Em editorial em defesa de Roberto Campos Neto nesta quarta-feira (19), o jornal O Globo, porta-voz político da família Marinho, afirmou que "não tem cabimento" Lula chamar o presidente do Banco Central, indicado por Jair Bolsonaro (PL) e apoiador de primeira hora do ex-presidente, ser chamado de "bolsonarista".
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"No que diz respeito a seu papel como presidente do BC, contudo, a acusação de “bolsonarista” não tem cabimento", diz O Globo, listando o que, segundo ele, seriam subsídios para dizer que Campos Neto atua com "independência e foco no combate à inflação".
Entre os motivos alegados para dizer que Campos Neto não é bolsonarista, O Globo cita a taxa Selic em 13,75% no final do governo Bolsonaro, usada justamente para favorecer o sistema financeiro e os banqueiros, apoiadores do ex-presidente e da política econômica neoliberal de Paulo Guedes.
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No entanto, o jornal da família Marinho comete um erro cabal: Lula disse que Campos Neto "tem lado político" e não que é bolsonarista. E esse "lado político" inclui a mídia liberal, que hoje busca em Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) o candidato para a chamada terceira via.
"O presidente do Banco Central que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país do que para ajudar o país, porque não tem explicação a taxa de juros do jeito que está", disse Lula.
O presidente, inclusive, inclui a mídia nesse "lado político", citando a "guerra histórica" sobre o que é considerado gasto e investimento.
"Eu fiquei impressionado porque normalmente você tem uma guerra histórica entre setores dos meios de comunicação e do mercado sobre a questão da utilização dos recursos do orçamento. E eu tenho uma divergência profunda e até conceitual sobre que é gasto e investimento", afirmou o presidente.
O Globo, por exemplo, considera "gasto" o orçamento destinado para saúde, educação e aumento real do salário mínimo, que impactam diretamente na vida dos mais pobres. E deixa isso claro no mesmo editorial ao dizer que Lula deveria "se preocupar" com o "ajuste fiscal".
"Os termos do ajuste ainda não estão claros, mas as prioridades deveriam ser duas: 1) desvincular das receitas os pisos de gastos em Saúde e Educação; 2) desvincular do salário mínimo os benefícios previdenciários", diz O Globo, ponderando que "não se trata de corte ou congelamento, apenas de calibrar o ritmo de crescimento das despesas para que, paulatinamente, caibam no Orçamento".
Em artigo paralelo no mesmo O Globo, Merval Pereira expõe a quem a família Marinho serve.
"Lula já disse que vai escolher alguém que não pense apenas na inflação, que pense no desenvolvimento do país. São critérios que farão o mercado ficar em dúvida", diz o "colonista" d'O Globo.
Pensar no desenvolvimento do país, como defendeu Lula no perfil que está escolhendo para presidir o BC, é tirar dinheiro de especulação do sistema financeiro para gerar capital produtivo, que resulte em empregos e renda.
"O presidente do BC tem que ser uma figura séria, responsável e imune aos nervosismos momentâneos do 'mercado'. Ele tem que dirigir a política monetária desse país levando em conta que a gente precisa controlar a inflação e crescer", afirmou.