade do artigo 28 da Lei de Drogas (Lei 11.343/2006), baseado em um fato concreto de prisão por porte de 3 gramas de maconha. 

Apesar do julgamento tratar do porte de drogas como um todo, os ministros que votaram a favor da descriminalização o fizeram apenas com relação à maconha. 

O STF, porém, não vai "legalizar a maconha" ao final do julgamento. Isso porque descriminalizar o porte para consumo pessoal não significa a legalização total, visto que a produção, venda e distribuição de maconha ou de qualquer droga seguem proibidos no Brasil. 

O efeito prático, caso o porte para consumo próprio seja, de fato, descriminalizado, seria apenas impedir que pessoas flagradas portando pequenas quantidades de maconha, desde que comprovado que é para uso pessoal, sejam penalizadas. Atualmente, a Lei de Drogas considera crime adquirir, guardar e transportar entorpecentes para consumo pessoal e prevê penas como prestação de serviços à comunidade.

A interpretação do que é quantidade para "consumo pessoal" e o que configura tráfico, entretanto, é feita, a princípio, pelas polícias, que recorrentemente consideram pretos e pobres como traficantes e pessoas brancas, de classe média ou alta como usuários. O julgamento do STF, portanto, atacaria este cenário e definiria, exatamente, qual a quantidade de droga que pode ser considerada para uso pessoal.